Modinhas Cariocas: a m?sica popular h? dois s?culos Grupo dirigido por Marcelo Fagerlande interpreta obras consideradas er?ticas e ousadas para a ?poca; repert?rio ? lan?ado em CD comemorativo



Fernanda Fernandes
Rep?rter
16/07/2008

Provoca??o, erotismo e can?es populares tamb?m fazem parte do 19? Festival de M?sica Colonial Brasileira e M?sica Antiga. Pelo menos, o repert?rio que tinha essas caracter?sticas h? 200 anos.

Formado para registrar composi?es que faziam sucesso nos sal?es de Dom Jo?o VI, o grupo Modinhas Cariocas lan?a o CD hom?nimo (foto abaixo), gravado a convite da Prefeitura do Rio de Janeiro como parte das celebra?es pela vinda da Fam?lia Real Portuguesa.

O grupo ? formado por Luciana Costa e Silva (meio-soprano), Marcelo Coutinho (bar?tono), Paulo da Mata (flauta) e Marcus Ferrer (viola de arame), Marcelo Fagerlande (cravo), que assina a dire??o do trabalho.

Fagerlande pesquisa a m?sica brasileira h? muitos anos e teve a oportunidade de consultar a bibliografia sobre o assunto na Fran?a, em Portugal e no Brasil.

imagem da capa do CD Modinhas Cariocas Para o disco, o m?sico selecionou os mais importantes autores de modinhas do final do s?culo XVII e do in?cio do s?culo XIX: Joaquim Manoel Gago da C?mera, C?ndido Ign?cio da Silva e Gabriel Fernandes da Trindade. Os tr?s formam um painel popular e mulato do Brasil da ?poca, retratado no concerto que o juizforano vai conferir no do dia 17 de julho.

Joaquim Manoel ? a express?o m?xima do estilo e teve sua obra executada em Portugal, onde mereceu cita??o em um soneto do poeta Bocage ("A um celebre mulato Joaquim Manoel, grande tocador de viola e improvisador de modinhas").

Registro precioso

Ouvir tais modinhas hoje s? ? poss?vel gra?as a Sigismund Neukomm, austr?aco que veio para o Brasil com a corte de Dom Jo?o VI e cuja obra integra o repert?rio da Orquestra Barroca do Festival deste ano. Neukomm transcreveu v?rias composi?es, sendo respons?vel tamb?m pela divulga??o da m?sica brasileira na Europa.

"Ele tem um papel muito importante para a m?sica brasileira por ter registrado essas modinhas. Se ele n?o tivesse feito isso, a m?sica do Joaquim Manoel, que ? excelente, maravilhosa, teria se perdido, porque ele n?o sabia nem ler nem escrever m?sica. Os brasileiros devem a Neukomm uma parte importante do nosso passado musical", afirma Fagerlande.

Foto do de Marcelo Fagerlande do museu Isso porque boa parte das modinhas ? de tradi??o oral. Pessoas do povo, algumas vezes analfabetas, improvisavam melodias e versos. "Hoje muita gente considera a modinha como m?sica cl?ssica, mas, naquela ?poca, estava na fronteira entre o popular e o erudito, como Ernesto Nazareth, que est? no limite, num terreno delicado entre uma coisa e outra".

A escolha dos instrumentos e a maneira de interpretar foram cuidadosamente trabalhadas por Fagerlande. "Normalmente, as pessoas est?o acostumadas a ouvir modinha com voz e piano. Eu proponho uma interpreta??o com os instrumentos que eram mais citados na ?poca, justamente o cravo e a viola de arame", diz Fagerlande (foto).

Viola de arame ? a viola caipira, o instrumento que os modinheiros tocavam nas ruas, enquanto o cravo acompanhava as modinhas nos sal?es.

A flauta entrou para o grupo por ser muito encontrada na iconografia do per?odo e tamb?m por ser o instrumento do primeiro editor de modinhas do Rio de Janeiro. Paulo da Mata utiliza a flauta cl?ssica, que ? diferente da barroca e da flauta de prata, sendo confecionada em madeira e com dez chaves.

O sopro dialoga com as vozes e toca a melodia. Alguns n?meros s?o s? instrumentais. "Me preocupei em fazer uma dire??o em que os m?sicos tenham liberdade de ornamentar, fazendo varia?es. ? uma tentativa de abordagem livre, ? vontade. A improvisa??o faz parte da modinha, que n?o deve soar muito ensaiada, engessada. ? uma coisa espont?nea", explica.

Pancad?o de ?poca

Marcelo Fagerlande explica que a modinha trazia a p?blico fantasias amorosas, femininas sobretudo, em situa?es n?o muito aceit?veis para a ?poca. Ao longo do tempo, continuou sendo tocada e compositores recentes como Chico Buarque, Tom Jobim e Dorival Caymmi escreveram modinhas. Mas elas foram perdendo essa conota??o ousada e se tornaram uma m?sica singela, sentimental e bonita.

Hoje, a m?sica que teria ousadia e apelo er?tico como na ?poca ? o funk. "Podemos fazer um paralelo para que as pessoas saibam que a modinha era uma coisa forte para o per?odo, como o funk hoje em dia, mas obviamente n?o d? para comparar uma coisa com a outra".

O p?blico pode n?o conhecer essas modinhas - algumas, ali?s, s?o in?ditas -, mas ao ouvi-las ? poss?vel perceber um qu? familiar no repert?rio. V?rias frases est?o presentes em outras can?es e no imagin?rio popular.

O grupo Modinhas Cariocas apresenta-se no dia 17 de julho, ?s 20h30, na Igreja Nossa Senhora do Ros?rio (Rua Santos Dumont, 215). Confira a programa??o completa no site do Centro Cultural Pr?-M?sica.


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