Aline Maia Aline Maia 29/10/2011

Cidadania está na moda?

Cidadania está na modaNa sala de aula, na reunião do condomínio, na igreja, no ônibus, no trabalho, no debate na TV, no plenário do legislativo. Adolescentes, adultos e idosos de realidades culturais e econômicas distintas empunham em seus discursos a defesa da cidadania; assim como também o fazem os detentores do poder político e da produção intelectual dos meios de comunicação. É fato. É comportamento crescente. Atrelado à noção de direitos, o termo cidadania está presente na fala de diferentes grupos na atualidade.

Mas, será que todos estes atores sociais falam de uma mesma cidadania? Será que todos estes sujeitos que ocupam posições tão diversas - às vezes até antagônicas - na sociedade estão em busca de uma mesma cidadania? Num rápido exercício, perguntei a algumas pessoas o que, para elas, significa cidadania. Pedi que respondessem sem se preocupar com teorias, mas externando apenas o que lhes viesse à cabeça.

Uma experiente amiga de meia idade, moradora de um bairro da periferia de Juiz de Fora, atuante em movimentos religiosos e associação de bairro, logo desabafou: "A noção que tenho de cidadania é a de que todos temos direitos iguais perante a Constituição. Mas que direitos iguais nós temos? A cada dia eu desanimo mais quando, por exemplo, assisto o jornal e vejo a situação da saúde, dos idosos, das crianças, etc. Minha esperança é que estes jovens de hoje aprendam mesmo o verdadeiro sentido de cidadania para que futuramente tentem melhorar este nosso país e nossa cidade".

Na definição de um amigo de 28 anos, estudante de Administração em uma faculdade particular de JF, cidadania "é uma combinação de direitos e deveres". Ele ainda completou: "para eu realmente me sentir um cidadão devo, além de cobrar melhorias, fazer coisas, mesmo que pequenas. Cidadania é igual a responsabilidades".

Para mim, a opinião de um complementa a do outro. E para você? O que é cidadania?

Do latim civitas - que significa cidade -, cidadania é um termo originado na Grécia clássica e está relacionado ao surgimento da vida em sociedade. Sua prática perpassa a garantia de direitos civis (relacionados à posse e ao domínio do próprio corpo), sociais (que dizem respeito às necessidades humanas básicas, como saúde, educação e habitação) e políticos (referentes às escolhas do ser humano sobre sua própria vida, prática religiosa, política, etc.).

Estudando e participando de movimentos populares aprendi que cidadania também remete a deveres. Além de reivindicar, há sempre algo a cumprir para o pleno exercício da cidadania, principalmente no que diz respeito ao papel dos detentores do poder e das decisões que afetam o rumo das sociedades. No entanto, cabe destacar que cidadania - bem como seu exercício - não se limita apenas à confecção de leis que garantam os tais direitos e deveres aos cidadãos; mas abrange também o colocar em prática.

Participar é ação fundamental para a cidadania e para o estabelecimento de sociedades democráticas. Afinal, democracia é um estado de participação, conforme ensinou-me um amigo advogado, que também atua na defesa de pessoas com deficiência. Ele enfatizou: "A cidadania requer informação e participação, nessa ordem, para que possa ser plenamente vivida". Assim, não basta termos a simples apropriação do termo cidadania em nossos discursos. É bonito; é moda. Falar é fácil. Mas, também é preciso ter informação e disposição para a participação.

Direitos. Deveres. Informação. Participação. Práticas cidadãs. Não é tão simples como poderíamos imaginar. Para além de garantias e obrigações, o exercício da cidadania deve estimular ainda a perspectiva da crítica e do pensar contínuo a transformação social.

Nosso objetivo, nesta coluna, é trazer questões referentes à cidadania, à vida em sociedade, para estimular o debate e motivar a ação. Você é convidado a participar conosco. Acompanhe nossa coluna. Sugira temas: fatos do cotidiano, o papel dos meios de comunicação na promoção da cidadania, ações individuais ou coletivas, de anônimos ou não. O campo do debate está aberto.



Aline Maia é jornalista e professora universitária. Graduada e Mestre em Comunicação pela UFJF, tem experiência em rádio, TV e internet. Interessa-se por pesquisas sobre televisão, telejornalismo, cidadania e juventude.Também é atuante em movimentos populares e religiosos.