A relação das crianças com os meios de comunicação Educadores e família precisam colocar limites na relação da criança com a TV
Colaboração
22/05/2007
Educar os filhos sem deixar que eles se influenciem pelos maus exemplos da
televisão. Fazer prevalecer os ensinamentos de família, do professor contra
os dados passados pela entretenimento da TV ou dos meios de comunicação. Um
desafio para os pais e também para as escolas. O tema é discutido na IV Semana
da Arquidiocese de Juiz de Fora, com o tema: "As crianças e os meios de
comunicação: um desafio para educação"
.
Hoje, é comum que mães e pais passem mais tempo trabalhando do que em casa. Por
isso a escola passa a ter papel fundamental nessa história. A professora da
Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), Eliane Borges (foto abaixo)
destaca que o educador deve levar a criança a refletir e trazer situações
abordadas na TV para dentro da sala de aula. "A escola assim como a família
deve mediar essa relação criança e TV. Têm que discutir o assunto com a criança,
tentar fazê-la pensar se o que está na TV é mesmo o certo"
, destaca.
Importante lembrar que a TV também educa para o bem, mas, na maioria das vezes,
seu conteúdo é inadequado para as crianças. Mas não há um modo de proibir a
criança de ver uma programação. O ideal é ocupar o tempo delas com outras
atividades. "É importante os pais darem atenção para criança, fazer com que
elas brinquem com os amigos, contar histórias e sempre conversar para que elas
não absorvam o que vêem na TV como verdade absoluta"
, observa Eliane.
Conhecimento da linguagem
Segundo a professora, quanto mais conteúdo e questões a escola discutir com a
criança, melhor ela vai poder questionar os fatos que vê na TV. Deixar uma
filho alienado em relação à televisão e também à internet é prejudicial, pois restringe os
contatos humanos. "É o que eu chamo: tempo de máquina. Quanto menor ele for,
mais a criança tem a ganhar. Levar essa discussão da mídia para sala de aula é
cada dia mais importante. Claro que o aspecto de abordagem tem que variar de
acordo com a idade, mas fazer com que elas pensem sobre o que estão assistindo
é fundamental"
, destaca a professora.
O que não pode acontecer de forma alguma é a criança ficar horas sozinha na
frente da TV ou do computador.
"A TV só apresenta os assuntos, não reflete.
Criar uma criança com essa educação é um risco. Porque o grande objetivo é o
consumo, aí é que entra o papel do educador. O professor percebe quando uma
criança está falando algo da TV e nesse ponto ele deve intervir e gerar a
reflexão"
, reforça Eliane.
Para que isso aconteça, o profissional tem que estar preparado e entender da
linguagem televisiva. O professor deve buscar informação nas mídias, saber
como ela costuma recortar as notícias e como ela influi no mundo do consumo e
dita costumes. Para Eliane, hoje, os educadores sempre têm que estar preparados
para esse desafio. "O professor tem que conhecer a realidade dos meios de
comunicação e ser crítico em relação ao conteúdo que eles passam"
, ressalta.
Mesmo que a TV não seja a única responsável por essa situação, as novelas,
principalmente, são apontadas como um dos fatores fundamentais para o que
acontece hoje. Eliane destaca um estudo que fez sobre uma novela das 19h, da
rede Globo, Kubanacan. "Durante toda a novela, o personagem principal,
além de andar sem camisa o tempo inteiro, teve 32 amantes. Algo inadequado para
uma criança acompanhar"
, relata.
De acordo com Eliane são poucas as escolas que estão preparadas para isso e
mesmo quando estão. A coordenadora pedagógica de uma escola infantil da cidade,
Daniele Paixão da Silva, diz que tenta sempre promover o diálogo
com os pais sobre esse assunto, porque namoros e palavrões entre as crianças
têm ficado comuns. "Uma mãe me relatou que um filho de dois anos a xingou,
sem nem mesmo saber o que estava dizendo. Além disso, é comum ver crianças
novinhas já falando em namorar entre si. Nossa escola tem tentado ajudar para
mudar esse quadro"
, relata.
Daniele ressalta que os pais devem restringir o tempo dos filhos na TV e
mostrá-los também a importância de se fazer um dever de casa. "As crianças
têm que aprender valores desde cedo. O pai tem que saber ensinar e não pode
deixar de castigar o filho quando ele comete um erro. Nosso papel também é
acolhedor e por isso também ajudamos na educação da criança, mas colocar
limite nos filhos é essencial e responsabilidade da família"
, completa.
*Thiago Werneck é estudante de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora