Educação a Distância é ferramenta no acesso ao ensino
Crescimento dos cursos não-presenciais traz à tona a discussão
sobre as soluções para os problemas educacionais no Brasil
Colaboração
29/06/2007
Entrar em uma sala de aula já não é a principal atitude do estudante do século XXI. Nem por isso, o acesso à educação fica comprometido. Acompanhar as aulas pelo próprio computador é uma realidade para alunos de várias partes do Brasil. O número de estudantes matriculados em cursos a distância cresceu 54% no ano passado em relação a 2005, segundo os dados da terceira edição do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (Abraead). No total, são 778 mil alunos cursando o ensino acadêmico em Educação a Distância (EAD).
A fórmula que alia a tecnologia ao acesso à educação vem ganhando cada vez mais
espaço no universo acadêmico. Para o diretor geral do
Núcleo de Educação a Distância
(NEAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
professor Flávio Takakura (foto abaixo),
a democratização do acesso ao ensino e a fixação dos profissionais qualificados no
interior são os grandes êxitos da educação a distância. "A presença dessa classe é
fundamental para o desenvolvimento do interior, pois a existência dela fomenta as
atividades sociais e culturais, além de atrair grandes empresas, pela mão de obra
qualificada"
, alerta Takakura.
A expansão da EaD
O Governo Federal entrou nas discussões da Educação a Distância e, em 2005,
lançou o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Segundo o Ministério
da Educação (MEC), esse sistema é formado por instituições públicas de ensino
superior, que levarão ensino público de qualidade aos municípios brasileiros
que não têm oferta ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender
a toda população. Segundo dados da
Secretaria de Educação a Distância (Seed),
já existem 290 pólos presenciais instalados em todo o país. Os outros 174
aprovados no primeiro edital e que iniciarão suas atividades em 2007,
já começaram a ser inaugurados em junho.
Para o professor Flávio Takakura, o projeto do Governo Federal deve ser levado
à sério, pois representa uma ação institucional estruturada. Mas salienta que
algumas questões ainda devem ser melhoradas, como infraestrutura, legislação
e divulgação da UAB. Ainda segundo o professor, o grande desafio que a Educação
a Distância enfrenta é, justamente, o de quebrar as barreiras do preconceito e
da desinformação. "O grande equívoco cometido por uma vasta maioria da população,
inclua-se aí, muitos educadores, é de que cursos a distância são de qualidade
inferior aos presenciais; que são uma fábrica de diplomas"
, adverte Takakura.
Mas especialistas apontam que as dificuldades enfrentadas pelas duas modalidades
de ensino são iguais. A tutora do curso de Administração da UFJF, Sônia Mara Marques,
defende que no processo de educação não-presencial, o aluno é um dos principais
responsáveis pela qualidade do ensino. "O curso a distância democratiza o ensino,
flexibiliza o horário de acesso às aulas e dá todo o suporte ao aluno. Mas se ele
não tiver o mínimo de disciplina não dá certo. Pretendemos formar cidadãos
habilitados a trabalhar com competência"
,
afirma a professora.
Democratização do ensino
"As atividades educacionais a distância permitem a flexibilização de local e tempo. As tecnologias são aliadas nesse processo, mas o desafio é proporcionar a democratização da educação de qualidade", afirma o professor José Aravena Reyes (foto), um dos coordenadores do NEAD.
Outro coordenador do Núcleo de Educação a Distância da UFJF, professor
Mauricio Aguilar Molina (foto), acredita que a qualidade não é um atributo que
nasce espontaneamente, mas é o resultado de ações específicas que precisam
do engajamento da instituição como um
todo. Nesse sentido, ainda segundo o professor, é preciso que exista um consenso
em torno do que é a qualidade e como ela pode ser alcançada, o que passa por um
diálogo amplo
entre todos os setores que se dispõem a atuar em EaD. "O NEAD, dentro do seu
planejamento, está realizando ações que visam, primeiramente, informar sobre
as oportunidades que oferece a EaD e, depois, das ações necessárias para que
um projeto de EaD possa ter sucesso"
, esclarece Maurício.
Apesar de todos os avanços que a Educação a Distância encontra no cenário atual,
Maurício acredita que ainda há muito esforço a ser feito para que as barreiras
sejam superadas. "Evidentemente que as pessoas são o elo fundamental. Sem uma
preparação para a EaD de todos os atores do processo, não há qualquer chance de
um projeto dar certo"
, conclui.
*Guilherme Arêas é estudante de Jornalismo da UFJF