Juizforano quer jogar na Seleção Brasileira de Futebol de 5Carlos Cristiano Paradello integrou a seleção mineira nas Paraolimpíadas Escolares e levou a medalha de ouro na competição

Clecius Campos
Repórter
14/9/2010

Os pontos em alto relevo na medalha de ouro formam a sigla CPB e o número 2010, em braile. CPB de Comitê Paraolímpico Brasileiro e 2010 do ano em que o atleta juizforano Carlos Cristiano Paradello foi campeão das Paraolimpíadas Escolares, na modalidade Futebol de Cinco. O objeto é carregado com orgulho pelo jovem de 17 anos, que tem o sonho de ser jogador da Seleção Brasileira.

"Ainda preciso aprender muito, ganhar resistência e melhorar minha condução de bola. Os melhores jogadores do mundo começaram cedo, jogam desde pequenos. Mas também sou novo. Quando estiver com 25 já vou estar um craque", aposta o atleta que atuou na defesa da equipe de Minas, a menos vazada das Paraolimpíadas Escolares, com apenas quatro gols sofridos — sendo dois por cobrança de pênaltis — e 31 a favor.

A evolução no Futebol de Cinco é buscada por meio dos treinamentos com a equipe Visão no Esporte, que tem os trabalhos amparados pela Associação dos Cegos e pela Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). O projeto reúne os atletas três vezes na semana, sob o comando do treinador Leonardo Lima. "Um dos dias é dedicado aos treinos físicos, que dão resistência. O Léo é um ótimo treinador e com o apoio dele, de toda a equipe e, com a ajuda de Deus, espero ganhar ainda muitas medalhas, inclusive a Olímpica." A próxima conquista pode chegar em breve. No início de outubro, o time Visão no Esporte disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, na cidade de Anápolis (GO).

As competições são encaradas como alimentos para os sonhos de Paradello. "São grandes as chances de alcançar nossos objetivos. Todos temos sonhos e temos que lutar para chegar no ouro, que não é só o olímpico, mas a realização de outras coisas. Quero me formar em Direito e também em análise de sistemas. As conquistas mostram que podemos realizar qualquer sonho."

"Cego jogar bola? Não tem jeito"

Antes de começar no esporte, nem passava pela cabeça de Paradello jogar futebol. "Eu pensava: Cego jogar bola? Não tem jeito. Achava que era chato, parado. Mas depois percebi a dificuldade do jogo e como é movimentado." O atleta perdeu a visão aos oito anos, após um acidente. Ele, que costumava jogar bola e assistir às partidas na televisão, afirma que o jogo para os deficientes visuais é muito mais difícil. "As regras tornam o jogo mais rígido. É preciso ter muita atenção para ouvir o parceiro, o adversário se aproximando, o chamador e a bola [que possui um guiso]."

Foto do Futebol de Cinco Foto do Futebol de Cinco

A noção espacial também tem que ser aprimorada. "O futebol ajuda a ter a noção do espaço, já que nos movimentamos pela percepção. Isso ajuda na locomoção, na postura e na coordenação motora." A maior conquista, porém, é o laço de amizade com os outros atletas que integram o time. "Temos que ter amizade e respeito pelos colegas e pelos adversários. A comunicação dentro de quadra tem que ser perfeita e fora dela tem que ser amistosa. O apoio de um ajuda o outro a continuar, mesmo com as dificuldades."

A continuidade do esporte depende da chegada de mais atletas. Paradello espera que a conquista nas Paraolimpíadas Escolares possa atrair o interesse de outros deficientes visuais para o Futebol de Cinco. "Alguns ficam preocupados em se machucar, acham perigoso. O esporte é bem organizado e a prova de que é sério são os campeonatos e as medalhas. Para nós, qualquer novo membro que chegar para jogar conosco será comemorado como se fosse dois. Assim montamos uma equipe melhor, com mais opções de escalação e mais chance de vencer."

Ele espera também que o esporte seja mais divulgado. "O ideal é que os jogos fossem transmitidos. Precisamos do apoio de todos para mostrar que o Futebol de Cinco não é só diversão. É um esporte sério, que ajuda os atletas e traz medalhas para o Brasil." A seleção brasileira de Futebol de Cinco é tricampeã mundial e levou a medalha de ouro nas últimas Paraolimpíadas, em Pequim.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken