Terça-feira, 21 de agosto de 2018, atualizada às 17h

Musicoterapia associada à educação auxilia no desenvolvimento infantil

Angeliza Lopes
Repórter

Se a música é tão poderosa a ponto de influenciar a reação e os sentimentos de bebês antes mesmo deles nascerem, imagina o que ela faz durante o desenvolvimento de uma criança. A musicoterapia utiliza a música e seus elementos musicais - som,ritmo,melodia e harmonia beneficiando as crianças a nível físico, emocional, social e cognitivo, podendo ser terapêutica ou educacional.

A psicóloga e musicoterapeuta Denise Azeredo trabalha há quase 20 anos com a musicoterapia voltada para educação em escolas, além de atender em consultório e clínicas especializadas para criança e na Fundação Ricardo Moysés Júnior, como voluntária. Ela diz que a música é um meio facilitador do aprendizado. “Os objetivos gerais são abrir canais de comunicação, restabelecer as funções emocionais, motoras, desenvolver a fala, linguagem e promover  a autoestima. Cada criança é uma. Quando elas vêm para o tratamento, fazemos uma entrevista com a família para saber o que estão buscando, qual o diagnóstico, assim eu traço o processo terapêutico para o paciente”.

A musicoterapeuta diz que é importante entender que trabalhar com a música como ferramenta terapêutica é completamente diferente da educação musical. A estética não é o foco principal, mas sim, toda a história que a criança tem com um instrumento ou ritmo. “Ao tornar a música e seus elementos um recurso educacional, colocamos  a criança em contato com um meio lúdico onde ela passa experimentar e vivenciar a linguagem musical como um facilitador, para alcançar o seu crescimento intelectual, cognitivo, emocional e social, contribuindo para seu aprendizado”.

Os conteúdos psíquicos e emocionais serão representados pelo fazer musical com pacientes que podem ser ativos ou passivos à própria música. “Eu posso fazer música com a criança ou ter alguma técnica de audição musical, como de improvisação, composição, recriação, estimulação, tudo dentro do processo musicoterápico da área”, explica, complementando que, por este motivo, apenas musicoterapeutas com especialização em musicoterapia ou graduação estão preparados para atuarem nesta profissão. “Um músico não está preparado para ter esta visão, ele ensina dentro de uma linha pedagógica, já musicoterapia pode estar associada à educação, mas principalmente ao contexto da terapia”.

Desde a gestação

Não existe limite de idade para começar a terapia com o auxílio de sons e ritmos. Denise conta que é possível trabalhar com grupo de mulheres ainda gestantes, pois a música atua de forma positiva no bebê mesmo dentro da barriga. Na faixa de 1 a 3 anos, a criança fará atividades junto com as mães em grupos de até 10 pessoas. “Atuo com atividades lúdicas associadas a instrumentos musicais, histórias contadas, com temas diversos para desenvolver área emocional, cognitiva e motora. Se um grupo está aprendendo marcha, vamos trabalhar com o ritmo usando, por exemplo, a música 'Marcha Soldado'”, detalha.

Na área educacional, o grupo pode ser diverso, já que o objetivo terapêutico é comum a todos. Assim, a atividade também se torna uma oportunidade de socialização e integração daquela criança com as outras. A única contraindicação que existe dentro da musicoterapia, conforme explica a profissional, são em casos diagnosticados somente de epilepsia musicogênica. Alguns gêneros musicais muito acelerados e fortes  podem desencadear o processo.

Instrumentos

Cada conjunto de instrumento de percussão, harmônicos e de sopro auxiliam em um processo terapêutico dentro da musicoterapia. Denise Azeredo explica que o uso de cada um vai depender da história musical daquele paciente. “Todos têm lembranças das mães cantando cantigas de ninar. Qual contexto social e cultural ela está inserida? Também tento resgatar o folclore, brincadeiras musicais, contos, tudo com o auxílio da ludoterapia”.

A terapeuta diz que usa o violão para a harmonização e muitos instrumentos dentro da percussão como o pau de chuva, tambores, bongôs, caxixi, chocalhos, reco-reco, pandeiro.

A própria tecnologia tem auxiliado no trabalho. O teclado virtual no tablet é um exemplo. Denise diz que as estimulações sonoras gravadas também ajudam em alguns processos do trabalho terapêutico, como sons de animais, meio de transporte, corporais, além de opções de jogos sonoros, brinquedos sonoros e fantoches que tenham som.

Musicoterapia voltada para a saúde

Para área da saúde, a musicoterapia oferece benefícios para crianças com paralisia cerebral, autismo, distúrbios neurológicos, dificuldade de aprendizado, dificuldade de comportamento, depressão, ansiedade, estresse pós traumático. (Leia também: Música ajuda tratar problemas físicos, emocionais e mentais)

Denise destaca que qualquer pessoa que tem alguma dificuldade de relacionamento, timidez, pode ser tratada com música. “Na terapia o psicólogo é agente secundário, já na musicoterapia as músicas e as relações musicais são primárias no tratamento”.

Regulamentação

Até hoje, profissionais da área lutam para a regulamentar a profissão. Mas, independente da normativa, os musicoterapeutas já conseguiram se organizar através da União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM) e as Associações representativas em cada Estado. Outro avanço foi a conquista do Código Brasileiro de ocupação (CBO), o que oportunizou a musicoterapia entrar no rol de terapias alternativas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Denise acrescenta que também já atende pacientes que conseguiram atendimento pelo plano após entrarem na Justiça. “A musicoterapia não está no rol de terapias complementares da ANS, mas mesmo assim já temos pacientes que conquistaram o direito na Justiça. Este avanço mostra a importância do nosso trabalho”.

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