Matem o juiz!

Ailton Alves Ailton Alves 23/06/2008

No pr?ximo s?bado, dia 28, o glorioso Villa Nova Atl?tico Clube, fundado por ingleses da Mina do Morro Velho em Nova Lima, completa 100 anos de hist?ria. Neste s?culo de exist?ncia foram muitos os confrontos com o Tupi. Os carij?s que j? se foram contaram aos netos sobre as duas confusas partidas pelo campeonato de 1933, quando o Galo foi vice e o Le?o do Bonfim campe?o mineiro.

Os mais velhos se recordam das duas memor?veis batalhas pelo campeonato brasileiro da S?rie B em 1971. E os mais novos ainda mant?m vivas na mem?ria as cenas da estr?ia de M?ller no Tupi, em janeiro de 2003, na vit?ria alvinegra por 3 a 1, debaixo de muita chuva.

Imagem ilustrativa O Tupi x Villa Nova de minhas reminisc?ncias ? o de um s?bado de Carnaval, num campeonato da segunda metade da d?cada de 80. Foi no dia em que um grupo de torcedores, este que vos fala inclu?do, contrariando nossa forma??o humanista, queria matar o juiz.

O Tupi vencia at? aos 40 minutos do segundo tempo quando Silvano, o zagueiro do Galo, cortou a bola com a m?o dentro da grande ?rea. P?nalti que o ?rbitro marcou sem hesitar e o time de Nova Lima converteu.

Aquilo nos deixou irritados. No bar, ap?s o jogo, lament?vamos o p?nalti e a vit?ria que escapou pelos dedos, quando algu?m teve a sinistra id?ia. T?nhamos que fazer alguma coisa para que nunca mais um "ladr?o" enviado pela Federa??o Mineira de Futebol viesse nos "roubar", principalmente no Est?dio do Sport, Avenida Rio Branco, no cora??o da cidade. Algu?m tinha que pagar e servir de exemplo aos "gatunos" do futuro.

?ramos ainda jovens - s? tal condi??o explica o absurdo da id?ia ter ido adiante - e preg?vamos uma revolu??o ampla, geral e irrestrita, que nunca veio. Come?amos ent?o a planejar. O plano A n?o foi levado a s?rio, pois previa dar cabo do juiz no vesti?rio do Est?dio. Ningu?m estava disposto a voltar ao local do jogo - mesmo porque isso implicaria em abandonar a cerveja. O plano B era perigoso. A proposta era cercar o ?rbitro na rodovi?ria, local onde hoje os bombeiros esperam os avisos de inc?ndios - e isso nos levaria certamente ? pris?o.

O plano C n?o chegou a ser esbo?ado. Antes de qualquer id?ia adentrou no recinto o alvo da nossa ira. Era um homem forte e estava com cara de poucos amigos. Todos que estavam no bar provavelmente tinham assistido ao jogo ou ent?o ouviam nossa conversa, pois se fez sil?ncio absoluto. T?o cerrado que todos ouviram o novo fregu?s gritar para o dono do boteco: "Uma ?gua mineral, sem g?s, por favor".

Nunca confessei, com medo que me rotulassem de covarde, mas admito hoje: naquele dia o "ladr?o" me empurrou com o cotovelo para chegar at? ao balc?o.

Jamais na hist?ria algu?m tomou uma ?gua mineral observado por tanta gente. E ele n?o foi importunado. Ningu?m teve coragem de fazer um m?sero questionamento, um "Por que vossa senhoria marcou aquele p?nalti?" que fosse. Ele tomou a sua ?gua sem g?s, pagou e foi embora em dire??o ? rodovi?ria.

N?s, os ex-futuros assassinos nos olhamos e, para n?o admitir nossa covardia, concordamos: "Ele apitou muito bem a partida". E passamos a despejar toda a nossa ira em cima do zagueiro do Tupi, que, afinal, n?o tinha nada que meter a m?o na bola, naquele p?nalti muito bem marcado pelo juiz.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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