Ailton Alves Ailton Alves 8/3/2010

O que é Avatar perto do Tupi?

Um avatar com a bandeira do TupiÀ medida que os anos passam, vou emburrecendo. Isso não me incomoda mais, pois sei que a inteligência nos dias de hoje não tem tanto valor assim e também porque é um processo inexorável, assim como o tempo. Portanto, não sei mais, por exemplo, o que vem a ser Avatar (como nunca soube o que vinha a ser os filmes em série denominados Matrix – outra prova da minha indigência intelectual). E não consigo entender porque um filme sobre um batalhão do exército norte-americano promovendo uma guerra ao terror desarmando bombas faz tanto sucesso.

Mas (interessa a ninguém, eu sei) sou de um tempo em que o Oscar era disputado por outros filmes, outros atores e principalmente personagens reais – e não um bando de seres esquisitos, montados em bichos esquisitos, sendo mostrados a nós em 3D, com 300 ou 400 efeitos visuais e sonoros.

Pensava nisso, na minha decadência e incapacidade de acompanhar as novidades, ao tentar ver pela TV a festa da entrega do Oscar, na noite do último domingo. Não consegui, por causa das razões citadas acima mas principalmente porque estava inebriado demais (de cerveja, orgulho e virtude, acima de tudo) com a vitória do Tupi sobre o Cruzeiro.

Afinal, o que é Avatar perto do Tupi?

Na verdade, antes da festa do Oscar, imediatamente depois da vitória do Tupi, já pensava em outros filmes, outros personagens, de outras premiações. Como o ensandecido motorista de táxi Travis Bickle, vivido por Robert de Niro no filme de Martin Scorsese. A certa altura ele diz a um político que gostaria muito que uma chuva caísse com tamanha força que lavasse todas as impurezas do mundo.

Não exatamente a chuva de Travis (Juiz de Fora, afinal, não tem tantas impurezas assim) mas na verdade caiu muita água sobre a cidade e especificamente sobre o espetacular Estádio Mário Helênio, e lavou todo o complexo do mundo.

Depois daquele primeiro gol cruzeirense, estávamos nós, os Carijós, caminhando para ter a consciência final de nosso destino: jamais vencer a Raposa. Até que Ademilson acertou o chute mais espetacular da história do futebol, Fabrício Soares pegou o rebote mais mirabolante da história dos confrontos e Gedeon aproveitou o passe (de Henrique) mais perfeito da história do nosso estádio.

Afinal, o que é Avatar perto do espetáculo do Tupi?

E aí choveu, como previsto, como pedido, como um prêmio.

E depois parou de chover, como se necessário fosse.

Depois da chuva, pensei de novo em Travis, o motorista de táxi. Como ele havia colocado na cabeça que enfrentaria todos os fantasmas do mundo, deu de treinar em frente ao espelho. O exercício incluía ensaiar em tom desafiador: “Você está falando comigo?”.

Depois do jogo, os Carijós encararam todos os cruzeirenses que viram pela frente, qualquer integrante da Máfia Azul, qualquer morador da capital, qualquer um vestido de celeste: vocês, por acaso, estão falando conosco? Viram, vocês, aquele chute do Ademilson, o artilheiro do campeonato? Observaram bem aquele rebote aproveitado pelo Fabrício Soares? Prestaram atenção naquele passe do Henrique? Estão sabendo, vocês todos, que vamos ser campeões mineiros?



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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