O suficiente

Ricardo Corr?a Ricardo Corr?a 14/06/06

Por pior ou mais fraco que se pinte um advers?rio, estr?ia ? sempre algo nervoso, tenso, complicado. Come?ar n?o ? nada muito f?cil. Em lugar nenhum. Nem mesmo no futebol. Talvez isso explique porque eu n?o consegui dormir ? noite ?s v?speras da partida do Brasil contra a Cro?cia, na abertura da participa??o brasileira na Copa do Mundo de 2006. E j? era dia, na Alemanha, quando, ?s 6h20 eu vagava pelas ruas para comprar uma bandeira do Brasil, no ?nico lugar que pode estar aberto a essa hora do dia: a banca de jornal.

Bandeira comprada. Eu e outros torcedores fizemos a nossa parte. Agora era s? torcer. Depois de contar anos, depois meses e dias para o in?cio da competi??o mais esperada, aguardar mais algumas horas era realmente o de menos. O tempo passou, a tens?o aumentou e a hora chegou.

E a? os olhos de todo o Brasil, e porque n?o dizer de todo mundo, se voltaram para as telas das televis?es. No contraste do amarelo do uniforme brasileiro, com o verde do perfeito gramado do Est?dio Ol?mpico de Berlim, residia j? uma sensa??o de que entrava em campo o mais prov?vel dos favoritos ao t?tulo.

Mas estr?ia ? sempre estr?ia, e foi s? perceber que a bolha de Ronaldo estava na barriga para que a confian?a diminu?sse um pouco. N?o que em algum momento algu?m chegasse a imaginar que o Brasil perderia para os croatas. Na verdade, a sensa??o que o time passou ? que jogou s? mesmo o que precisou, e que se precisasse aumentaria o ritmo.

Mas t?o pouco disfar??vel quanto a barriguinha do Fen?meno era sua pouca vontade, seu mau humor de estar em campo naquele dia. N?o era para ser, e ainda assim ele quase fez um gol em chute de fora da ?rea.

Mas antes que Robinho entrasse para mostrar que merece uma vaga no time titular, o Brasil ainda precisava terminar o primeiro tempo e, de prefer?ncia, vencendo. E a? Kak?, que costuma fazer as mulheres berrarem por onde passa... fez o Brasil inteiro berrar igual.

T?o agonizante quanto os anos, meses, dias e horas que contei esperando a hora da estr?ia come?ar, foram os segundos que Cafu demorou para passar aquela bola para Kak? marcar. Ele j? estava livre pelo meio h? uns quatro segundos quando recebeu enfim o passe, j? n?o t?o a?ucarado, ganhou da marca??o e colocou, como se fosse com as m?os mesmo, l? na gaveta do goleiro do time xadrez. Agora bastava esperar cent?simos de segundo at? a bola viajar e estufar as redes permitindo um som que n?o ouv?amos h? quatro anos.

E foi s? isso. O som mais marcante do segundo tempo foram as vaias da torcida para Ronaldo, com pregui?a at? de sair de campo. N?o que o torcedor tenha esquecido que ele foi o her?i maior do penta, e um dos jogadores mais importantes do pa?s nos ?ltimos tempos. Mas Robinho tem mais sa?de e mais vontade para jogar essa Copa do Mundo.

Com o moleque da camisa 23 o Brasil ficou pelo menos mais r?pido. Mas igualmente desinteressado pela partida. Ronaldinho Ga?cho at? fez jogadas de efeito. Que foram ofuscadas da maioria pela esperan?a de que ele decida o jogo em cada lance. N?o ? assim que funciona. Ainda assim deitou uns croatas no ch?o, como tamb?m fez Robinho, e deu um pouquinho mais de gra?a ? vit?ria do Brasil.

A comemora??o foi t?o quadriculada quanto a camisa da Cro?cia. Embora fossem os brasileiros a rirem ? toa no final do jogo, a festa n?o escondia os brancos que o time deixou passar em campo. Mesmo assim, com 1 a 0 t?mido, os tr?s pontos renderam festas com carreata pela Avenida Rio Branco e dispers?o ap?s uns chopps, algumas cornetas e carros de som no Alto dos Passos.

A festa reuniu milhares de pessoas, come?ou cedo, e acabou cedo. O resultado de 1 a 0 parece ter sido perfeitamente suficiente. Rendeu comemora??o, mas contida. Perfeito. Afinal, quarta-feira era dia de trabalhar.


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