O homem-gol e o cinismo dos goleiros
Um homem-gol n?o precisa ser necessariamente um Pel?. N?o precisa tratar a bola com "mal?cia e aten??o, dando aos p?s ast?cia de m?os". Pode, muito bem, ser um Dario, cuja ?nica tarefa, cumprida com perfei??o, era jogar a bola na rede.
Um homem-gol n?o precisa obrigatoriamente jogar sem a bola, como se fosse um Tost?o, nem dar passes milim?tricos, num ponto xis ou futuro. Basta ser um Jairzinho, um furac?o, marcar gols em todos os jogos de um torneio curto.
Um homem-gol n?o precisa ser um g?nio, como Maradona, driblar seis jogadores ingleses, enganar o goleiro e assinar uma obra de arte. Pode ser muito bem um Batistuta, que chuta, chuta, at? acertar o ?ngulo.
Um homem-gol n?o precisa ser algu?m que conduza a bola com perfei??o, como um Zico, nem bater faltas com precis?o. J? est? bom se for um Roberto, dinamite pura, principalmente na grande ?rea. E ainda com direito a gols de placa, com len?ol no zagueiro e voleio, aos 44 minutos do segundo tempo.
Um homem-gol n?o precisa ser divino, como o Ademir da Guia, perfeito como um deus, elegante como ningu?m. Deve ser um maluco, como C?sar ou irrespons?vel como Serginho.
Um homem-gol ?, enfim, algu?m entre o necess?rio e o sublime. N?o ? teoria, ? pr?tica. Sua ?nica obriga??o, num jogo de 90 minutos, ? concluir as jogadas, antecipar-se aos zagueiros, esperar as furadas. ? algu?m como um matador de touros, aquele que d? a estocada final, que espera que o zagueiro n?o chifre a bola, que o goleiro seja um mero espectador da jogada.
Agora, se o homem-gol for genial como Reinaldo ? matando a bola com a sola do p?, assustando os zagueiros e maravilhando a torcida -, ou como Van Basten ? capaz de jogadas surpreendentes - , n?o ? preciso mais ningu?m. Nem Barbosa, nem Yashin.
Se o homem-gol ? algu?m entre o necess?rio e o sublime, a pr?tica em detrimento da teoria, Deus - ou o Diabo - na terra do gol, o goleiro ? algu?m que sublima a teoria: "se ele n?o levar o gol, o empate e o t?tulo est?o garantidos".
O goleiro ? o antiespet?culo, n?o s? porque tem a miss?o de evitar o momento maior do futebol, isto ? o ?bvio ululante.
O que torna um goleiro uma figura excepcional ? a sua solid?o (preste aten??o nele quando o seu time ataca), a sua desgra?a (no momento do frango, o c?u cai sobre a sua cabe?a), e, no outro lado da quest?o, o seu cinismo, que n?o deixa de ser uma autodefesa.
Repare bem no cinismo do goleiro quando o atacante chuta a bola para bem longe do gol. Ele d? um salto de bailarino do "Quebra-nozes" , estica as m?os, deixando bem claro que a bola n?o oferece perigo. Pronto, al?m de c?nico o goleiro ? um dedo-duro. Indica com uma precis?o absoluta que o atacante chutou bisonhamente .
E como s?o c?nicos. Mire-se no exemplo de Gordon Banks, o goleiro ingl?s que fez a defesa mais espetacular da hist?ria, naquela cabe?ada de Pel?, na Copa do Mundo de 70. Banks est? sentado no ch?o, d?cimos de segundos ap?s ter tocado na bola. Est? desolado e n?o glorificado. Est? claro que ele n?o tem consci?ncia do que fez. Hoje, nos pubs londrinos ou nos programas de futebol, ele jura que pressentiu o cruzamento de Jairzinho, a cabe?ada, para o ch?o, do Rei e fez a ?nica coisa que podia: jogar a bola para cima do travess?o.
E h? a autodefesa. Vai dizer que voc? nunca viu um goleiro sorrir ap?s tomar um frango? Nesse caso, no entanto, n?o ? cinismo, ? rir da pr?pria desgra?a, um sorriso nervoso, sem sentido, como a maioria dos sorrisos. ? como deixar bem claro que se a crucifica??o ? inevit?vel, que seja como o bom ladr?o.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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