Cinzas no para?so

Ailton Alves Ailton Alves 06/02/2008

O Tupi entrou no Carnaval, atravessou todo o per?odo do reinado de Momo e chega ? quarta-feira de Cinzas l?der absoluto e incontest?vel do Campeonato Mineiro. N?o ? a primeira vez - e nem ser? a ?ltima - que o Galo vence dois jogos seguidos, dois triunfos em cinco dias, e sai na frente em um torneio.

A diferen?a ? que, neste in?cio de fevereiro do ano da Gra?a de 2008 - al?m das serpentinas partidas e dos confetes perdidos - h? um cheiro de 1997 no ar. Naquela ocasi?o, o time da cidade come?ou janeiro desacreditado, sem dinheiro para contrata?es e com problemas pol?ticos internos - exatamente como agora. Quando novembro chegou, o est?dio M?rio Hel?nio estava lotado para aquele inesquec?vel jogo contra o Sampaio Corr?a, do Maranh?o, disputado debaixo de muita chuva. A partida acabou mal, com a mais dolorida de todas as derrotas carij?s, mas coroou uma temporada brilhante, com as excelentes campanhas na Segunda Divis?o Mineira e na S?rie C do Brasileiro. Entre uma realidade e outra algumas medidas administrativas sensatas, a aposta correta em t?cnicos s?rios (Jair Bala no passado; Moacir J?nior no presente) e em jogadores revelados no interior das Gerais (Edson, Adalto e Pael em 1997; Luciano Mandi e Gedeon agora), e o apoio crescente da torcida.

Foto de torcedores em um jogo do Tupi Creio que foi em 1997 que o Tupi, j? conhecido como "Fantasma do Mineir?o", ganhou seu outro apelido: F?nix, o p?ssaro da mitologia que ressurge das cinzas, sempre. Basta verificar, ano a ano, como s?o os janeiros em Santa Terezinha: clima de terra arrasada, quase desesperan?a e a necessidade de come?ar tudo de novo, e de novo, e de novo... Acredito que agora, em 2008, o Tupi ganhar? uma terceira caracter?stica: a de conseguir catalogar a elite - no bom sentido da palavra - de seus torcedores.

Quando Jair Bala foi embora disse que estava feliz pois tinha assumido um clube de seis torcedores (p?blico de Tupi x Paraisense, de S?o Sebasti?o do Para?so) e deixado uma legi?o de 18 mil pessoas (total de presentes no jogo contra o Sampaio Corr?a). Hoje estamos no meio-termo. H? 20 meses, no final de maio de 2006, exatamente 1.557 devotos acreditaram no milagre da classifica??o ? Primeira Divis?o, naquela ?pica partida contra o Juventus de Minas Novas. Na sexta-feira de Carnaval deste ano, 2.097 carij?s enfrentaram a maior de todas as tempestades para ver a vit?ria contra o Guarani de Divin?polis.

Quem n?o estava l? pode at? achar que estou exagerando quanto ? intensidade da ?gua - afinal, a mesma chuva que caiu sobre as cabe?as carij?s tamb?m despencou nos ombros dos simpatizantes do Bloco do Beco, que desfilava na mesma hora pelas ruas da cidade. No entanto, o vento que venta no Centro ? brisa diante dos ventos que assolam o est?dio M?rio Hel?nio. S?o fortes o bastante para interromper a trajet?ria da bola, destruir guarda-chuvas e deixar as arquibancadas num clima mais gelado que as estepes russas.

S? n?o foi o suficiente para assustar os componentes da elite carij?. Depois da calma de Ademilson no primeiro gol, da cabe?ada de Luciano Mandi no desempate e da bomba de Silas que consolidou a vit?ria, achamos foi gra?a das intemp?ries e nem lembramos mais do medo, do frio e da chuva. F?cil ? ser s?cio do Barcelona (basta chegar cinco minutos antes do jogo e procurar a poltrona numerada), assistir a uma partida no est?dio do Ajax (com um gar?om, sem nenhum atropelo, te servindo a cerveja) ou acompanhar o campeonato do Jap?o (onde at? os gramados s?o cobertos). Tranq?ilo ? seguir a trajet?ria de Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo, com v?rias emissoras de TV mostrando os jogos e p?ginas e p?ginas nos jornais do dia seguinte. Dif?cil ? torcer pelo Tupi. Por isso ? t?o bom.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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