F?rmulas para esperar a gl?ria

Ailton Alves Ailton Alves 31/03/2008

Ilustra??o: Laura Martins Ferreira. Ilustra??o de uma bola de futebol e o escudo do Tupi No domingo sem Tupi, ficamos, n?s os carij?s, numa estranha matem?tica e num divertido jogo de adivinha?es: o Atl?tico somou tr?s pontos e deve ser o nosso advers?rio na semifinal, embora o Ituiutaba, que empatou com o Guarani, tenha tudo para vencer o Democrata e ficar em terceiro ou quarto lugar. Logo, pode ser ele a v?tima.... Bobagens! Tudo para matar o ?cio, esperar o pr?ximo final de semana, contar os minutos para os momentos de gl?ria, que vir?o. Somos mais escravos do tempo, menos da calculadora e do acaso. O ideal seria hibernar at? o pr?ximo domingo, mas n?o vai dar. A cidade j? acordou hoje (anivers?rio do Golpe Militar, que nem ? bom lembrar) e despertar? tamb?m amanh? (primeiro de abril, dia da Mentira e do anivers?rio de minha m?e, a cat?lica dona Luzia ? vou ligar para ela ? perguntar se posso rezar, n?o para o tempo passar mais r?pido e sim para saber se posso usar o Santo nome em v?o em favor do Galo).

Acho melhor n?o. ? bom reservar as preces para outra situa??o. S? faltam cinco jogos e 34 dias para o Tupi ser campe?o mineiro. N?o se justifica o desespero, n?o carece de acender velas, muito menos p?r o joelho em terra e fazer promessas. Al?m do mais, ?Deus s? se mete com coisas s?rias?, diria dona Luzia, com autoridade de quem obrigava os filhos a jejuar na Quaresma, guardar respeito na Semana Santa e nos encaminhava para as missas, a qualquer domingo do ano. Foi ela, tamb?m, que nos ensinou algo sobre a Gl?ria, sobre Hosana nas alturas e, no campo terrestre, que tudo vai terminar bem.

Para tudo acabar bem, nesta primeira fase do campeonato, ? preciso derrotar o Cruzeiro ? ali?s, time de minha m?e, por influ?ncia do marido e da filha mais velha e a despeito da press?o de outros tr?s filhos atleticanos. O ?nico carij? na fam?lia nunca contou, de resto para nada: l? pelas bandas de BH n?o se fala de Tupi nem de Juiz de Fora. Acham eles que somos cariocas e que Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo realmente dominam nossos campos, n?o s? o afetivo.

Ent?o, ? imperativo derrotar o Cruzeiro. Seria um triunfo sociol?gico contra o desd?m e o esc?rnio dos da capital, os improp?rios lan?ados a n?s, mesmo aos que s?o mineiros, os que colocam o Tupi acima de tudo.

N?o, o melhor ? n?o ir para esse lado. Al?m de mesquinha, a tese vai ocultar o verdadeiro sentido da vit?ria: o de que a gl?ria chegar? para aqueles que j? enfrentaram, com galhardia, todas as batalhas. Vencer o Cruzeiro representa o primeiro lugar, significa reservar duas partidas decisivas ? inclusive a poss?vel final do campeonato ? para o palco sagrado do Est?dio M?rio Hel?nio.

Feito isso, imposta a derrota ao Cruzeiro, garantida a primeira coloca??o, classificado na s?rie semifinal (contra Atl?tico, Ituiutaba ou Guarani) o resto vir? naturalmente, inclusive a ta?a. Essa ? a f?rmula da gl?ria, o mais pr?ximo que j? chegamos de uma consagra??o m?xima: o trof?u ? beira do gramado, em nosso est?dio, para ser, no m?nimo, olhado, cobi?ado, tocado. Se, ao final do campeonato, daqui a pouco mais de um m?s, ela, a ta?a, tomar? o rumo de Santa Terezinha ningu?m sabe. Essa decis?o n?o ? do Deus ?nico nem do diabo, muito menos dos torcedores. ? prerrogativa de outros deuses, aqueles que comandam, com sentido pr?prio de justi?a, os destinos de uma bola.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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