16 times ca?ram
O Clube de Regatas Vasco da Gama n?o caiu. O Vasco da Gama n?o cai. O Vasco jamais cair?.
O que a ?ltima rodada do campeonato de 2008 - o ano que passar? para a hist?ria como o pior do futebol brasileiro - produziu, o que as televis?es mostraram, o que as emissoras de r?dio relataram, o que os jornais desta segunda-feira trazem n?o ? nada mais nada menos que um del?rio coletivo, movido pela obviedade. Os apresentadores de TV, os radialistas, os jornalistas s?o como abutres na montanha, n?o s?o capazes sen?o de noticiar trag?dias - gostam at? desse of?cio, que chamam de miss?o. Ficam t?o cegos nessa busca por manchetes falsas que n?o enxergam um palmo ? frente do nariz, n?o percebem a mais cristalina das verdades: o Vasco n?o caiu.
Quem caiu, quem permaneceu num patamar que n?o interessa mais, quem est? condenado a jogar o campeonato de 2009 sem a presen?a do Vasco, quem n?o ter? pela frente a esquadra cruzmaltina, quem caminhar? a esmo, t?o perdido como Gary Cooper em Matar ou Morrer, s?o os 16 times que, dizem, continuam numa tal de primeira divis?o.
Como pode o Vasco cair? Que insensato cora??o pode acreditar numa coisa dessas? Respondam, aqueles que gostam de disseminar cal?nias, se quem tem a cruz da Ordem de Cristo na altura do cora??o de cada um de seus jogadores pode cair? Se quem abriu as portas do futebol brasileiro para os negros, se quem construiu um est?dio em tempo recorde s? para ser aceito no campeonato, se quem j? teve em suas fileiras Jaguar?, Fausto, Russinho, Barbosa, Danilo, Ipojucan, Ademir, Chico, Bellini, Vav?, Roberto Dinamite, Rom?rio e Edmundo, se quem tem como presidente o ?dolo maior do clube pode, um dia, cair?
Mas, os boatos s?o como uma praga, uma erva daninha que joga a reputa??o dos outros na lama. Ainda ontem, em S?o Janu?rio, ao cair da noite, t?o logo a rodada do campeonato terminou e come?aram a circular as not?cias falsas de que o Vasco caiu, foi preciso convocar uma reuni?o de emerg?ncia, com vasca?nos ilustres, para detectar e combater a origem da maldade e da inveja.
"Isso ? coisa de F. Dezembro, e n?o mais agosto, ? um m?s aziago", principiou Rubem Fonseca. Luiz Melodia deu de ombros: "Se algu?m quer matar um campeonato, que o jogue sem o Vasco. N?o ter? o compasso e muito menos o amor de uma torcida fant?stica". Rachel de Queiroz concordou: "Um campeonato sem o Vasco ser? pior que a seca de 1915". "Todos os dias ser?o dias comuns, de novela", completou Paulinho da Viola.
Por detr?s dos ?culos, Carlos Drumonnd de Andrade bradou: "Perdemos o bonde e a esperan?a, mas nenhum time passar? sobre o nosso". Menos po?tico, mas igualmente tr?gico, Get?lio Vargas deu tons futebol?sticos a sua carta-testamento: "N?o nos combatem, caluniam com certeza. S? nos resta, ent?o, deixar a vida para entrar na hist?ria".
Sentados ? beira do caminho - e por l? ficaram - estavam Roberto e Erasmo Carlos. De Chacrinha pediram explica?es, mas ele n?o deu. Lula disse o ?bvio ("Eu estou convencido que nunca na hist?ria desse pa?s houve uma injusti?a t?o grande") e Marta Rocha at? que esbo?ou uma t?mida rea??o contra os ju?zes e a Federa??o.
Quando tudo serenou, Jamel?o come?ou a batucar numa caixa de f?sforos um samba antigo: "Sei que tu vais chorar, mas minha aus?ncia n?o ser? o fim. Pretendo logo voltar. Eu sei que a saudade ? t?o ruim".
Num canto da sala, Aldir Blanc resmungava: "? um desastre sinistro. Daquelas trag?dias que, seja como for, encerram fins de ano, misturam na boca o pernil e a dor, o vinho e o horror".
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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