A batalha dos galos

Ailton Alves Ailton Alves 02/02/2009

Arte mostrando dois galos frente-a-frente O 38? confronto na hist?ria de Tupi e Atl?tico (os dois galos do futebol de Minas ? um da capital, outro de um interior que definitivamente n?o tem praia) foi quase uma Odiss?ia, um retorno aos tempos em que o futebol tinha um significado quase maior que a vida. Ou, para ser mais preciso, teve os elementos de uma Il?ada ? que, como todos sabem e concordam, ? o maior relato de uma batalha.

Come?ou, o confronto, desnivelado. De um lado, Diego Tardeli assumiu a fei??o de P?ris e atacou com uma f?ria s? semelhante a das grandes tempestades. Do outro lado, uma defesa t?o vulner?vel quanto o calcanhar de Aquiles.

A guerra de Tr?ia come?ou a ser contada a partir do nono ano. No minuto nove da partida, o Atl?tico j? vencia. Bateram cabe?a os nossos zagueiros. Pareciam estar olhando n?o para Helena (a mulher tida e havida, de forma incontest?vel, como a mais bela da hist?ria) mas para a beleza do M?rio Hel?nio (o est?dio contestado, sofredor de uma persegui??o que s? pode ser movida pela inveja e pelo despeito).

Os grandes estrategistas, de outras guerras e do futebol, sabem que numa situa??o dessas ? preciso continuar atacando, desmoralizar o advers?rio, deix?-lo o mais r?pido poss?vel irremediavelmente batido. E assim foi feito: cinco minutos depois do primeiro baque, uma bola, que mais parecia uma onda enviada por Netuno, cruzou toda a extens?o da ?rea carij? e encontrou de novo Diego Tardeli e, posteriormente, as redes.

Houve, ent?o, um momento de resigna??o coletiva, dos assistentes de um massacre, ao qual ningu?m podia interferir. O galo branco, o da capital, vinha com dois, tr?s, at? quatro guerreiros. O galo preto, o do interior, se defendia apenas com um, o goleiro mais solit?rio que os personagens de Win Wenders.

E o est?dio, ent?o, se encheu de Cassandras, a profetizarem desgra?as ? pequenas (?a batalha j? esta perdida?), grandes (?o campeonato j? est? perdido?) ou gigantescas (?no ano que vem n?o estaremos mais aqui, nessas guerras de elite?).

Mas... No comando da nau carij? havia um Ulisses (ou Odisseu) ? aquele que, como todos sabem e concordam, sempre tem as melhores id?ias. Jos? Carlos Amaral, ent?o, olhou ao redor, para aqueles que tinham sido renegados, retirou do campo de batalha dois dos guerreiros que se defendiam pelos flancos e colocou dois remo?ados soldados para atacar por esses mesmos lados do campo.

O pr?mio a ousadia viria em quest?o de tempo. Os de branco, desde os momentos iniciais dominados pela soberba, nem viram ? ou n?o quiseram perceber, t?o cegos de tanto desd?m que estavam ? o cavalo de Tr?ia que se movimentava lentamente dentro da pequena ?rea e empurrou a bola para al?m da ?ltima cidadela inimiga.

Um gol desses, no limiar do primeiro per?odo da batalha, tem um efeito extraordin?rio mas s? faz sentido se fizer parte de uma rea??o. N?o foi sen?o esse o sentimento passado no intervalo do jogo.

Faltava-nos, ent?o, um Agamenon, o mais preciso, e um Heitor, o mais her?ico dos guerreiros. O primeiro, modernizado sob o codinome Michel, lan?ou a bola como Ulisses lan?aria sua flecha entre os arcos anos depois. O segundo, que s? poderia ser Ademilson, fez o que Zeus esperava de gregos e troianos: que eles fossem t?o somente abaladores da terra.

***

Faltam 15 jogos e 90 dias para o Galo (o nosso) ser campe?o mineiro.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
Saiba mais sobre Ailton, clicando aqui!

Sobre quais temas da ?rea de Esportes voc? quer ler nesta se??o? O jornalista e cronista esportivo Ailton Alves aguarda suas sugest?es no e-mail esporte@acessa.com