Como nos prim?rdios
No princ?pio e at? meados da d?cada de 60 do s?culo passado o futebol era 11 contra 11. N?o era permitido fazer substitui?es. Quem entrasse em campo teria, a despeito do cansa?o ou de dores diversas, que permanecer no gramado at? que o ?rbitro apitasse o final do jogo, exatamente no 90? minuto. Essa era a ess?ncia do esporte, recuperada neste domingo pelo Tupi Futebol Clube, que sustentou seus onze guerreiros em campo at? aos 42 minutos e 42 segundos do segundo tempo, quando um deles (Rodrigo Mucarbel) ? e apenas um deles - foi substitu?do.
Nos prim?rdios, o futebol n?o tinha t?ticas e os jogadores, ? exce??o do goleiro, n?o exerciam posi?es determinadas. Os objetivos eram basicamente dois: defender dos ataques dos advers?rios e tentar, na outra ponta do campo, colocar a bola num ret?ngulo definido de forma bastante aleat?ria. E foi exatamente esse esp?rito que norteou o Tupi neste domingo, contra o poderoso Cruzeiro, no Mineir?o.
O Tupi voltou no tempo. E foi bastante sintom?tico que naquele est?dio (onde um dia o Galo foi um fantasma ? coincidentemente na ?poca em que come?ou a ser poss?vel fazer as tais substitui?es) o t?cnico tenha decidido manter os 11 jogadores at? o final da partida.
Eles n?o estavam cansados e ? parecia - nem tinham a no??o do tempo. Como disse, certa vez, M?rio Quintana: "Nem olhavam o rel?gio,
seguiram sempre e em frente, jogaram pelo caminho a casca dourada e in?til das horas"
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E o Tupi destruiu os conceitos modernos, jogou como se jogava antigamente, sem posi?es fixas. Quatro volantes? Um atacante que aparecia como meio-campista, ou at? zagueiro? N?o ? dif?cil encontrar, nos prim?rdios ou n?o, analistas de futebol, s?rios e respeit?veis, que defendem abertamente que n?o existe esse neg?cio de 4.4.2, 5.3.2, 4.3.3. ?? tudo bobagem?, dizem. Como discordar depois de ver o Galo jogar neste domingo?
N?o nos prim?rdios, mas quando o futebol ficou profissional e se consolidou, o craque era quem mandava. Era em torno dele que os clubes viviam, que as torcidas gravitavam e que os jornalistas enchiam p?ginas e p?ginas de jornais. Nunca esqueci o argumento de um ex-presidente do Vasco da Gama, Agartino da Silva Gomes, para justificar o fato dele nunca aceitar propostas, algumas milion?rias, para vender o artilheiro Roberto Dinamite: ?Ele ? ?dolo. ? ele que leva a torcida aos est?dios, ? ele que faz os gols, ? ele que eleva o nome do clube. E isso n?o tem pre?o?.
Certas coisas no futebol realmente n?o t?m pre?o. O que Ronaldo, o Fen?meno, fez neste domingo, por ele, pelo Corinthians e pelo esporte talvez n?o tenha como pagar ? mesmo levando em conta (n?o sou t?o ing?nuo assim) que tudo est? devidamente contabilizado monetariamente.
Mas ficamos apenas nas coisas ing?nuas e puras, como nos prim?rdios: a volta de Ronaldo a um clube brasileiro, depois de 14 anos, sua estr?ia no Planalto Central do pa?s, o jogo contra o Palmeiras, aquela bola que ele acertou na trave, aquele passe perfeito para o companheiro, e aquele bal? com os zagueiros do Palmeiras (fugindo, fustigando, enganando os advers?rios) at? acertar a cabe?ada que empatou a partida se inscrevem f?cil como alguns dos momentos mais sublimes da hist?ria do futebol - dessa gera??o, desses tempos sombrios, desse esporte que um dia foi muito rom?ntico, n?o se permitia substitui?es e n?o se tinha posi??o fixa em campo.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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