A segunda chance
Quando se ? jovem, aprende-se, principalmente nos meios acad?micos, o conceito da unicidade das coisas. S? existe uma Mona Lisa e Giuseppe Lampeduza s? escreveu um livro, O Leopardo. Depois, descobrimos, por vias pol?ticas, que o cavalo s? passa encilhado uma vez. Mais tarde, bem mais tarde, quando a decad?ncia bate ? porta, constatamos que s? amamos uma vez na vida.
Digo isso ? torrando a paci?ncia dos meus parcos leitores ? porque o Tupi Futebol Clube foi v?tima, neste final de semana, das coisas ?nicas da vida. No Mineir?o, cada dia mais belo, a maior parte do tempo debaixo da chuva que castigou o belo horizonte, o Galo s? teve, a rigor, uma chance: quando, no final da primeira etapa, Ramires perdeu uma bola f?cil, que ficou com Hugo. O meio-campista carij? fez tudo certo: avan?ou, cortou o zagueiro cruzeirense e bateu forte. O goleiro esticou a m?o, e como se fosse um espantalho enxotando as aves agourentas, tocou na bola e ? prestei bem aten??o ? come?ou a reclamar do companheiro de zaga antes mesmo que a pelota sa?sse pela linha de fundo.
Do outro lado, a retaguarda carij? cumpria o papel a ela destinado, previsto h? mais de seis mil anos: parar o ataque celeste. Estavam l?: Gon?alves escorando as cobran?as de falta do menino Bernardo, Reginaldo e Rodrig?o firmes como uma rocha e Bruno Ramos jogando de l?bero. At? que...cochilaram, uma ?nica vez na partida, e Marquinhos Paran? fez o seu primeiro gol em 77 jogos pelo Cruzeiro.
Quando n?o se ? mais jovem, aprende-se no dia-a-dia que ? poss?vel ter duas chances na vida. Afinal, Leonardo da Vinci tamb?m pintou a ?ltima ceia e o livro de Lampeduza gerou um filme assombroso, de Luchino Visconti. E, sim, que ? poss?vel amar duas vezes na vida.
Digo isso ? talvez dando falsas esperan?as aos meus amigos carij?s ? porque o Tupi Futebol Clube ter? uma segunda chance na vida. Ser? no pr?ximo final de semana, quando o M?rio Hel?nio ser? palco de uma constata??o futebol?stica, sem surpresas ou sobressaltos ou de um milagre ? que, como todos sabemos, ?s vezes acontece (em momentos iluminados o fen?meno se apresenta aos homens de f?).
Para ganhar uma segunda chance, no entanto, ? preciso ter boa vontade. At? para admitir que, na primeira vez, tivemos uma outra oportunidade, n?o t?o cristalina nem t?o pl?stica: aquela bola espirrada que ficou para L?o Salino, que n?o conseguiu encobrir o goleiro advers?rio.
E ? necess?rio, antes de mais nada, de humildade. Reconhecer que se n?o fosse Gon?alves nem segunda partida ter?amos, tamanha a vantagem que o Cruzeiro poderia hoje ostentar.
Quem, contudo, ganha uma segunda chance e nela se espelha pode muito bem pleitear uma terceira oportunidade ? que vir? nos desdobramentos do campeonato e da vida. Afinal, al?m da Mona Lisa e da ?ltima Ceia, Leonardo da Vinci deu outras contribui?es para a humanidade. E o livro de Lampeduza e o filme de Visconti j? geraram mil textos liter?rios sobre a beleza, o vigor e a necessidade de um outro tipo de jogo.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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