Os mineiros, os Carijós e a falta de ambição
Sabemos todos que na literatura, no cinema e na vida as grandes tragédias, aquelas desgraças shakespeareanas, acontecem todas por causa da ambição. Mas, acho que sinceramente nós, os mineiros, e nós, os torcedores do Tupi, padecemos de um grande mal: justamente a falta de ambição.
Quem é mineiro, de verdade, sabe do que estou falando. No final de janeiro, mais precisamente no último dia do mês, principalmente quando este cai no domingo, assistimos sempre a romaria da volta para casa, após o período de praia. Mal o sol aparece e já estamos na estrada, lotando a BR-262, que liga o litoral capixaba a Belo Horizonte. Os mais vividos e espertos calculam o tempo da viagem, para que a hora do almoço bata ali perto do trevo de Itabira, onde tem um restaurante de beira de estrada, de nome Polar, que serve tira-gosto de fogão de lenha e todo tipo de cachaça. Pausa divina e necessária, antes de começar a subir a Serra da Piedade e enfrentar um monstruoso engarrafamento. Os ainda mais espertos e vividos voltam para casa no sábado, a tempo de ir ao Mercado Municipal, onde é possível comer fígado acebolado, tomar cerveja gelada e engatar todo e qualquer papo possível com aparentes, só aparentemente, desconhecidos.
Mas...Mesmo de volta ao fogão de lenha e ao Mercado sentimos, a maioria de nós, como se tivéssemos sido, durante um mês, o das férias, estranhos no paraíso – os mais jovens e tolos chegam até a lembrar, mesmo com o torresmo e o fígado, de moquecas e camarões fritos toscamente no espeto e de todo o cansaço produzido pelo sol forte e a maresia (tem gosto para tudo nesta vida...).
Respeito todos, principalmente aqueles que sentem expulsos de um ideal de paraíso, e por isso, acredito, em nome do bem-estar dos mineiros que devemos ter a ambição de ter praia. E para isso, anexar, invadir (e se for preciso, pegar em armas) o Espírito Santo. Se houver resistência, será só mais uma guerra neste mundo conflituoso por natureza – lembremos, sempre, que a guerra existe desde sempre e a paz é uma invenção muito moderna.
Mas...Dou toda essa volta, pelas estradas mineiras, a falta da praia e uma absurda guerra, e falo de ambições desmedidas porque é justamente isso que está faltando ao Tupi Futebol Clube.
Quem viu o jogo deste domingo, contra o Atlético, sabe do que estou a escrever. Nunca foi tão fácil vencer o Galo da capital dentro do Mineirão. Não vencemos porque não quisemos, ou melhor, porque jamais, na verdade, tivemos essa ambição. Saímos na frente do placar e sofremos a virada num pênalti maroto e depois numa outra falta marcada de forma estranha.
Porém, isso é o de menos. Os árbitros, embora honestos, seguem a cartilha: na dúvida, contra o interior, a favor da capital.
Perdemos o jogo por um outro motivo, que tem tudo a ver com a falta de ambição da qual falo. Perdemos porque jogamos todo o segundo tempo com um goleiro machucado. Fosse o reserva, ele evitaria o chute de Coelho (no segundo gol atleticano) e também o cruzamento de Werley que decidiu a partida.
Ao manter o goleiro contundido em campo, o Tupi selou sua própria sorte. Não acreditou na vitória. Agiu assim como Macbeth, o anti-herói shakespeareano, que descobriu tarde demais que devia acreditar nas forças da natureza e do destino.
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Apesar da derrota, faltam 15 jogos e 98 dias para o Tupi ser campeão mineiro.
Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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