Futebol de cinco promove inclus?o social Pessoas com defici?ncia visual praticam o futebol que proporciona melhores condi?es de vida a eles no cotidiano. Entenda como ? o jogo

Priscila Magalh?es
Rep?rter
01/09/2008

Adriano Carias, de 16 anos, j? aprendeu a chutar a bola. "Sei chutar com o peito do p?, com o bico e com as partes interna e externa", diz ele, que est? freq?entando as aulas de futebol de cinco semanalmente na Associa??o dos Cegos.

S?o cinco jogadores em cada lado, sendo que o goleiro ? o ?nico vidente. Os outros quatro s?o pessoas com algum tipo de defici?ncia visual ou jogam com uma venda. Do lado de fora da quadra est? o chamador. ? ele o respons?vel por conduzir o jogo, dizendo onde est? a bola. Na quadra, marca?es em alto relevo delimitam o campo de jogo e a bola com guizo faz o barulho e ajuda os jogadores a se orientarem.

"De resto, ? o futebol como todo mundo conhece, com finta e gols em dois tempos de 20 minutos", diz a professora de educa??o f?sica Adriana Helena Campos Guarino, que d? aula de futebol de cinco da Associa??o dos Cegos.

Uma das maiores preocupa?es est? em evitar o choque dos jogadores. Por isso, os treinamentos e os jogos s?o realizados em sil?ncio para que os participantes possam ouvir apenas as instru?es da professora ou do chamador. "Os jogadores usam uma voz de comando, que pode ser 'deixa'. Assim, o outro n?o vai disputar a bola, evitando que eles se machuquem", explica ela.

Nos treinos, eles aprendem a usar a audi??o, tanto para ouvir o guizo da bola, respons?vel pelo barulho, quanto para seguir as orienta?es. Entre as dificuldades dos atletas est?o o dom?nio da bola, principalmente nos treinos, onde h? mais de uma bola sendo usada. "Eles costumam confundir o barulho da bola que est?o usando com a do colega". A professora tamb?m conta que eles t?m dificuldades de deslocamento e orienta??o. "Alguns n?o conseguem diferenciar esquerda e direita".

foto do treino de futebol de cinco foto do treino de futebol de cinco

Entretanto, muitos conseguem driblar as dificuldades e n?o querem mais deixar de praticar o esporte. Este ? o caso de Maria da Consola??o Jardim, que pratica h? dois anos. "Nunca me machuquei. J? levei algumas boladas, mas n?o tenho medo. Tamb?m j? dei boladas nos outros", conta. Sebasti?o Natal da Silva diz que o esporte melhora a sa?de e se sente mais feliz no dia das aulas. "Acordo mais animado, fico com o corpo mais leve e bem satisfeito quando tem aula", diz.

A professora diz que ? muito importante a pr?tica de esportes pelas pessoas com defici?ncia visual e diz que os benef?cios s?o not?rios. Entre eles, est?o a melhoria do equil?brio e da postura, a facilidade em se desviar dos obst?culos e a no??o de espa?o. "Os deficientes que praticam exerc?cios n?o t?m v?cio de postura. Trabalhamos a organiza??o do corpo no espa?o. Percebemos isso quando um aluno dava chutes tortos e come?a a fazer em linha reta".

? assim que Jos? Luiz Souza Silva se sente. "O esporte ? muito positivo para mim. Eu aprendi no??o de espa?o, do que ? direita e esquerda e consigo me livrar de obst?culos mais facilmente pelo som. Sei que tem uma parede na minha frente sem ao menos toc?-la, porque percebo que ela corta o som", diz.

foto do treino de futebol de cinco foto do treino de futebol de cinco

Os alunos de Adriana ainda n?o participam de campeonatos. A dificuldade est? em formar times completos para as competi?es. Entretanto, a professora apresentou um projeto para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a esperan?a ? que at? o fim do ano, alguns jogos possam acontecer.

Segundo ela, as pessoas t?m medo de participar e se machucar. "As m?es n?o incentivam seus filhos, porque n?o querem exp?-los e tamb?m t?m medo que se machuquem", diz. Al?m da falta de incentivo ?s pessoas participarem, outra dificuldade ? a falta de espa?o. "Treinamos em um local que era um audit?rio e queremos convidar as pessoas a experimentar o esporte. Elas podem participar colocando vendas nos olhos".