Torre de Babel

Ailton Alves Ailton Alves 23/12/2008

Ilustra??o mostrando uma torre de babael no campo de um est?dio de futebol Talvez os sobrinhos estejam certos, ao pedir de presente de Natal camisas do Manchester United, Werder Bremen ou Panathinakos. Talvez os afilhados estejam certos, ao monopolizar o controle remoto da TV, invariavelmente centrado nos canais de esporte que transmitem Portsmouth x Aston Villa ou Getafe x Villarreal. Segundo eles - esses adolescentes, quase crian?as - a? est? o mapa da mina, onde se v?, hoje em dia, um bom futebol. Citam, na defesa de suas manias, a organiza??o, a tradi??o, os uniformes bonitos e os craques.

N?o se deve duvidar da juventude, at? porque eles n?o aceitam que se duvide de suas certezas absolutas, mas como sou da Galil?ia (a terra de S?o Tom?) sempre ? bom ver para crer.

Neste ano, por falta de tempo ou de interesse, n?o tinha ainda efetivamente parado para ver futebol internacional, muito menos o da Europa, com aqueles times com muita tradi??o, mas nenhuma raiz, nenhum craque formado em casa, que parecem a vers?o futebol?stica da Torre de Babel. ? cada vez mais escasso, de uns dez anos para c?, ver jogadores italianos nos grandes times da It?lia, espanh?is no Real Madrid ou Barcelona e principalmente atletas brit?nicos nos clubes ingleses.

"? como ver uma sele??o mundial, vestida com a camisa de um clube", dizem os jovens. "? como matar um clube, enxertando-o com n?mades da bola e relegando os jogadores locais", rebatem os velhos.

Mas, como ia escrevendo, no domingo parei efetivamente para ver uma partida internacional. "E j? que ? para ser 'internacional' que seja do campeonato ingl?s, de longe o mais globalizado", pensei. Arsenal x Liverpool passava em dois canais.

Com cinco minutos de jogo, foi preciso recorrer ?s revistas especializadas. Quem s?o esses quatro defensores do Arsenal, todos negros com aspecto e vigor de africanos? Os dois laterais s?o franceses, de ?ltima gera??o, e os dois zagueiros vem da Costa do Marfim - descubro na publica??o. No meio-de-campo tem um espanhol e um brasileiro, mas quem se destaca, l? na frente, ? um togol?s alto e forte, que, no melhor estilo do futebol ingl?s, atua como uma torre, aparando as bolas para os companheiros.

No Liverpool, time da terra dos Beatles, s?o apenas dois os ingleses: o zagueiro Carragher e o meio-campista Gerrard. O brasileiro Lucas est? por l?, assim como o argentino Ins?a e um bando de jogadores da Espanha (pa?s que, at? onde sabia, n?o exportava tanto assim).

Mas... Confesso, o jogo muito bom - onde h? craques h? bom futebol, embora a quest?o n?o seja definitivamente essa - e teve dois gols espetaculares.

O do Arsenal surgiu de um lan?amento genial de uns 40 metros, de um jovem franc?s, Samir Nasri. A bola encontrou o peito do holand?s Van Persie, que dominou a pelota de forma magistral, enganou o zagueiro e estufou as redes do Liverpool - guardadas por um espanhol.

Gostei mais, no entanto, do gol de empate do Liverpool. Nasceu de um chut?o da defesa que encontrou o irland?s Robbie Keane sozinho na linha intermedi?ria. Ele empreendeu uma correria, deixou que a bola quicasse duas vezes e fuzilou o goleiro advers?rio - tamb?m um espanhol.

"Claro que o gol do Arsenal foi mais bonito", dir?o os jovens e os torcedores de bom senso. "Mas o tento do Liverpool foi mais aut?ntico, um t?pico gol brit?nico em um campeonato que, afinal, ainda ? ingl?s", dir?o os preocupados com a originalidade das coisas.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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