Os caminhos da ado??o Os mitos e as verdades na hora de adotar uma crian?a

Fl?via Machado
28/09/2001

"Adotei o Rodrigo por acaso". Com estas palavras, Maria do Carmo, atualmente m?e adotiva de Rodrigo, de 11 anos, revela a bonita e complicada est?ria que viveu para ter direito ? guarda da crian?a. No caso dela e de seu marido, Jo?o Bosco Damasceno, a ado??o n?o foi uma decis?o planejada, mas veio por uma quest?o de solidariedade, j? que uma prima n?o tinha condi?es de criar o filho.

Tudo come?ou quando Rodrigo ainda era um rec?m-nascido e Maria do Carmo ficou sabendo que sua prima n?o tinha condi?es de cri?-lo, muito menos o pai, que havia sumido. Ela se sensibilizou e foi at? a casa da prima. "Quando cheguei l? e vi em que condi?es aquela crian?a estava sendo tratada, resolvi que poderia ficar com ela at? as coisas melhorarem." Rodrigo, como conta Maria do Carmo Rezende Damasceno, estava doente, magro e sofria maus tratos de sua m?e. A ajuda oferecida por ela deveria ser somente por alguns dias, at? que a fam?lia tivesse condi?es de pegar a crian?a de volta. Mas, n?o foi bem isso que aconteceu.

De l? para c?, foram muitas batalhas. Rodrigo, que havia sido registrado somente com o nome de sua m?e biol?gica, passou a morar com Maria do Carmo, que j? o tratava como um filho. Quando ele completou quatro meses, o pai reapareceu e pediu a guarda. A esta altura, Maria do Carmo estava disposta a lutar pela crian?a.

E foi o que fez. Durante oito anos ela enfrentou na Justi?a o direito a ter a guarda do beb?. "Foram diversas audi?ncias e eu tinha medo de perder o Rodrigo. Mas o pai biol?gico dele n?o tinha a menor condi??o de cri?-lo e a m?e j? havia assinado o termo de ado??o", conta. H? pouco mais de dois anos ? que ela e o marido conseguiram a guarda permante dele. "Foi um al?vio para todos n?s, que nos apegamos a ele", desabafa.

Rodrigo sabe que ? adotado e lida muito bem com isso, como explica Maria do Carmo. "Eu sempre deixei claro para ele a situa??o, nunca escondi nada e acho que a verdade tem que ser dita. Antes, ele tinha medo do pai, pois entendia que ele queria tir?-lo de sua fam?lia. Hoje, ele j? lida melhor com isso e at? sai com o pai verdadeiro."

A luz no fim do t?nel

Juiz da Terceira Vara de Fam?lia, Israel Carone Rachid A caminhada foi longa e tudo terminou bem. Por?m, adotar uma crian?a n?o ? t?o complicado quanto parece, pelo menos ? o que afirma o juiz da Terceira Vara de Fam?lia, Israel Carone Rachid. Segundo ele, uma pr?tica muito comum no Brasil ? a chamada ?ado??o ? brasileira?, que acontece quando um casal consegue um beb? e o registra como filho. Pr?tica esta considerada ilegal, prevista no C?digo Penal.

De maneira geral, quando uma ado??o segue os caminhos legais, ou seja, os interessados fazem a inscri??o para cadastro, o processo n?o ? demorado, esclarece o juiz. "A partir da?, a Justi?a vai acompanhar a vida do casal e saber se eles realmente t?m condi?es psicol?gicas e estruturais para adotar uma crian?a."

O que acontece ? que quem deseja adotar, quase sempre, procura beb?s saud?veis e que sejam parecidos fisicamente. As diferen?as entre ra?as e a idade avan?ada de algumas crian?as tamb?m dificultam a ado??o, ? o que afirma o coordenador do Educand?rio Carlos Chagas, em Juiz de Fora, M?rio Albino Martins. "Crian?as mulatas e negras t?m dificuldade em serem adotadas." Para o juiz, "escolher" uma crian?a e depois legalizar a situa??o n?o ? um caminho aconselh?vel. "Muitas vezes o casal pode se frustrar se a ado??o n?o for concedida e se a crian?a tiver que voltar para um orfanato", constata.

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