Compras para o Dia das Crian?as Sem esquecer que os limites devem ser impostos
pelos adultos e n?o pelas crian?as

S?lvia Zoche
Rep?rter
12/10/06


A chegada do Dia das Crian?as ? uma gl?ria para estes seres que enchem de gra?a a vida dos adultos. Saber que v?o ganhar um presente os deixam ainda mais agitados do que s?o naturalmente. Alguns pais preferem levar os filhos at? ?s lojas para escolher o que desejam ganhar - e, quase sempre, querem mais de uma coisa, para desespero de muitos.

As lojas de brinquedos ficam lotadas e as vozes dos pais, tios e/ou av?s se misturam ao dos vendedores e dos pimpolhos, que rodam todos os departamentos com brinquedos. "M?e, mam?e! Me d? este aqui! Eu quero este!" ou "Pai, papai! Eu quero os dois". S?o frases t?picas e que ecoam pelas galerias entre as estantes de brinquedos e por vezes exterminam a paci?ncia de muitos pais.

Mesmo com os pedidos insistentes dos dois filhos - Jo?o Pedro, 6 e Guilherme, 2 -, Monalisa do Valle Amorim Souza n?o se deixa vencer pelos pedidos. "Eles t?m que entender que s? podem ganhar um". Se alguns preferem deixar os pequenos em casa para fazer as compras com mais tranq?ilidade, Monalisa gosta de t?-los ao lado para que possam escolher exatamente o que querem.

Esta ? a op??o de Robson Ribeiro, pai de Rafaela, que faz cinco anos em novembro, que queria levar dois bonecos, um da Bela e o outro da Fera. "? que eu tenho o filme. ?, pai, que quero os dois", diz Rafaela. Robson pede para escolher um s? e a menina se mostra em d?vida. "Falei pra ela escolher e que s? vai poder levar um".

Como as outras crian?as que estavam na loja, Manuella (foto ao lado), 6, queria levar dois presentes. "Escolhe um s?, mas nada de Rebeldes", dizia a m?e Kelly Coelho, falando da novela da televis?o.

A incerteza era t?o grande que Manuella pediu ajuda at? para a rep?rter que a entrevistava. Para a m?e, o que complica ? que Manuella ? consumista. "Mas coloco limites", esclarece Kelly.

Manuella persiste em saber qual a opini?o da m?e, j? que s? podia escolher um brinquedo. "Ela tem que aprender a escolher. Se eu falar, ela nunca vai aprender", justifica.

A av? de Bruno, 4, Jane de P?dua Oliveira Capobiango (foto abaixo) preferiu escolher o presente do neto sem que ele estivesse junto. "Perde a gra?a, perde o encanto", justifica.

Escolher o brinquedo ? algo f?cil para ela. "Eu sei as prefer?ncias dele. Ele j? andou no caminh?o dos bombeiros ele ficou fascinado", conta.

Para ela, essa hist?ria de que os av?s "estragam" os netos est? errada. "N?s tamb?m ensinamos. E o pai est? l?, perto e a crian?a sabe disso".

Jane comenta que em situa?es complicadas, como crian?as tentando convencer os pais com pirra?a, devem ser contornadas com a autoridade dos pais, mas tamb?m com a ajuda da vendedora. Vera L?cia de Laia trabalha em lojas de brinquedos h? um ano e j? pergunta qual a faixa et?ria da crian?a, o pre?o que os pais podem gastar. "J? levo direto para onde est?o os brinquedos, para n?o empolgar a crian?a com outras coisas que n?o vai ganhar", explica.

Presentear a filha tem que ser um ato de prazer tanto para a crian?a quanto para os pais, na opini?o de Cleusa Fonseca Fedoci, m?e de Isadora, 9. As duas, que passeavam por um dos shoppings da cidade, procuravam por roupas, sand?lias ou brinquedos.

"As meninas est?o precoces. Ela optou por n?o ganhar brinquedo, mas os tios v?o dar presentes tamb?m e neste caso ela n?o tem que escolher. Ela j? gostou de uma sand?lia, mas tem hora que gosta ainda de brincar", conta Cleusa.

A m?e acredita que os filhos precisam de limites sim, mas v? muitos pais que cedem a vontade dos filhos. "Tem muita gente assim. N?o vale a pena se endividar para presentear o filho com alguma coisa que voc? n?o tem condi?es de pagar".

Luta entre faixas et?rias
Quem j? participou de um bate-papo entre pais - mesmo n?o tendo filho - j? ouviu a conversa de que as crian?as de hoje s?o mais espertas que antigamente, que aprendem tudo com mais facilidade e que sabem o que querem e batem de frente com os pais. E surgem os problemas de crian?as que conseguem tudo dos pais e entram na loja de brinquedos, por exemplo, e levam tudo o que querem.

"As pessoas come?aram a perder a no??o de limites com os filhos com o surgimento do div?rcio, depois da Revolu??o Francesa", conta a psic?loga Ana Stuart (foto abaixo).

H? v?rias linguagens dentro de casa, segundo Ana. O pai ? a figura da censura, a m?e ? a progenitora. Tanto o pai quanto a m?e n?o podem tirar a autoridade um do outro na frente da crian?a. "Se um achou que o outro exagerou, deve fazer as considera?es longe do filho".

A crian?a encontra o caminho para manipular os adultos a partir do momento que tem pais protetores demais ou que extrapolam os limites da liberdade. Quando a educa??o dos filhos ? terceirizada, a crian?a perde a refer?ncia da autoridade paterna e materna - ou seja, os pais passam a responsabilidade da educa??o para a bab?, para a escola, para a psic?loga e quase n?o participam.

O resultado por de ser uma crian?a compulsiva, insegura e joga sua insatisfa??o em cima dos brinquedos. "? uma forma de preencher o vazio, da seguran?a que ela n?o sente com a delega??o indevida de pap?is". E os pais, sentindo-se culpados, atendem todos os pedidos.

H? os que manipulam atrav?s dos gritos, esperneando rua afora, porque sabem que os pais ficam intimidados com a exposi??o em p?blico. "? uma arma que usa para ganhar o que quer". Pode parecer incr?vel, mas existem crian?as que manipulam dizendo que n?o querem ganhar nada. O pai se impressiona com a atitude do filho e d? o presente mais caro. "N?o s?o todas as crian?as. ? claro que existem crian?as que compreendem, realmente, que a condi??o financeira n?o est? boa", comenta a psic?loga.

Crian?as muito quietas e que desistem de ganhar um presente, podem esconder problemas de depress?o. "Elas cedem para evitar um conflito emocional, achando que dessa forma o pai n?o vai beber ou a m?e n?o vai se entupir de calmante", exemplifica.

Quando o filho tem uma personalidade muito forte, Ana comenta que a "guerra dentro de casa" vai ser acirrada, mas que os pais n?o devem deixar que a crian?a ven?a com suas vontades. "? um trabalho exaustivo".

Se a situa??o est? complicada, dif?cil de resolver sozinho, Ana Stuart recomenda que a crian?a seja levada a um m?dico. "? bom saber se ? um problema f?sico, como problemas de d?ficit de aten??o. Pesquise antes de achar que ? somente pirra?a".

Os pais devem observar tamb?m os pr?prios atos e n?o julgarem os filhos como ?nicos respons?veis pela luta. Os pais precisam saber a hora de dizer "sim" e ter a coragem de dizer "n?o".