Gêmeos, trigêmeos e quadrigêmeos
Casais contam com o diálogo e o planejamento quando
a família cresce de repente
Repórter
O avanço das técnicas de reprodução humana tem provocado um aumento no percentual de gêmeos, trigêmeos, quadrigêmos e até quíntuplos. Só no Brasil esse índice cresce a cada dia, como mostra a pesquisa da professora Glória Maria Duccini Dal Colletto, da Universidade de São Paulo (USP). Em sua análise, ela observou a ocorrência de gestações múltiplas em quatro hospitais.
O resultado mostrou que, se no começo dos anos 90 o Hospital Albert Einstein registrava proporcionalmente quase o dobro de nascimentos de gêmeos computados no Amparo Maternal (0,85% contra 1,41%), no final da década essa diferença havia quadruplicado (0,73% e 2,94%). A pesquisadora considera o uso de reprodução assistida, já que o Albert Einsten possui um Centro de Reprodução Humana. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa taxa, que era de 1,85% em 1971, hoje chega a aproximadamente 3% de todas as gestações.
Para quem não estava acostumado com a casa cheia, a idéia de ter dois, três
ou quatro bebês pode gerar ansiedade em um primeiro momento.
"Quando os pais recebem a notícia, a principal preocupação é financeira"
,
observa a doutoura em reprodução humana, Fernanda Polisseni
(ouça o áudio). De acordo com a médica, as dúvidas em relação a saúde da
gestante e do bebê surgem em seguida.
Quanto as chances de ter mais de uma criança utilizando técnicas de
fertilização ou inseminação, a especialista garante que apenas 15% dos casos
são de gravidez múltipla. Em cinco anos de trabalho na área e mais de 400
inseminações intra-uterinas, a médica só constatou três casos. O mais
recente deles é o de Cristiane Beatriz Esterci, que terá
quadrigêmeos.
"Ficamos sem reação ao saber que eram quatro crianças"
, relembra a
comerciante que está na 34ª semana de gestação. Há quatro anos, ela tentava
engravidar naturalmente e resolveu procurar uma clínica especializada.
A futura mamãe comemora o feito como se tivesse ganhado na loteria, afinal, a
probabilidade para trigêmeos e quadrigêmeos é menor que 1%.
Entre os riscos mais expressivos de uma gravidez múltipla, estão a prematuridade para o bebê
e o aumento do útero para a mãe. "A média de gestação varia entre 28 a 40
semanas. Tentamos ao máximo"
, explica a médica. Em relação aos bebês, é necessário ter
atenção especial com problemas do sistema respiratório e nervoso central. Já
as mães ficam vulneráveis ao aumento da pressão arterial e hemorragias.
Dúvidas entre família

Eles são lindos passeando de carrinhos pelas ruas. Mas a verdade é que
cuidar de gêmeos não é nada fácil. "O trabalho é sempre triplicado"
,
acredita Flávia Botezine, mãe de Diogo, Marina e Ian, de três anos.
Ela e o marido, Gerson Botezine, tentaram ter filhos por quatro
anos. "O susto foi muito grande, mas torcíamos a cada dia para o bom desenvolvimento dos três"
, relembra o pai coruja.
O casal contou com o diálogo e o planejamento para evitar a ansiedade.
"Fizemos uma programação das despesas e fomos comprando tudo aos
poucos"
, relembra Flávia. Já o marido, achou essencial providenciar um
plano de saúde. "Ainda ficava mais
nervoso quando sabia que iam nascer prematuros"
, relembra.



Além da insegurança, os pais tiveram que contar com a ajuda de familiares
para os primeiros meses de vida das crianças. "Fazíamos um revezamento na
sala de visitas e lá dormiam três pessoas, uma para cada filho"
, conta
Flávia. O trabalho do casal era intenso, com direito a revezamento para
amamentação e troca de fraldas.
A curiosidade das pessoas era tão grande que, por
dia, o casal recebia, em média, 30 visitas. "Acho que as pessoas não
muito próximas poderíam ajudar esperando mais um pouco"
, aconselha a
mãe que disse ficar exausta com a jornada tripla.



Já Cristiane Beatriz Esterci e o marido Leonardo Ribeiro Simiquel
decidiram mudar de casa, assim que ficaram sabendo dos quadrigêmeos. "Morávamos em um
apartamento de dois quartos e optamos por um lugar com mais espaço"
, diz
Cristiane. A mudança implicou em uma reforma na casa nova, com direito a
quarto para os bebês e sala de suporte, com fraldário e banheira.
A futura mamãe diz que conseguiu
realizar tudo o que havia planejado, sem se preocupar com a situação
financeira, já que ela e o marido trabalham no comércio. "Recebi muita ajuda, mas com
planejamento e pensamento positivo, tudo dá certo"
, define.