Tatuagem é tabu? Mesmo com popularização, preconceito ainda está presente na sociedade

Patrícia Rossini
*Colaboração
20/01/2009

Apesar da popularização da tatuagem em todos os segmentos da sociedade, o preconceito ainda persiste e impõe barreiras aos tatuados. Segundo profissionais do ramo, a mídia é uma das principais responsáveis pela difusão da prática na sociedade.

Em alguns campos mais conservadores do mercado de trabalho, como os de atendimento ao público e de serviços, a aparência é um fator que pode ser determinante para a contratação. Esse fato impõe restrições às pessoas que optam por um visual mais moderno ou despojado. No entanto, a flexibilização do mercado já é percebida pelos profissionais, de acordo com a psicóloga com formação em gestão de recursos humanos, Maria Aparecida Frade Pires.

"O que percebemos é que cada vaga estabelece uma série de pré-requisitos, que estão relacionados às necessidades de cada área. Por isso, é preciso analisar o indivíduo de acordo com o contexto", explica. Segundo ela, até mesmo em locais historicamente conservadores, como os bancos, já é possível perceber a mudança no perfil de contratação. Mesmo assim, a psicóloga afirma que o candidato que faz a opção por tatuagens, por exemplo, deve estar ciente de que isso pode interferir na vida profissional. "A tatuagem pode, como qualquer outra característica, ser determinante tanto para o sucesso quanto para o fracasso em determinada vaga, dependendo das exigências do mercado".

Escolha bem pensada

De acordo com o tatuador Daniel Vasconcellos (foto abaixo, à esquerda), os estudantes costumam ter mais preocupação com o local da tatuagem do que as pessoas que já estão inseridas no mercado de trabalho. "Alguns clientes mais jovens optam por tatuar em locais mais discretos, com medo de sofrerem preconceito na hora de procurar emprego."

É o caso da estudante de comunicação social Sarah Machado (foto abaixo, ao centro), de 22 anos, que escolheu as costas para tatuar uma frase. "Eu achei um bom lugar, pois me dava a possibilidade de não ficar mostrando minha tatuagem o tempo todo, o que não era meu objetivo inicial." Sarah acredita que alguns setores do mercado são intolerantes, e questiona o tabu. "Às vezes, as pessoas julgam demais pela aparência, achando que tatuagens são como um cartão de visitas. Mas o número de tatuagens que uma pessoa tem ou o conteúdo dos desenhos que ela tatuou não são comprovantes de caráter."

Foto de Daniel Foto de Sarah Foto de Diane

Antes de fazer suas sete tatuagens, a estudante de fonoaudiologia Diane Sturião (foto acima, à direita), de 24 anos, escolheu o local dos seus desenhos pensando na profissão. "Não posso dizer que minhas tatuagens são discretas, mas escolhi lugares que ficam escondidos quando coloco o jaleco", afirma. Adepta dos piercings e alargadores, Diane prefere retirar os acessórios no ambiente de trabalho. "Como lidamos diretamente com a saúde, tratando principalmente idosos e crianças, acredito que eles podem chamar a atenção. Por isso, trabalho sem", justifica.

Apesar de não ter problemas no mercado de trabalho, ela afirma que sofreu preconceito por causa das tatuagens durante a gravidez. "Quando estava grávida, escutava todo tipo de piadinhas na rua. O pai do meu filho também é tatuado, e as pessoas sempre comentavam quando nos viam juntos. Para mim, isso é uma falta de respeito."

Mercado de trabalho

Foto das tatuagens de Jackeline A bargirl de uma casa noturna da cidade, Jackeline Silva (foto ao lado), de 30 anos, diz que tinha consciência do preconceito antes de fazer suas nove tatuagens. "Eu sei que alguns setores do mercado de trabalho julgam pela aparência. Mesmo assim, acho que o preconceito acaba quando a pessoa rompe a barreira do pré-julgamento e conversa comigo."

Nesse sentido, a psicóloga Maria Aparecida cita um processo seletivo curioso, quando um jovem cheio de tatuagens e piercings conquistou os clientes de uma loja de utensílios domésticos. "Pela aparência, ele não era o candidato ideal. Mas, durante o treinamento, os donos da empresa ficaram encantados com o jeito que ele tinha com os clientes e decidiram contratá-lo." A situação apresentada confirma a tendência de flexibilidade do mercado apontada pela psicóloga. Nesse sentido, ela afirma que as empresas estão, a cada dia, mais atentas às características desejadas para a vaga do que à aparência dos candidatos.

*Patrícia Rossini é estudante de Comunicação Social na UFJF