Raquel Marcato Raquel Marcato 27/05/2015

Empatia, praticamos?

maternidadeAcostumamos ir atrás deles munidas de lente de aumento quando o assunto é paternidade. Estamos atentas a tudo, principalmente, às ausências. Queixamo-nos disso. Da ausência. Tudo somos nós, e o velho hábito social continua, eles trabalham e nós somos Mães. Esse contrato de décadas, nunca fica démodé.

Entretanto, as mães do SÉC XXI, Nós, estamos bastante reativas quanto a esse padrão. Queremos que a nomenclatura de Pai ganhe volume de tarefas domésticas, de consultas pediátricas, de madrugadas em claro, de atividades extracurriculares, de leituras sobre educação, de doses de terapias, de grupos de estudo, de piqueniques com amiguinhos, de preocupações diárias, de educar desobediências, de demanda de atenção infantil, de... Iniciativas! Isso, um volume de iniciativas.

Em todas essas atribuições nos sentimos, quase sempre, solitárias, pois eles estão firmemente cuidando do sustento, cumprindo com a parte deles, dignamente! E quando anoitece, eles se adiantam para ver o jogo e nós entramos no 3º turno da execução! Se pudéssemos congelar esse momento, perfeitamente veríamos um campo minado prestes a estourar. O aconchego da cumplicidade entra no ringue de quem está com a razão. E blá, blá, blá...

O certo é que tudo cansa. A rotina de quem cuida, de quem é cuidado, de quem sai, e de quem chega. Todos estão cumprindo tarefas, quase sempre, acumulando estresse, enfim, estamos em movimento.

Porém, cada um quer brilhar na sua função e honrar com seus méritos. Nós queremos medalhas pela sobrecarga maternal e eles por entender que não estão sendo displicentes, pois o trabalho é uma função de ser Pai!

O trabalho é uma função de ser Pai!?

Ai vem a réplica:

_ E nós que trabalhamos e somos Mães?!

O diálogo tende a ficar comprometido por falta de empatia e criatividade. Por fim, o filho dorme e nós guardamos o uniforme de pai e mãe.

Silêncio.

Descanso.

Individualidade.

Agora ficou tudo em equilíbrio. Por poucas horas, mas não vamos desconsiderar.

Cada um só quer ser acolhido na sua fragilidade. E, aparentemente, o motivo parece cair sobre a criança.
Na rotina do dia a dia, pais e mães estão se doando. Ligam o piloto automático e executam as demandas que surgem. Cada um na sua praia ou surfando na mesma prancha. Porém, no final do dia, queremos ser notados para que tudo faça sentido. Quando a lista chega ao fim, só queremos que alguém cuide de nós. Nós deles e eles de nós.

Precisamos desenvolver a Empatia. Precisamos cruzar os olhares enquanto limpamos o cansaço do outro.
As terminologias pais e mães já estão carregadas de encurtamentos, preconceitos, desigualdades, rasuras... Enfim, de um passado, excessivamente, limitante. Se nos colocarmos no lugar do outro, acho que os "papéis" deixarão de ser fixos, consequentemente, desiguais, já que ora serei Pai e você, amor, Mãe.


Raquel Marcato, mãe da Marta de 4 anos, blogueira do portal mamaesavessas.com, escritora, questionadora por essência, ativista pelo autoconhecimento e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Autônoma de Barcelona.

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