Jussara Hadadd Jussara Hadadd 17/2/2011

O orgasmo é meu. E daí?

Foto de casalPara mim e para vários outros especialistas, a qualidade de um orgasmo está diretamente ligada à vontade que cada um tem de senti-lo. É óbvio que fatores externos, como um parceiro inábil pode influenciar na qualidade do prazer, contudo se você estiver a fim mesmo, ninguém te segura. Você diz: pega ali, aperta aqui, não para não e se a pessoa for atenciosa, acaba tudo bem. E esta regra costuma se aplicar bem mais às mulheres que aos homens.

Muitas mulheres entendem o orgasmo ou a forma como ele acontece como um alvo inatingível ou inerente a milhares de condições, tendo, entre elas, a pouca habilidade do parceiro em fazer com que elas cheguem lá. Vibrador com pilha fraca também dificulta o trabalho, mas o orgasmo é seu e só quem pode fazer acontecer de verdade, é você.

O fato é que, hoje em dia, o orgasmo virou uma obrigação moral. Ou imoral, melhor dizendo, que visa atender aos conceitos sem sentido que rondam o mundo do sexo.

Estamos obrigados a transar e obrigados a gozar. A modernidade, toda a sua liberação — bem como a juventude, estendida à meia e à terceira idade — e todo o direito ao prazer que o ser humano de repente se viu merecedor vem ditando que se não transamos e se não gozamos, estamos perdendo tempo na vida e o melhor do que ela teria para nos oferecer.

O orgasmo em si demanda maturidade para ser entendido e sentido. Demanda compreensão e sabedoria para não ser cobrado antes de ser apreciado, porque toda cobrança que o envolve tem muito mais a ver com exercício de poder do que com intenção sincera de ver o outro feliz. Demanda autoconhecimento e capacidade de senti-lo independente da ação do parceiro. Demanda verdade e absoluta sinceridade entre os dois. Demanda tranquilidade, satisfação e envolvimento de boa qualidade, somados a uma boa saúde física e mental. Demanda desprendimento dele próprio.

Isso tem a ver. Sinceramente acredito que a vida deva ser vivida em plenitude, mas o que deve reger a intensidade disso tudo é a escolha de cada um. Se você tem vontade de transar, de viver a sua sexualidade intensamente e nela encontrar todo o prazer e êxtase de que necessita para viver melhor: ótimo, vá em frente. E faça isso da melhor maneira possível e, de preferência, sem infringir nada nem ninguém. Se você é daqueles que prefere ficar mais quietinho, tudo certo também, mas a regra de não infringir o mundo do outro, continua valendo.

Em uma relação saudável e gozadora de um bom entendimento, o orgasmo físico pode até pertencer a um último plano, entretanto muitos outros tipos de orgasmos podem ser percebidos e satisfazer o casal de uma maneira indescritível. Todos os prazeres de um encontro sexual devem ser sentidos e valorizados, para que o seu ápice se torne inesquecível. Todo este caminho deve ser percorrido com muita atenção até para que este ápice seja possível.

As pessoas costumam desprezar todo o caminho que leva ao orgasmo e, focando somente nele, correm o risco de perder o melhor da festa, vendo o seu grand finale acontecer em milésimos de segundos sem graça e sem sentido. Curta o perfume, as cores, os sons, os sussurros, as texturas e todas as sensações possíveis. Não se atenha aos defeitos, aos trejeitos e a pensamentos infundados. Não se preocupe com forma física, com cicatrizes ou com que o outro possa estar pensando a seu respeito. Viva uma entrega sincera e, passo a passo, vá conquistando o seu direito de gozar do amor o que ele tem de melhor.

E se não gozar? Se não gozar, você viveu toda a beleza do caminho e terá história para contar e, em outra ocasião, já experiente da trilha por onde passou, poderá chegar ao fim com o triunfo de um vencedor.

Tenha calma, conheça-se, não se obrigue e não atenda a nada, a ninguém e a nenhum conceito, antes de ter absoluta certeza do que quer sentir, de como e com quem quer sentir, respeitando o seu tempo e a sua vontade. Esteja inteiro no momento que estiver amando alguém, tranque tudo o que não pertencer a este momento, do lado de fora do quarto.

Quem tá na chuva é pra se molhar.


Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
Saiba mais clicando aqui.