Fernando Agra Fernando Agra 10/06/2015

Breve análise da conjuntura econômica brasileira

A situação pela qual passa a economia brasileira atualmente é muito delicada. Queda do PIB no primeiro trimestre do ano e perspectiva de uma queda anual de 1,3% (a maior dos últimos 25 anos) já para este ano. Inflação em alta, com estimativa de 8,46% para 2015. Desemprego que chegou a casa dos 8%. Pela conjugação dessas variáveis, podemos afirmar que estamos no "pior dos mundos" ou é apenas um período natural dos ciclos econômicos e que, dentro em breve, com as medidas de ajuste fiscal, a economia voltará a crescer já em 2016?

O que chamei de "pior dos mundos" no parágrafo anterior é a "Estagflação", que é uma combinação de inflação alta com elevado desemprego. Pelos dados acima, é bem provável que a atual conjuntura possa ser classificada como "Estagflação". Assim, enquanto Economista da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realizei algumas pesquisas econômicas (com dados secundários) e ministrei uma palestra intitulada "Análise da Conjuntura Econômica Brasileira", cujo objetivo foi de realizar uma análise do ambiente econômico e expor os principais resultados aos empresários incubados no Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (CRITT/UFJF). Palestra essa realizada em 28 de maio do corrente ano e que também foi estendida a toda comunidade.

Um dos quadros que utilizei foi o que mostra a evolução do IPCA, que é o índice de inflação oficialmente utilizado pelo governo, que possui uma meta anual de 4,5%, como um teto de 6,5%. Pelo Gráfico 1, apenas em 2006, 2007 e 2009 o governo conseguiu atingir a meta. De janeiro a abril deste ano, a inflação já alcançou 4,55% e possui uma estimativa de chegar a 8,46% em 2015.

Já o Quadro 1 mostra a evolução do IPCA ao longo dos quase 21 anos de Plano Real. O IPCA acumula alta de 395,19%. Como a inflação é uma média, há itens que subiram acima do IPCA. Dos quais podemos destacar: hortaliças e verduras; carnes; panificados; alimentação fora do domicílio, energia elétrica, combustíveis; aluguel e taxas, transporte urbano; serviços médicos e dentários, planos de saúde etc. Uma vez que tais são essenciais à sobrevivência, as classes baixa e média sofrem os maiores efeitos desse imposto inflacionário (perda do poder de compra da moeda para a inflação):


Já o Gráfico 2 mostra a evolução da SELIC, tanto em termos nominais quanto em reais (descontada a inflação) . Pode-se perceber que, mesmo com juros altos atualmente, na década passada, os mesmos (reais e nominais) eram maiores. Juros altos desaquecem a economia, desestimulam consumo e investimento. Esse cenário pode ser uma das explicações pelo baixo volume de investimentos produtivos (sobretudo em infraestrutura) feito ao longo dos últimos anos. E tem mais: juros altos aumentam as despesas com a dívida pública(Gráfico 3):

E para finalizar, o Quadro 2 apresenta alguns indicadores macroeconômicos oficiais para o período 2012/2015:

Pelos dados acima, podemos ainda constatar a necessidade de mais investimentos para reativar a produção industrial. Só que, além de juros baixos, os empresários precisam estar otimistas quanto ao futuro, pois do contrário, as expectativas desfavoráveis da classe empresarial adiarão e cancelarão planos de investimentos das empresas. O governo deve gastar em torno de R$ 400 bilhões com pagamento de juros da dívida pública somente neste ano de 2015. Com isso, diminui o montante a ser gasto com serviços públicos essenciais, como saúde, educação e segurança pública e aumenta cada vez mais a necessidade de aumentar impostos. Quem ganha com isso é o sistema financeiro e a sociedade perde.

No curto prazo (talvez em 2016), com as medidas emergenciais, a inflação voltará a cair, o PIB crescerá e o desemprego diminuirá. Contudo, precisamos de mudanças estruturais, como as reformas tributária e política, de modo a colocar o País no eixo do crescimento e do desenvolvimento sustentável e de longo prazo. E sabe onde começam essas mudanças estruturais? Elas começam com nossas atitudes individuais de ética, honestidade e bons princípios em busca de um Brasil melhor.


Fernando Antônio Agra Santos é palestrante na área de Inteligência Financeira, Gestão de Pessoas, Relacionamento Interpessoal, Marketing Pessoal e Gestão do Tempo. É Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Professor da Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e professor licenciado da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas as instituições em Juiz de Fora - MG. Também é economista do Centro Regional de Inovação de Transferência e Tecnologia (Critt) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É autor do livro "Crédito Rural e Produtividade na Economia Alagoana" pela EDUFAL. É colunista do Portal ACESSA.com e foi coautor de artigos na Folha de São Paulo on line (com o colunista Samy Dana, Professor da FGV - SP), de agosto/2013 até janeiro/2015.Saiba mais clicando aqui.

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