Não caia nessa armadilha
Deborah Moratori
24/12/02
Agências de financeiras espalhadas pelo Brasil, anúncio em rádios, outdoors, programas de televisão e jornais impressos e até na Internet. Garantia de dinheiro na hora, sem burocracia. A tentação é enorme...
Quase sempre esse apelo acaba sendo a pior solução e o início de um drama que não parece ter fim. E a promessa de dinheiro fácil se transforma numa armadilha de difícil escapatória.
Sonho de consumo
Sonhando em terminar a construção da casa nova, C. L. foi vítima do golpe do
dinheiro fácil. O anúncio estava nos classificados de um jornal de grande
circulação na cidade. A empresa prometia crédito imediato com pagamento
facilitado.
Por telefone, C. L. fez contato com a empresa mineira Assecom que comercializa consórcios para a Tedesco, de São Paulo. Para ser aprovada no consórcio, segundo C. L., a Assecom exigia um bem a ser hipotecado no mesmo valor do empréstimo concedido como garantia da dívida. Satisfeita essa primeira condição, C. L. teria que comprar um consórcio cujo valor corresponderia a 5,6% do montante emprestado.
As vantagens oferecidas pela empresa eram enormes. Além de a quantia de
entrada de R$1.400 não ser grande - o valor do empréstimo era de R$ 25
mil -,
a liberação do crédito seria instantânea. E o saldo do financiamento poderia
ser efetuado em 11 anos, em 136 parcelas de R$ 254.
Até então as negociações estavam sendo acertadas pelo telefone (31) 3335-6970. Como garantia a Assecom enviava toda documentação por fax ou pelos Correios. Para se certificar de que estava fazendo um bom negócio, C. L. procurou junto ao Procon de Juiz de Fora indícios de que a Assecom era uma empresa idônea.
Tarde demais
Não tendo encontrado nenhuma reclamação contra a Assecom, C. L. decidiu
participar do consórcio. O depósito de R$1.400 foi feito no mês passado e
uma segunda quantia teria vencimento em dezembro.
Ainda desconfiada, C. L. resolveu investigar mais, até que descobriu que a Tedesco estava no ranking das empresas de consórcio que possuem um dos maiores números de reclamação no Banco Central. Tarde demais... O pagamento já tinha sido efetuado. E mais: não poderia cancelar sua participação no consórcio.
"Eu fui até Belo Horizonte e, ao perguntar o porquê de eu não poder mais desistir, ouvi de um funcionário da Assecom que o meu contrato já tinha sido aprovado numa assembléia de que eu teria participado. Só que eu sequer fui convocada para esta reunião. E, quanto ao dinheiro referente à compra do consórcio, só poderei reavê-lo depois que o grupo no qual estou inserida pagar a última parcela da dívida financiada, o que eqüivale a daqui a 11 anos."
Prevenir é o melhor remédio
A realização de um sonho de consumo, de acordo com o responsável pelo Setor
Financeiro do Procon, Wesley Barbosa, na maioria das vezes, é o principal
motivo que leva
o consumidor a procurar os créditos facilitados.
No caso das financeiras, os juros são altíssimos, mas como elas obedecem a regras especificadas pelo Banco Central, dificilmente os órgãos de defesa do consumidor têm como interferir no acordo feito entre essas empresas e o requisitante do empréstimo, explica o advogado.
Mas, segundo o Procon, o que tem acontecido com maior freqüência são pessoas físicas oferecerem o serviço de crédito facilitado através de anúncios. Atraídos pelos juros baixos e condições melhores de pagamento as pessoas acabam caindo nessa armadilha.
E, como essas negociações são feitas quase sempre por telefone, fica difícil investigar ou até mesmo instaurar um inquérito para punir os responsáveis que, na maioria das vezes, somem sem deixar pistas.
Túnel sem saída
Fica difícil até mesmo para o
Procon registrar as reclamações contra esses golpes que
ocorrem freqüentemente.
"Além disso, muitas pessoas são lesadas e não reclamam", justifica
Barbosa.
A divulgação massiva do dinheiro fácil, o quadro geral de dificuldades econômicas e as vantagens oferecidas nos anúncios parecem não oferecer outra alternativa.
E essa saída acaba gerando conseqüências terríveis. "O fácil gera um prejuízo sem proporções". O advogado explica que, em alguns casos, o requisitante do empréstimo pode até ter bens perdidos em função de uma negociação mal sucedida.
Mesmo com os órgão de defesa do consumidor oferecendo todo amparo para quem cai nessas armadilhas, o melhor mesmo é evitar os empréstimos e desconfiar de qualquer promessa muito vantajosa. Mas se eles forem inevitáveis, é recomendável que algumas dicas do Procon sejam seguidas:
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Quando a esmola é muita, o santo logo desconfia.