Vendedores nada ambulantes
Apostando na confian?a, vendedores fazem amigos e ganham clientes mantendo um ponto fixo ao trabalhar nas ruas

Ricardo Corr?a
Rep?rter
21/03/06

Clique no ?cone ao lado e veja o que diz o vendedor de churrascos Lu?s Paulo de Souza sobre as vantagens de continuar sempre atendendo no mesmo ponto.


A confian?a n?o ? algo que se conquista de um dia para o outro. Quando se fala de alimenta??o ent?o, ? mais comum que as pessoas procurem locais confi?veis para fazer suas refei?es ou fazer um lanche r?pido. Talvez isso explique exatamente porque alguns vendedores fazem tanto sucesso na cidade. Sempre no mesmo ponto, apostando na tradi??o e na fidelidade dos clientes. S?o anos, todos os dias, ocupando o mesmo espa?o, vendendo os mesmos produtos, agradando as mesmas pessoas, mas conquistando gente nova a cada dia. Mais do que clientes, fazem amigos.

Lu?s Paulo de Souza ? um desses exemplos de pessoas que provam, a cada dia, como ? poss?vel fazer de seu ponto a sua segunda casa. Ele ? churrasqueiro, mas nem sempre recebe pessoas, na esquina da Floriano Peixoto com a Avenida Rio Branco, para vender churrasco. Muitas vezes eles v?o l? para conversar, bater um papo. No local em 1992, ele comemora a seguran?a financeira que os clientes antigos lhe d?o, mas ressalta: o melhor neg?cio conquistado no ponto ? a amizade.

"Fiz muitos amigos. A maioria dos amigos que eu tenho foi dali. Muita gente que conheci ali freq?enta a minha casa, s?o amigos de verdade", explica Lu?s Paulo, que sabe tamb?m a ajuda que isso d? nas vendas.

"Ali o pessoal j? conhece. J? sabe que vai naquele local e encontra. As pessoas v?o confiando, passam a ter aquela amizade. A maioria j? ? fregu?s antigo", diz o vendedor, que sabe a import?ncia da fidelidade em momentos de crise.

"?s vezes a gente passa por algum momento dif?cil. Fica preocupado. Em ?poca de f?rias, pelo menos. Juiz de fora tem muito estudante. Cai um pouquinho. Mas os tradicionais est?o sempre ali comprando. Os moradores de perto est?o sempre ali", diz Lu?s Paulo.

Vendendo confian?a
Com seu ponto j? conhecido e com a confian?a de seus fregueses, fica dif?cil imaginar que Lu?s Paulo pense em sair dali. E ele confirma: se depender dele, ir? ficar por muito tempo ainda.

"Eu estou satisfeito ali. Pelo que eu tenho de instru??o, estudo, acho que n?o conseguiria coisa melhor. S? no dia que acontecer de a Prefeitura me mandar sair. Enquanto isso vou ficando ali, se Deus quiser at? aposentar", pensa o vendedor, seguindo a tradi??o da fam?lia, que h? 20 anos trabalha com churrasco na cidade. A primeira barraca foi na S?o Jo?o e, seu irm?o tamb?m tem um trailler de churrascos, que fica na Esp?rito Santo h? pelo menos 16 ou 18 anos. No mesmo local.

"? porque trabalhando com alimenta??o sempre ? dif?cil no in?cio. As pessoas n?o te conhecem. ?s vezes est? te vendo pela primeira vez. Aos poucos vai conhecendo, adquirindo confian?a e come?a a dar certo. S? come?a a dar certo seis meses depois que voc? come?a", explica, argumentando que mudar de lugar n?o vale a pena.

Pipoqueiro Carl?o
Ser chamado pelo nome, por engravatados ou crian?as bem pequenas. Ser conhecido e cumprimentado por quem passa, n?o s?o tarefas simples. Mas passe cinco minutos ao lado de Carlos Jos? Evangelista e o seu carrinho de pipoca para entender como isso acontece.

"Carl?o" n?o conseguiu isso ? toa. Nem de um dia para o outro". Ele trabalha ali h? 17 anos e, assuste-se, imagina que faltou apenas em 15, desses mais de 6.200 dias, desde que assumiu o lugar na Avenida Rio Branco, Av. Rio Branco, 2329, em frente ao Pr?-M?sica. Explica-se: ele trabalha de domingo a domingo, ?s vezes com a esposa, Janete Cabral Lavinas Evangelista, ou a filha e sempre com o fiel amigo Nilson Borelli, um senhor calmo que faz a pipoca h? oito anos. O senhor Nilson tamb?m n?o costuma faltar e Carl?o tenta explicar porque tanto trabalho. N?o pergunte se ele est? cansado.

"?s vezes eu penso: vou ficar em casa no domingo. Mas n?o consigo. Vai dando 17 horas, eu pego as coisas e venho. ? uma terapia tamb?m", explica Carl?o, famoso por estar sempre ali, com o radinho ligado em cima do carrinho, vendendo pipoca e distribuindo sorrisos, at? 23h.

Tanto tempo no mesmo local traz resultados pr?ticos. Muita clientela. O tempo todo. Tanto que o senhor N?lson n?o p?ra de fazer pipoca um minuto, enquanto Carl?o atende. Ter tantos clientes tem motivo: confian?a. ? tanta, que Carl?o ultrapassou o trabalho de pipoqueiro para fazer muito mais coisas pelo lugar onde trabalha. Cuida da vizinhan?a como se fosse ali a sua casa. Como costuma ser o ?ltimo a sair, ?s vezes ajuda a fechar lojas, ? respons?vel por fechar o port?o do Pr?-m?sica e at? a porta da frente de um banco exatamente em frente de onde fica a carrocinha famosa.

? l? que Jaqueline Frizeiro compra suas pipocas h? quase os exatos 17 anos em que Carl?o trabalha. N?o lembra exatamente quando foi, mas sabe que foi h? muito tempo. "Desde que ele come?ou. Porque sabemos que ? bem feito e tem a amizade", lembra Jaqueline, que ? uma daquelas que chama o pipoqueiro pelo nome.

Identifica??o. Motivo suficiente para que Carlos Evangelista n?o pense nenhuma vez em sair dali. As coisas s? ficam ruins quando chovem, mas a carrocinha j? tem cobertura e, por isso, fa?a chuva, ou fa?a sol, est? l? o Carl?o, com o chapeuzinho preto na cabe?a e cheio de vontade de continuar.

"Sempre quis ficar aqui. Estou satisfeito aqui e vou continuar", lembra o pipoqueiro famoso, que garante os clientes antigos, mas continua acumulando os novos.

"? a propaganda de boca. Um cliente mais antigo vem trazendo gente nova e assim vai", explica Carl?o, para quem a f?rmula do sucesso parece simples: tradi??o, simpatia e comprometimento.