Marcas juiz-foranas inovam com negócios integrados as novas tecnologias
Aos poucos, empreendedores da cidade trazem novos conceitos para suas marcas, antenados no marketing digital e de experiência
Repórter
29/06/2018
Inovar na forma de vender ou selecionar o produto, na criação da marca ao trazer culturas atuais de consumo. Aos poucos, Juiz de Fora sente um despertar do novo modelo de mercado mais integrado com as tecnologias e comércio online. Fórmulas conectadas com marketing digital e de experiência, com traços de produtos pensados para públicos segmentados e toque de conceitos voltados para responsabilidade socioambiental.
Seja na busca profunda por um sentido ecológico, como fez a Leve-me ou apenas na preocupação do e-commerce pelo Mercado da Salvação, que ainda dialoga bem com seu público através das mídias digitais. A inovação pode ser sentida nos detalhes mínimos. Já pensou em se sentir em casa ao comprar uma roupa ou degustar um prato? Pois esta tática foi muito bem pensada pelas idealizadoras da Casa da Esquina, com planejamento de conteúdo nas redes sociais que fazem todo sentido dentro do estilo.
Pesquisa feita em maio, em Belo Horizonte, pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), aponta que 61,1% das pessoas com acesso à internet fizeram compras pelo comércio online. No mesmo mês do ano passado, esse índice era de 51,9%. Quando foi analisado qual o peso das redes sociais nas compras, mais de 67% dos clientes com acesso à internet responderam que elas influenciam nas suas escolhas.
A consultora de marketing do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Juiz de Fora, Paula Bento, explica que esse sucesso todo do Facebook, Instagram, WhatsApp e Youtube acontece por aproximar os clientes das marcas. "As principais vantagens dos canais online são a facilidade de interação. Você dialoga com o comprador, passa conteúdo de uma maneira mais amigável. O diálogo também pode ser trabalhado de forma mais segmentada, mas muitos ainda não se acostumaram com este modelo e oferecem informações que não são relevantes, o que chamamos de 'panfletar na internet'". A pesquisa do Fecomércio MG mostra que cerca de 90% das lojas fazem postagens nesses canais, mesmo que, às vezes, para divulgação da marca e dos seus artigos. No entanto, somente 11% oferecem materiais de apoio ou educativos aos compradores.
Para fazer dar certo todo trabalho envolvendo a internet, a consultora de marketing do Sebrae de Juiz de Fora diz que é preciso conhecer as ferramentas disponíveis neste espaço virtual e suas particularidades. Exemplo disso são as plataformas e-commerce, em que o empreendedor precisa avaliar as políticas de cobrança do sistema de transação online, para que tudo esteja dentro do preço do produto, além da logística de entrega. “Às vezes você acha que consegue colocar seu preço muito barato e competitivo, mas não presta atenção nisso e toma prejuízo. Outra questão é a geração de tráfego para seu site, quando ele fica escondido em um domínio, dificilmente haverá conversão de vendas. É importante pensar nos gastos com impulsionamentos no Facebook e Instagram, gastar tempo para elaborar foto, fazer descrição relevante”.
Para empresários que querem trazer seu negócio para o ambiente virtual, Paula orienta que a pessoa faça, inicialmente, um planejamento detalhado. Confira três passos listados pela a analista do Sebrae JF:
Mesmo com a comodidade das compras pela internet, o acesso ao produto em espaços físicos não vão deixar de ser relevantes, segundo a analista. Ela explica que a preocupação que os lojistas precisam ter é entender as mudanças de comportamento de consumo dos seus clientes e buscarem estar presentes em todos os lugares e momentos de compra deles. "Se o seu consumidor quer navegar pela internet, buscar por informação de seus produtos pelo Facebook, andar pela rua e ver sua vitrine, estar em um evento e ver uma ativação de live marketing, você precisa estar lá. É possível mapear se seu comprador está em todos os lugares", aconselha. Paula comenta que os analistas de marketing digital falam muito sobre omni channel, que é você integrar todos os canais e fazer com que o cliente perceba que em qualquer dos canais estará disponível para atendê-lo. "A experiência tanto na loja física, quanto online deve ser rica e diferenciada.".
Entre, a Casa é sua!
A vitrine intimista desperta atenção de quem atravessa a Rua São Mateus, esquina com a Carlos Chagas. Acham bonito, mas não sabem se entram. Na dúvida, aconselho a entrar! A Casa da Esquina, das sócias Raíssa Pedrosa, Roxane Alves, Tamiris Negrão e Flávia Botti convida a sentar, conversar, sentir cheiros e experiências muito antes de comprar ou comer algo. A loja, coworking, sala multiespaço e risoteria coexistem em um único imóvel de três andares conectados por uma escada lateral.
Inaugurada em setembro de 2016, a Casa iniciou suas atividades depois de um planejamento detalhado que durou um ano. Raíssa conta que morava no Rio de Janeiro e já trabalhava como fornecedora de uma das marcas vendidas por Roxane. Logo depois, vieram as sócias Tamiris e Flávia, que ficaram responsáveis pelo antigo Bistrô, que foi reposicionado como risoteria meses depois do lançamento. “Fiz contato com a nossa fotógrafa Téa que indicou o imóvel. A ideia nasceu de uma vontade que a gente tinha de frequentar um lugar diferente na cidade, que fugisse do tradicional. No Rio já existiam espaços que nos inspiraram, onde somava moda, gastronomia, exposição, workshop. Assim, dividimos as tarefas e cada uma ficou responsável tanto por atividades burocráticas, quanto criativas, operacionais”.
Além do aconchego, o cliente encontra na loja produtos de decoração, papelaria, acessórios, roupas cheias de conceitos sustentáveis, sociais e responsáveis. Raíssa explica que a curadoria das marcas locais ou de outros estados são muito bem pensadas. “Já trabalhamos com blusas sustentáveis, sociais, acessórios de uma marca que extrai suas pedras de uma reserva autorizada. Agregamos qualidade com outras questões que trazem um sentido”. Roxane enfatiza que desde o início a Casa foi criada para se tornar um lugar em que as pessoas vivam uma experiência. “Tudo é muito convidativo. Entrar por uma porta, nos encontrar sempre aqui, acaba trazendo uma sensação de familiaridade. Tem clientes que já vêm só para conversar, outras compram algo, sobem para comer. O sentimento é de estar em casa mesmo”, diz.
As sócias contam que a divulgação é feita nas mídias digitais - Facebook, Instagram e site, com conteúdos produzido por elas junto com fotógrafa e agência. Quem navega pelas páginas percebe um padrão na identidade visual, além do conceito despojado, leve e descontraído bem 'amarrado' em todas as páginas, com conteúdos que se complementam. No story do Instagram, elas que são as modelos. Mostram as coleções em ambientes familiares, sem poses ou padrão. “Começa pelas modelos. Como não somos 'carão' (rs), as imagens saem com o nosso jeito. Desde o início pensamos em criar conteúdo próprio, mostrar para as pessoas o que acontece aqui”, diz Roxane.
Raíssa detalha que a proposta é que elas façam as combinações das peças, muitas vezes, diferente da forma como as marcas querem vender. “Tem vezes que a roupa vem com proposta de combinar com salto, mas queremos mostrá-la com um tênis e casaquinho. Somos assim! Trabalhamos o casual, com peças que transitam do dia para noite. Assim, a cliente se vê na roupa, cria uma identificação”. Ela completa ainda que a intenção não é gerar volume de vendas. “A intenção da loja é fazer uma venda sincera, de peças que poderão ser usadas muitas vezes de diferentes formas”.
Trabalhar com marketing de conteúdo também é outra proposta da Casa, com o blog chamado 'Jornal', que pode ser acessado no mesmo endereço eletrônico do site. Os conteúdos de moda, gastronomia, comportamento, beleza entre outros são escritos por parceiros que estiveram envolvidos em etapas do espaço, ou, até mesmo, clientes. Segundo as empresárias, os textos são sobre áreas afins ao local. O conteúdo é disparado por e-mail para cadastrados em um formato newsletter. “Música tem a ver com a Casa, livro, fotografia. Tanto é, que já tivemos lançamentos de poeta, livro, exposição fotográfica, shows na vitrine. Nas salas multiespaço fazemos workshops, oficinas de diversos temas".
O restaurante também se adaptou aos moldes do projeto. Antes Bistrô, todo cliente que chegava pedia risotos de outros sabores. "Pensamos, porque não transformar aqui no primeiro restaurante especializado neste prato na cidade? Foi ai que nasceu o reposicionamento. Também trazemos o descontraído para cá com chefes diferentes toda quarta, rodízio na sexta e almoço no sábado", explica Raíssa. Tamiris acrescenta que hoje ela tenta trazer outra cultura de bebidas, que é o consumo do vinho. "Não trabalhamos com cerveja artesanal, igual grande parte dos estabelecimentos. Oferecemos taças de vinho branco, tinto e rosê, além de drinks com a bebida. Uma forma de inovar, criar outro costume", destaca, lembrando que outra ação sustentável foi a retirada do uso do canudo de plástico, já proibido no Rio de Janeiro.
Moda sustentável do tecido ao tingimento
Ainda hoje marcas estimulam compras desnecessárias, com consumo de quantidade. Mas, o olhar responsável sobre atitudes mínimas estão tornando os consumidores mais exigentes e a mudança deste comportamento vem crescendo em todo o mundo, tornando-se uma tendência que engatinha no Brasil. Pensar nos impactos ambientais e sociais, com mecanismos de produção responsável do produto - sem exploração de reservas, uso de trabalho escravo, poluição; já impactam na venda.
Neste processo, algumas marcas com produção em pequena escala têm ganhado o cenário com conceitos robustos. Uma delas é a juiz-forana Leve-me, da arquiteta, professora de yoga e modelista, Marcela Cimini. As peças são com modelagens próprias, feitas em tecido orgânico e tingimento natural com corantes extraídos das sementes, cascas, raízes e folhas. A empreendedora conta que durante sua formação, sempre teve afinidade com a arte e meio ambiente. Chegou a dar aulas na universidade, mas a inquietação de buscar algo que conciliasse com outros planos a levaram para o mercado da moda sustentável. "Vivi um processo até chegar na Leve-me. Quando fiz mestrado de ambiente construído, cheguei a produzir com uma amiga umas camisetas que já tinham simbologia ligada a natureza. Eu desenhava as estampas, fazia o silk. Neste período já martelava algumas ideias, mas não havia recurso. Por isso, deixei o projeto adormecido, passei em um concurso e fui dar aulas".
Percebendo que não conseguiria se adaptar ao modelo de ensino vigente, Marcela decidiu largar parte das aulas e iniciar um curso técnico de corte e costura. "Voltei a desenhar, aprender sobre estilo, criação. Dentro da moda sustentável existem várias formas de reaproveitamento como transformar roupas que não usamos mais, reutilizar tecidos descartados e a sustentabilidade com uso de novas tecnologias, mas minha busca era mais profunda. Foi quando cheguei nos tecidos orgânicos e tingimentos naturais. Conheci o trabalho do químico de São Paulo, Eber Lopes, que já possui uma pesquisa sólida etnobotânica".
Depois de descobrir as técnicas, Marcela foi atrás dos cursos e iniciou as vendas em novembro de 2017. “Fiz uma primeiro curso com eles, mas não ensinaram como fazer a extração do corante das sementes. Tive que esperar mais uma ano até que Eber abrisse a primeira turma, em uma fazenda no sul de Minas. Neste meio tempo, cheguei a fazer uma imersão em uma Vila de Permacultura no sul da Bahia, próximo a Tacaré, onde fiz contatos e amadureci meus conhecimentos”. A modelista lembra que ainda precisa comprar algumas tintas, fornecidas pelo químico, mas já faz seus próprios corantes, extraídos do urucum – que sua irmã lhe manda, de onde mora, na região da Serra do Espinhaço, em Diamantina, raiz de cúrcuma (açafrão), casca do barbatimão, casca de jabuticaba, casca de cebola. Alguns são trazidos do sítio de seu pai, que fica em Piedade de Caratinga. “Começamos a plantar algumas espécies e outras estamos pesquisando se tem no sítio”.
A maior parte dos tecidos tem como base o algodão orgânico, que são a malha e ribana – algodão com elastano, outras peças são feitas com tecido que tem como base o tricoline e o cânhamo - variedades da planta Cannabis ruderalis. A modelista usa como técnica para tingimento das peças, desenhadas por ela e confeccionadas em parceria com uma costureira, o shibori (amarração) e a indonésia, com uso da cera, chamado batik.
Para começar a ter a marca conhecida, a Leve-me foi vendida em feiras em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, na Babilônia Feira Hype. “Fiz meus primeiros contatos nestas feitas, onde consegui vender mais peças. Nas feiras em Juiz de Fora, as pessoas acham interessante, mas ainda não entendem bem o que é. Existe um público específico, ligado ao auto conhecimento, que já entende melhor que a roupa traz uma vibração da natureza, igual tomar um chá com propriedades de cura. Ela também emite uma energia”.
Pela necessidade de fortalecer as vendas online e mostrar melhor conteúdo nas redes sociais, Marcela Cimini voltou a ser agenciada para melhor divulgar o conceito de sua marca, além de melhor o posicionamento no Google de seu e-commerce. “Também estou em busca de revendedoras. Tenho uma em São Paulo e outra amiga que conheci na vila de permacultura, que pretende realizar um sonho meu, que é internacionalizar a Leve-me, levando ela para a Alemanha. Comparado com outras marcas sólidas neste setor, a minha ainda tem um preço bem abaixo, mas somo novos, por isso a necessidade de fortalecer nossas mídias digitais”.
Outra proposta já crescente em cidades maiores é a criação de show room das marcas de e-commerce. São espaços onde a pessoa pode experimentar a peça, mas possui estrutura de loja, com vendedores e estoque. “O cliente pode ver a experimentar neste local e comprar online com a cor e modelo personalizado e receber em casa. Meus produtos já são vendidos em um espaço onde ministro aulas de yoga. Já é um primeiro formato dessa ideia”.
Valor do produto vai além da venda
Trabalhar estampas estilizadas e produtos diversos e criativos sempre nortearam a empreendedora, professora de design e artista plástica, Daniela Brito. Ela criou a marca Mercado da Salvação de forma despretensiosa, em 2005, e hoje começa a crescer nas plataformas e-commerce em Juiz de Fora. Sua loja virtual reúne mix de roupas com estamparia manual, acessórios de cabeça, maquiagem artística, itens de decoração, craft e papelaria. “Comecei vendendo mais blusas personalizadas com a estética sacra, mística, com signos e símbolos dentro de da diversidade de religiões. Daí que surgiu o nome. Mas, anos depois, vi que tinha fechado muito o nicho e resolvi abranger uma linha mais pop. Hoje quase tenho um mercado mesmo (rs), com peças grandes e pequenas”, explica.
Sua peregrinação pelas plataformas de vendas online foi longa, com experimentação de diversos sites. “Como eu também trabalhava em outros lugares, pensei que seria bom colocar os produtos na rede para ficar conhecida. Já tentei o Iluria, o Tanlup, mas não deram certo. Cada um oferece uma política de cobrança e divulgação diferente. Em 2011, apostei no Elo7 e gostei. Vender pela internet tem suas facilidades, mas é preciso estar atento nas taxas e percentuais cobrados na venda. O dinheiro não vai direto para o banco, por isso, você precisa de uma conta no banco virtual, que também cobra taxas. Hoje uso o Moip e o Pag Seguro. Também existem os valores do frete, que dentro do Elo7, o cliente já pode calcular. No final, o vendedor precisa embutir vários preços para não sair no prejuízo”, detalha.
Já no final do ano passado, uma pausa na sua carreira foi fundamental para que Dani repensasse em como prosseguir com sua marca online. Ela procurou uma agência e criou um site e-commerce do Mercado da Salvação, com todos os canais interativos, redes sociais e portifólio, mas optou por não migrar totalmente para seu site, mantendo também a plataforma anterior. “Quando quebrei meu dedão do pé ano passado (rs), aproveitei para repensar tudo que já tinha feito até então. Sentia que faltava identidade visual, conceito e cara da marca. Hoje uso o Elo7 anexo ao novo site. Nele, divulgo tudo que preciso, até os cursos e oficinas presenciais”, explica.
Mesmo online, a empreendedora garante que os cuidados com a loja precisam ser iguais aos estabelecimentos físicos. Ela destaca que é importante sempre organizar sua vitrine, trocar fotos, produtos, para que os clientes retornem na página. “Como a pessoa vai comprar pela que ela ver na imagem, a descrição com tamanho, material, cor, precisa estar nos mínimos detalhes. Para alguns produtos, também já fiz tutoriais em vídeo de como usar, como o dread de lã”.
Outra necessidade que ela sentiu, ao decidir profissionalizar seu negócio, foi alugar um espaço em um Atelie Coletivo, na rua Benjamin Constant, em parceria com dois estilistas e duas costureiras. Com maior parte do seu tempo agora voltado para o Mercado, Dani Brito afirma que rever e aprofundar na marca é muito trabalhoso. “Preciso entender quais produtos manter, cortar coisas, criar coleções. Além disso, com maturidade percebi que não dá para pensar só na venda, as pessoas querem informação de como construir outro. Por isso, estou me preparando para criar conteúdo de vídeo no Youtube, e, agora, no IGTV, no Instagram”, diz. Ela também tem projeto de criar cursos online de algumas técnicas criativas que sente falta nas mídias digitais.
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