SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O juiz Claudio Juliano Filho aceitou a denúncia do Ministério Público contra Henrique Otávio de Oliveira Velozo, policial militar que matou Leandro Lo com um tiro na cabeça, e o tornou réu pela morte do campeão mundial de jiu-jitsu. A Justiça também converteu sua prisão temporária, que venceria hoje, em preventiva, na qual não há data para o acusado ser liberado. A notícia foi dada inicialmente pelo portal "g1", e confirmada pelo UOL Esporte.
Na decisão do magistrado, à qual a reportagem teve acesso, o tenente da PM é descrito como uma "pessoa altamente perigosa, que, em liberdade, coloca em risco [a] ordem pública" e, por isso, deve permanecer preso. Velozo está há um mês no presídio Romão Gomes, em São Paulo. "Segundo informações constantes dos autos, o réu tem o costume de andar armado, sem qualquer necessidade, em ambientes públicos e onde são vendidas bebidas alcoólicas, o que multiplica as possibilidades de resultados análogos ao narrado na denúncia", escreveu o juiz.
O MP ofereceu a denúncia contra Henrique por homicídio triplamente qualificado, crime cometido no dia 7 de agosto.
Na denúncia, o órgão acrescentou as seguintes qualificadoras do homicídio: por motivo torpe; com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; e à traição, de emboscada.
"Trata-se de crime gravíssimo, homicídio triplamente qualificado, praticado covardemente por Policial Militar que, embora estando de folga, portava sua arma particular e a disparou para matar a vítima, em local onde ocorria um show que reunia mais de mil pessoas", escreveu o promotor Romeu Galiano Zanelli Júnior.
"De um policial a sociedade espera exatamente o oposto, que a sua conduta transmita proteção e segurança aos membros da comunidade, que jamais venham dele atos de violência e desrespeito para com as vidas dos seus semelhantes. Aliás, foi amplamente divulgado que, após atirar, ele chutou a cabeça da vítima já caída, na frente de muitas pessoas que a tudo assistiram, o que evidencia mais uma vez a sua brutalidade e o já referido desprezo a vidas humanas."
Em nota enviada à reportagem, Cláudio Dalledone Júnior, advogado do réu, diz que "a denúncia é uma hipótese acusatória que destoa completamente do que foi produzido no inquérito policial e o que será desvelado na investigação judicial".
"As qualificadoras são descabidas e tudo isso ficará firmemente provado no momento em que o processo for devidamente instaurado. A conclusão do inquérito policial se deu de forma açodada, uma vez que sequer aguardou-se a produção do laudo da reprodução simulada dos fatos que, entre outras coisas, apresentou inúmeras contradições com os depoimentos das testemunhas".
A defesa de Henrique Velozo, que preferiu ficar em silêncio em seu depoimento à polícia, argumenta que o PM agiu em legítima defesa ao ser cercado pelo lutador Leandro Lo e seus amigos.
No último dia 31, a Polícia Civil realizou a reconstituição do assassinato do lutador, que ocorreu no começo do mês em uma balada na zona sul da capital paulista.
Henrique Velozo, que admitiu ter atirado na cabeça do lutador, não participou da simulação dos fatos que levaram à morte do atleta. A simulação é feita com base no depoimento das testemunhas que falaram com a polícia.
A BRIGA
Segundo o depoimento de um amigo de Leandro, o tenente da PM abordou Lo e colocou copos vazios em suas mãos. O ato, visto como uma provocação, incomodou o campeão mundial, que relatou o incômodo ao amigo.
Imediatamente após essa provocação, ainda segundo a testemunha, Velozo voltou à mesa de Lo, pegou uma garrafa de uísque e a ergueu, em "nítida provocação" ao lutador. Segundo as testemunhas, o campeão de jiu-jítsu então derrubou o PM e posicionou-se sobre o peito do policial.
"O autor [Henrique Velozo], após se levantar, caminhou alguns metros em sentido oposto ao de Leandro, dando indícios de que a desavença havia cessado e que deixaria o lugar, todavia, de maneira brusca e inesperada, sacou uma arma de fogo que levava consigo sob suas vestes, presa ao cós de sua calça, voltou-se para a vítima e disparou contra a sua face, alvejando-a na testa", afirma o relatório da polícia, descrevendo o relato de uma das testemunhas.
Segundo a mãe de Lo, Fátima, o filho e o PM já se conheciam, e Velozo foi à casa noturna com a intenção de matar o campeão mundial.
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