SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A mudança brusca de temperatura e a poluição atmosférica agravada pelo tempo seco devem mais uma vez desafiar a saúde dos moradores da capital paulista.

Enquanto na sexta-feira (9) os paulistanos tiveram um dia com temperatura acima de 33°C e umidade abaixo de 20%, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), neste fim de semana a temperatura deve cair para 12°C, alterando o comportamento do organismo.

O médico Olavo Mion, membro do departamento de alergia da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), explica que para o nariz cumprir adequadamente as funções de aquecer, umidificar e filtrar o ar, o ideal é que o ambiente já esteja mais quente, limpo e úmido. Quando a condição não é adequada --dias frios, secos e com maior poluição--, a tarefa do nariz se torna mais desafiadora e todo o sistema respiratório sofre em conjunto.

Nesses dias, o organismo produz muco como uma forma de umidificar o ar antes de ele chegar aos pulmões e, com o frio, é natural o sistema se fechar para evitar a perda de calor. O resultado disso é acúmulo de secreção.

"Ao longo do dia, entramos em contato com diferentes ares, que podem ser bons ou ruins, e a mucosa vai reagir de acordo. A pessoa fala: 'Mas ontem eu estava bem'. Só que o ar de hoje não é o mesmo de ontem", diz Mion.

Para piorar, essa agressão pode levar a inflamações como as famosas rinites, dificultando a respiração. O ar começa a ser puxado pela boca, que não tem a capacidade de filtro do nariz, entra no organismo mais poluído, seco e frio, irrita a garganta e favorece o surgimento de problemas como faringite.

"Nossos sistemas precisam de tempo para se ajustar. As mudanças bruscas de temperatura são agressões muito grandes. E como o corpo responde a agressões? Inflamando", explica o otorrinolaringologista.

A inflamação no pulmão, por sua vez, relaciona-se a aumento de muco e contração dos brônquios, dificultando a passagem do ar, diz a pneumologista Patricia Canto, coordenadora da Comissão de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia). Isso tudo com poluentes e diferentes vírus e bactérias no ambiente, que tende a ficar mais fechado com as baixas temperaturas.

Os mais afetados por esse conjunto desfavorável, diz Canto, são crianças menores de cinco anos, idosos e pacientes imunodeprimidos. O calibre das vias aéreas das crianças é menor e seu sistema imunológico ainda não está plenamente desenvolvido, ao passo que pessoas acima de 60 anos têm imunidade reduzida e uma perda na capacidade de regulação térmica.

Simone Fiebrantz, presidente do departamento de gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), diz que é comum, por exemplo, idosos usarem roupas pesadas mesmo em dias mais quentes, o que aumenta o risco de desidratação, ou então ficarem com as extremidades muito geladas em dias frios.

"Se é uma pessoa com diabetes e circulação periférica comprometida, isso pode causar pequenas necroses nas pontas dos dedos. Também há idosos que colocam bolsa de água quente junto ao corpo e, pela perda de sensibilidade, acabam com uma queimadura. É necessário maior cuidado", alerta.

Lista **** Ela também recomenda atenção às queixas frequentes nos dias frios. Há uma tendência do corpo de se contrair para evitar a perda de calor e a contratura muscular pode gerar desconforto. Além disso, idosos com próteses podem sentir maior incômodo. Para diminuir o problema, ela sugere compressas, bolsa de água quente ou de sementes no local, e luvas, meias e touca para diminuir a perda de calor.

Outro grupo mais suscetível é o de pacientes com histórico de problema pulmonar ou cardíaco. Um estudo publicado em 2019 na revista Scientific Reports, do grupo Nature, calcula 661 mortes anuais por infarto em São Paulo atribuídas a baixas temperaturas.

"No frio, os vasos sanguíneos ficam mais inflamados e o indivíduo fica mais propenso a ter formação de trombose, o que é um mecanismo do infarto", afirma João Fernando Monteiro Ferreira, presidente do conselho administrativo da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).

Adicionalmente, o frio pode levar a um aumento da pressão arterial, o que colabora para eventos cardiovasculares, e a situação piora se além da baixa temperatura houver poluição.

"Temos estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP mostrando que, em picos de poluição atmosférica, aumentam os atendimentos por arritmia, angina e infarto. Isso acontece porque as partículas mais finas são inaladas, chegam aos alvéolos, passam para a corrente sanguínea e provocam inflamação dos vasos", explica o pneumologista e pesquisador José Eduardo Cançado.

Ele enumera ainda efeitos crônicos da poluição, como prejuízo no desenvolvimento pulmonar de crianças e adolescentes e maior risco de câncer, neste caso porque as micropartículas que passam para a corrente sanguínea podem levar a alterações no DNA das células.

"Não existe nível seguro de poluição atmosférica, e é muito importante trabalhamos para reduzir todas as fontes, incluindo queimadas e a poluição por veículos e indústrias. Não vemos, por exemplo, políticas voltadas para melhorar o transporte público", critica Cançado.


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