SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com prisão preventiva decretada enquanto está fora do Brasil, o empresário Thiago Brennand, 42, enfrenta uma série de acusações no país. As histórias se tornaram públicas após ele agredir uma modelo em uma academia de luxo em São Paulo, em agosto deste ano.
Após a repercussão do caso, Thiago, que utiliza sobrenome tradicional de Pernambuco, já foi denunciado por outras vítimas pelos crimes estupro, lesão corporal, além de ter medida protetiva da própria família.
A mais recente polêmica, por sua vez, envolve o Ministério Público. Segundo a juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, ele enviou um email "substancialmente ameaçador" à instituição, reclamando sobre o fato de uma promotora ter errado o nome dele.
De mau comportamento a agressões, veja a linha do tempo do caso de Thiago.
*
AGRESSÃO EM ACADEMIA
O início Câmeras de segurança de uma academia de luxo na cidade de São Paulo flagraram o momento em que a modelo Alinny Helena Gomes foi agredida pelo empresário durante um treino na noite do dia 3 de agosto. Segundo ela, Thiago estava "alterado" e teria pedido para que ela saísse do local, ainda que o estabelecimento estivesse vazio.
À reportagem, Helena contou que ele bateu com as duas mãos em seu tórax, a empurrou com força, puxou chumaços de seus cabelos e depois cuspiu em seu rosto. O filho do empresário, que treinava com o pai, passou a xingá-la também e a ameaçar quem se aproximasse para ajudar. No boletim de ocorrência registrado na polícia, testemunhas confirmaram a agressão relatada pela modelo.
Helena também disse que teria sido orientada por outras mulheres que treinam na academia para se manter afastada do empresário que, segundo elas, "não aceitava o 'não'" como resposta às suas investidas como "conquistador".
Após o episódio, duas mulheres afirmaram ao programa "Fantástico", da TV Globo, que Thiago passou a persegui-las ou ameaçá-las após elas rejeitarem investidas dele.
O advogado da época, Paulo Amador Thomaz da Cunha Bueno, disse que apenas "pessoas maldosas" acreditariam que o empresário seria uma pessoa que se frustraria a não ser correspondido em flertes.
A academia Bodytech rompeu contrato com o suspeito logo após o episódio. Ao todo, oito testemunhas se prontificaram a depor a favor de Helena e a Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar Thiago por lesão corporal e injúria.
DENÚNCIAS NO FANTÁSTICO
Durante a investigação sobre o caso da modelo agredida, outras supostas vítimas do empresário começaram a contar suas histórias. O "Fantástico", da TV Globo, apresentou no domingo (2) depoimentos de mulheres, familiares e funcionários de estabelecimentos frequentados por ele no dia 4 de setembro, quase um mês após a agressão contra a modelo Helena.
Uma mulher, que não quis mostrar o rosto, disse ter sido vítima de cárcere privado, agressões e estupro na casa de Thiago. Os dois tinham iniciado um relacionamento pelas redes sociais e ela decidiu viajar para encontrá-lo em São Paulo. A mulher disse que teve um início "ótimo", mas passou por momentos de terror na mansão do empresário após negar-lhe acesso ao celular dela.
"Ele tomou o telefone da minha mão, me empurrou no chão, me deu um tapa na cara e me forçou a colocar o código no telefone", contou. Segundo ela, as agressões continuaram até que ele a teria estuprado. O caso chegou a ser denunciado à polícia pelo irmão dela, mas ela conta que, sob ameaça, teria desmentido a história em depoimento. Ainda conforme o relato, Thiago também divulgou imagens íntimas dos dois para diversos grupos na internet.
A mulher ainda contou que eles teriam ido até São Paulo para jantar, e acabaram em um estúdio de tatuagem, onde ela foi obrigada a fazer uma tatuagem com as inicias de Thiago, que teria dito: "você agora é propriedade minha".
A investigação policial foi arquivada por falta de provas e o caso foi encerrado em junho deste ano. No relatório, a delegada responsável pelo caso disse que Thiago não tem antecedentes e que nunca foi alvo de processo por uso de armas de fogo, apesar de ter uma coleção delas. A responsável pelo inquérito também questionou a conduta da vítima.
Outra denúncia era de Vitor Machado, que trabalha em um hotel do condomínio onde mora Thiago. Ele disse que foi agredido quando saía do serviço, de moto, por supostamente ter passado "correndo" na porta da casa dele.
O rapaz alega que andava a no máximo 25 km/h e registrou boletim de ocorrência contra o empresário. Ele realizou um exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal) de Sorocaba, mas afirma que o laudo "sumiu". Quase dois meses depois da agressão, e usando fotos do dia, o funcionário fez outro exame. Thiago registrou uma ocorrência contra ele por calúnia.
O funcionário de um hospital em São Paulo disse que foi chamado de "bosta" e "palhaço" por Thiago que, ao ser respondido, teria dado um soco nele. O trabalhador registrou um boletim de ocorrência por agressão, mas desistiu do processo por achar que perderia.
Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, pediu que legalmente a proibição do empresário de se aproximar dele e da sua família. Segundo o advogado do medalhista olímpico, Thiago ameaçava invadir a hípica do cavaleiro e agredir quem estivesse no caminho.
Em mensagens e ligações, o empresário, que se diz faixa preta de jiu-jitsu, enaltecia sua própria habilidade como lutador. Em um trecho mostrado pelo Fantástico, Thiago fala para Doda que está "vestindo a roupa" e que vai "bater na sua cara"
Primo de primeiro grau de Thiago, Jason Vieira conta que o empresário já mandou um caixão e uma coroa de flores para a porta de sua casa com a mensagem: "Jason do câncer, cancinho [sic], descanse em paz". O "apelido", seria uma referência ao câncer que o homem trata. "Já tá todo mundo sabendo da metástase, ô cancinho. Que pena, hein? Parece ferrugem no teu corpo, né?", diz Thiago em áudio veiculado pelo Fantástico.
THIAGO DEIXA O BRASIL
No mesmo dia da exibição do programa, Thiago Brennand deixou o Brasil. Ele embarcou horas antes de ser denunciado pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo) por lesão corporal e corrupção de menores pelo caso da agressão na academia. A viagem de Thiago Vieira ao exterior foi confirmada ao site UOL TAB por fontes da Polícia Federal. O empresário passou pela imigração à 0h10 no dia 4 de setembro rumo à Dubai, nos Emirados Árabes, antes das novas denúncias contra ele irem ao ar. A expectativa era a de que ele retornasse no dia 18 de outubro.
Posteriormente naquela semana, a Justiça reabriu o caso contra a mulher que foi estuprada, mantida em cárcere privado e forçada a fazer uma tatuagem. O inquérito foi reaberto por um período de 30 dias com base em requerimento apresentado pelo MP-SP, conforme decisão do juiz Jorge Panserini, da 1ª Vara Criminal de Porto Feliz.
Os advogados de Thiago Brennand disseram que ele nunca forçou as parceiras a terem relações sexuais sem preservativo, e que sempre houve respeito, limites e que as relações eram consensuais. Sobre as acusações de estupro e cárcere privado, disseram que a história foi "rigorosamente investigada pela polícia", que o MP pediu o arquivamento do caso e que a Justiça acatou.
A juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas, em resposta à denúncia feita pelo Ministério Público de São Paulo, determinou no dia 9 de setembro que Thiago retornasse ao Brasil no prazo de 10 dias. Além de determinar a volta de Thiago ao Brasil, a juíza também proibiu que ele saia do país "sem prévia autorização judicial" e que frequente "academias e/ou estabelecimentos desportivos similares".
Thiago, no entanto, não retornou. Até o momento, o paradeiro exato do empresário é desconhecido, mas acredita-se que ele esteja nos Emirados Árabes.
SEM DIREITO A HERANÇA
Uma outra história envolvendo o próprio filho de Thiago surgiu em meio às polêmicas. Em 2020, o empresário foi alvo de um inquérito por agressão contra o garoto, de quem ele tem a guarda desde criança. Na época com 14 anos, o rapaz relatou em depoimento à Delegacia de Polícia de Crimes contra Criança e Adolescente, em Pernambuco, uma série de maus-tratos por parte do pai.
O menino foi levado à polícia pela mãe, que mora no Recife. Ele fugiu de São Paulo após ser agredido por Thiago. Segundo o adolescente, desde os quatro anos, ele apanhava do pai, "mesmo que fosse por besteira". Os episódios, detalhou, incluíam agressão com objetos com fio de carregador do celular, corda, galho de árvore, baqueta de bateria e cabides de roupa.
Dois dias depois do depoimento, em 17 de abril, o adolescente voltou à delegacia e desmentiu-se: disse que as marcas no corpo eram "outras coisas" e pediu para "alterar tudo" no depoimento. "Foi mais um ato de rebeldia", explicou-se. Thiago Vieira negou as agressões em depoimento e o inquérito foi arquivado.
Também durante o início de setembro, um integrante da família de Thiago afirmou que nenhum dos 38 primos dos Fernandes Vieira fala com ele. Pais e os irmãos também não têm mais contato.
O desgaste da relação levou a família a antecipar a parte do filho na herança, há 15 anos, e a pedir uma medida protetiva que proíbe qualquer contato.
Dias após a divulgação do caso, o telejornal "SP1", da TV Globo, exibiu uma reportagem no dia 16 de setembro que informou que Thiago era investigado por agredir outras 11 mulheres. Entre as novas vítimas, 10 dizem ter sido estupradas, sendo que duas relataram que o agressor tatuou suas iniciais nelas. Os crimes teriam ocorrido entre 2017 e 2022, segundo documentos aos quais a reportagem teve acesso.
O Ministério Público informou estar investigando as novas denúncias, e as informações estão sob sigilo.
DEFESA
No dia 21 de setembro, o escritório Cavalcanti Sion Advogados deixou a defesa do empresário Thiago. A saída foi potencializada pelas novas denúncias de crimes sexuais contra o empresário. O Cavalcanti Sion, dirigido pelas advogadas Dora Cavalcanti e Paula Sion, tem uma equipe formada predominantemente por mulheres.
A assessoria de imprensa do escritório apontou que, agora, Thiago é representado por dois escritórios: Alves de Oliveira e Salles Vanni, de São Paulo, e Carlos Barros e Gustavo Rocha Advocacia Criminal, do Recife. Conforme a assessoria, os dois escritórios já representavam o cliente anteriormente. Os motivos da saída do Cavalcanti Sion não foram informados.
AMEAÇA AO MP
A juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas, responsável pelo decreto de prisão preventiva contra Thiago, afirmou que ele havia enviado um um e-mail "substancialmente ameaçador" ao Ministério Público, segundo informou o colunista do site UOL Rogério Gentile. O relato estava na própria decisão da magistrada, publicado no dia 26 de setembro.
Na mensagem, segundo a ela, o empresário reclama do fato de uma promotora ter errado o seu nome. "V.Exa. escreveu meu nome de maneira triplamente errada, tão errada que aparenta ter sido propositadamente errada. Não posso me furtar de registrar que a impressão que o referido erro deixou, pela sua forma, é que teve a função de paliar um embuste", disse ele.
"É como se vestisse a função de ocultar o imo pessoal daquele esquete, como se meu nome fosse apenas mais um nome. Permanece a questão: quem, por acidente de leitura, ou memória, transformaria Thiago Antonio Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira em 'Tiago Brennand da Silva Fernandes'?"
Para a juíza, a "ousada postura adotada pelo réu evidencia sua predisposição a coagir terceiros e a interferir no regular trâmite da ação penal, o que reforça a necessidade de se decretar sua prisão preventiva".
O processo corre sob segredo de Justiça.
PRISÃO PREVENTIVA
A Justiça de São Paulo decretou a prisão preventiva de Thiago no dia 26 de setembro. Com o pedido, ele passa a ser considerado foragido da Justiça e já pode ter o nome incluído na lista de procurados pela Interpol. A partir daí, qualquer país signatário de tratados de extradição pode enviá-lo de volta ao Brasil.
Em novembro do ano passado, os Emirados Árabes, para onde o empresário viajou, assinou um acordo de extradição com o governo brasileiro.