SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil investiga se houve motivação política no assassinato do ex-vereador Reginaldo Camilo dos Santos, 51, o Zezinho do PT. Ele foi morto a tiros no dia 28 de outubro, em Jandira, região metropolitana de São Paulo.
O trabalho de Zezinho em denunciar supostas irregularidades do Executivo municipal é apurado em uma das linhas de investigação, feita por uma força-tarefa que envolve três delegacias. Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso.
"Ele era um cara que vivia denunciando o Executivo municipal, por irregularidades em licitações, este tipo de coisa, há muitos anos. Então, sim, tem um viés político aí que pode estar relacionado com a morte dele, mas não descartamos outras hipóteses", disse à Folha de S.Paulo o delegado Marcelo do Prado, titular do 1º DP de Carapicuíba, no último domingo (13).
Zezinho foi morto a tiros a cerca de um quarteirão de distância de sua casa, quando ia visitar um conhecido. O assassino ocupava um Volkswagen Voyage preto, de onde atirou contra o ex-vereador, fugindo na sequência. O carro era guiado por um comparsa, segundo a polícia.
A chegada e a fuga do carro foram registradas por uma câmera de monitoramento (veja abaixo). O veículo subiu a rua às 17h17 e, cerca de um minuto e meio depois, retornou pela mesma via, em alta velocidade.
"Trabalhamos para identificar as placas [do carro]. Não dá ainda para afirmar se elas foram adulteradas", disse o titular do 1º DP. A delegacia de Jandira e o Setor de Homicídios e de Proteção à Pessoa de Carapicuíba também investigam o homicídio.
A polícia cumpriu na semana passada dois mandados de busca e apreensão referentes a outra possível motivação para o crime, uma desavença fora da esfera política. Os alvos dos mandados não foram informados.
A investigação ainda ouve testemunhas, analisa imagens, checa denúncias encaminhadas às três delegacias e prossegue com a quebra de sigilos telefônicos.
Além disso, a polícia investiga as circunstâncias em que foi gravado um vídeo em que Zezinho, falando em um carro de som, afirma ter sido ameaçado pelo secretário de Segurança Pública de Jandira, Ricardo Antunes.
O titular da pasta foi procurado por telefone, no último dia 2, no telefone fixo da Segurança Pública de Jandira. Ele, porém, não atendeu a reportagem. A Folha de S.Paulo em seguida foi procurada pelo secretário municipal de Comunicação, Luiz Fernando da Silva. Por telefone, ele avisou que uma nota sobre o caso seria encaminhada.
Por meio do documento oficial, o governo municipal afirmou que "não há nenhuma ligação" entre a morte do ex-vereador e o vídeo em que o secretário é mencionado.
A Prefeitura de Jandira disse ainda que, na ocasião, em 15 de outubro, guardas-civis municipais foram acionados por causa de suposto transtorno provocado pelo carro de som usado por Zezinho. "Não houve qualquer tipo de ameaça ou intimidação ao ex-vereador", reitera o município.
O governo lamentou a morte do ex-vereador e reforçou seu "compromisso" em apoiar as investigações, além de amparar a família da vítima.
"Ressalto que estamos e sempre estaremos inteiramente à disposição para quaisquer informações e/ou esclarecimentos que se fizerem necessários", afirma trecho da nota, assinada por Beatriz Regiani, chefe de comunicação da Prefeitura de Jandira.
Zezinho do PT era uma liderança política popular em Jandira. Depois de três mandatos na Câmara Municipal, ele tentou se eleger prefeito, mas sem sucesso. Neste ano, concorreu ao cargo de deputado federal. Com 8.858 votos, não se elegeu.
O corpo do ex-vereador foi sepultado no Cemitério Municipal de Jandira, em 29 de outubro.
O município já foi palco de outros dois assassinatos envolvendo figuras públicas. Um deles foi o do então prefeito Walderi Braz Paschoalin (PSDB), em dezembro de 2010. Ele foi morto a tiros em frente a uma rádio -os disparos puderam ser ouvidos ao vivo na programação da emissora.
Em março de 2020, Rosenildo da Silva, que era diretor de obras da prefeitura, foi assassinado, também com disparos de arma de fogo, enquanto caminhava para o trabalho.
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