SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O verde e amarelo da bandeira do Brasil foi associado nos últimos anos ao guarda-roupa dos apoiadores do governo Bolsonaro e refletiu o clima de polarização do país. O início da Copa do Mundo, porém, pode mudar esse jogo.
Em alguns casos, as cores podem aparecer junto ao vermelho. Em outros, a blusa da seleção brasileira de futebol deve ser acompanhada de um broche do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ainda, a bandeira do Brasil pode ter a frase "Ordem e Progresso" trocada por alguma outra que reflita melhor a ideologia dos torcedores.
É o que pretende fazer o analista de mídias Felipe Sá, 32, que encontrou numa camiseta de reggae uma solução para se vestir a caráter e se sentir confortável. Afinal, explica ele, o item une as três cores mais importantes para ele: o verde e o amarelo do Brasil e o vermelho que define seu posicionamento.
Sá diz que é contra o uso político de símbolos nacionais, como a bandeira do Brasil, mas também não quer se parecer com eleitores de direita ou apoiadores do atual presidente. "Não quero ser visto na rua como golpista mimizento bloqueador de rodovias."
Usar as três cores, explica, simboliza o "projeto de Brasil que ganhou legitimamente nas urnas". "É verde e amarelo como nossa bandeira, mas também é vermelho, da luta de tantos irmãos e irmãs que deram o sangue por um país mais junto e democrático."
Mas nem todos estão preocupados em usar as cores do Brasil e não ficar associados ao bolsonarismo. Em algumas situações, o Mundial parece ao menos dar uma trégua para a política.
No site da Nike, detentora dos direitos de venda dos uniformes oficiais da seleção, as camisetas oficiais que custam R$ 500 se esgotam em poucos minutos quando retornam à venda.
No comércio popular, como na rua 25 de Março, em São Paulo, o verde e amarelo prevalece. Barracas exibem camisetas do Brasil que custam a partir de R$ 40. Lá, a maioria dos artigos vermelhos é de acessórios natalinos que dividem espaço com as decorações da Copa.
Entre os estandes carregados de artigos como vuvuzelas, bandeiras e camisetas, os vendedores reforçam que, passadas as eleições, agora é hora da Copa do Mundo. "Aqui é Brasil, não é sobre esses caras não", diz um deles.
A percepção do vendedor é semelhante à de William Rabelo, 31, que aproveitou que estava na região para comprar uma blusa para a esposa e a filha. "Sou apartidário, independente de ser direita e esquerda, vou usar verde, amarelo, azul. Independente das eleições, é Copa do Mundo."
Por ali, um grupo de três amigas experimentava uma camiseta para assistir aos jogos do Brasil. Estudante de comunicação, Luana Sampaio, 24, comprou uma blusa amarela após certa resistência.
Ela conta que queria usar uma roupa branca ou azul, menos associada ao bolsonarismo, mas pensou: "o Lula já foi eleito mesmo". "Estou tentando ressignificar as cores do Brasil. O importante agora é o hexa e o Lula presidente", conta. Agora, ela e a amiga Raquel Machado, 21, pensam em estilizar as blusas com um broche do Lula e o número 13 nas costas.
A maquiadora Eloa Santos, 35, que aproveitava o horário de almoço para provar camisetas, também disse vai usar verde e amarelo. "Nem vou associar isso à política. Não peguei ranço nem preconceito [com a bandeira]", afirma.
Algumas marcas elaboraram looks para serem usados durante o torneio e deixar bem claro o posicionamento político de quem usa. É o caso da The Feminist Shirt, que produziu uma camiseta com a frase "Brasileira, Feminista e Antifascista", parte da frente, e uma bandeira com a frase "Amor e Resistência" no lugar de "Ordem e Progresso", nas costas.
A roupa foi um sucesso de vendas e esgotou rapidinho, diz a criadora da marca, Delis Magalhães, 29. "Criamos uma estampa que fizesse as pessoas quererem voltar a usar a nossa bandeira e as cores e resgatar esse sentimento nosso, como brasileiras, que não está atrelado ao governo atual", diz ela.
Outra marca que costuma criar estampas inspiradas em memes da internet e críticas ao governo Bolsonaro é chamada De Araque. Para a Copa, camisetas amarelas foram estilizadas em costura de linho verde. Entre as frases estão "Yo no soy minion" e "Ney, declara o IR [Imposto de Renda]", uma provocação a Neymar.
À frente da marca, Matheus Aranha afirma que comprou as camisetas amarelas antes do primeiro turno porque acreditava na vitória de Lula já em 2 de outubro. Pediu então sugestões aos clientes de frases que gostariam de ver estampadas.
A estratégia deu certo e as vendas não param, diz. Para Aranha, o sucesso demonstra uma vontade do público de resgatar esse sentimento como brasileiro sem ter que ser atrelado a Bolsonaro.
"As pessoas querem o verde e amarelo de volta e esse é o meio do caminho: não apoia a CBF e usa as cores para torcer e fazer crítica social e política."
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