SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A volta da obrigatoriedade do uso de máscara no transporte público de São Paulo é uma decisão acertada, de acordo com infectologistas ouvidos pela reportagem, para tentar conter a transmissão do novo coronavírus em um momento com alta de casos de Covid-19. Porém, poderia ter sido tomada antes.

A utilização obrigatória de máscaras em ônibus, trens e metrô passará a valer novamente a partir deste sábado (26), conforme decisão tomada nesta quinta-feira (24) pelo governo estadual e pela Prefeitura de São Paulo.

Decreto com a nova regulamentação será publicado no Diário Oficial do Estado nesta sexta-feira (25).

Na terça (22), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já havia anunciado a volta das máscaras em aeroportos e aviões. A medida passa a valer nesta sexta.

USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) já tinham retomado a obrigatoriedade em locais fechados, assim como outras instituições, como Sesc e Museu do Ipiranga.

No início da semana, quando o item de proteção ainda era opcional, a Prefeitura de São Paulo começou a distribuir máscaras em terminais de ônibus.

Segundo o governo estadual, a decisão segue análise técnica do Conselho Gestor da Secretaria Estadual de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde contra o avanço dos casos de infectados pelo novo coronavírus.

A recomendação para a volta da máscara no transporte público é um dos itens de nota divulgada pelos conselheiros após reunião na terça-feira (23). E ela se baseia na alta de internações.

Segundo o governo paulista, em duas semanas o número de pacientes internados com Covid-19 em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) na rede estadual passou de 447 para 877. Com isso, a ocupação nas UTIs atingiu 100% ?no caso das enfermarias, subiu para 120%.

"A velocidade de aumento de internações [5% ao dia para pacientes em UTI e 7% por dia para pacientes em enfermarias] é acentuada e começa a pressionar os sistemas de saúde público e privado", diz trecho de nota do conselho.

"A volta das máscaras no transporte é importante porque está se vendo uma evolução nos casos de Covid, com subvariantes da ômicron com maior grau de transmissibilidade", afirma Álvaro Furtado da Costa, médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

"De uma forma geral, o vírus está circulando em maior quantidade", diz ele. "E, em um ambiente fechado, com circulação de ar ruim, como no transporte público, as pessoas ficam mais suscetíveis."

De acordo a plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a projeção para RT (ritmo de contágio) no estado nesta quinta-feira era de 1,35. Há um mês, em 24 de outubro, a taxa era de 0,77.

O Rt mostra para quantas pessoas um paciente infectado transmite o novo coronavírus, ou seja, um índice de 1,35 quer dizer que cada 100 contaminados transmitem a doença para outras 135.

A obrigatoriedade das máscaras no transporte público na cidade de São Paulo volta pouco mais de dois meses depois de ter caído, em 9 de setembro.

O secretário estadual da Saúde, o também infectologista Jean Gorinchteyn, não acha que a decisão anterior foi precipitada.

"Nunca dissemos que não poderíamos recuar nas medidas. Sem novas variantes e comprometimento do sistema de saúde muito pífio permitiam naquele momento que fosse tomada a posição", diz Gorinchteyn, que considera acertada a retomada do item de proteção agora, com a alta de casos.

Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, concorda que não houve erro em derrubar a obrigatoriedade das máscaras no transporte público em setembro, pois a situação epidemiológica era muito melhor e não havia justificativa plausível.

Para ela, porém, a falha é que não foi reforçada a necessidade de se completar o esquema vacinal e isso justifica, particularmente, o aumento das internações.

"Faltaram campanhas massivas para que a população completasse o esquema com as quatro doses [adultos] da vacina contra Covid, ou o das crianças", avalia.

A médica diz que a adoção da medida mais uma vez é importante, mas tardia. "Há três semanas, quando a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo se reuniu e houve fortemente recomendação para o uso de máscaras, já tínhamos dados da maior circulação de variante e de maior número de casos."

Opinião semelhante tem o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas. "Trata-se de uma decisão acertada, ainda que atrasada. Não há controle da transmissão sem vacinas e máscaras."

Em Belo Horizonte, as máscaras no transporte público voltaram no último dia 18 de novembro.

De acordo com o secretário Gorinchteyn, que não vê falta de campanhas, dez milhões de pessoas ?incluindo crianças? tomaram apenas uma dose da vacina contra a Covid-19 em São Paulo. Ele aponta ainda que sete milhões poderiam ter recebido a terceira dose e não apareceram nos postos de saúde e que 50% das crianças não estão devidamente imunizadas.

"Tem sido observado aumento de internações nesse grupo populacional, e a vacinação é necessária e segura para proteger nossas crianças e adolescentes", afirma o Conselho Gestor na nota.


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