RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Maior facção de tráfico de drogas do RJ, o CV (Comando Vermelho) faz uma ofensiva para tomar territórios hoje controlados por milicianos na capital.

A ação culminou com tentativas de invasão simultâneas nas comunidades dominadas há décadas por paramilitares: a Gardênia Azul, a Favela da Muzema e até mesmo o Rio das Pedras, berço das milícias no Rio.

A movimentação de traficantes de diversas comunidades provocou confrontos na região na última semana. Houve também ataques em outras favelas de Jacarepaguá, na zona oeste ?Morro da Crachinha, na Praça Seca, e Vila Sapê, em Curicica.

A guerra deixou ao menos um morto. O entregador Luiz Henrique da Silva Gonçalves, 19, foi baleado durante um tiroteio na Muzema, na segunda-feira (23).

Dois dias antes, no sábado (21), policiais militares mataram o líder da milícia do Rio das Pedras e da Muzema. Segundo a PM, Rodrigo Dias, o Pokemon, foi baleado durante uma perseguição de moto nas proximidades da Gardênia Azul. A corporação sustenta que ele atirou contra os policiais e acabou sendo baleado. Outro homem, que pilotava a moto, foi preso. Ele não teve o nome divulgado.

'Ação orquestrada do CV'

A sucessão de ataques, com grupos de traficantes de diversas favelas, indica que lideranças do Comando Vermelho coordenaram as ações para evitar que os milicianos recebessem reforços de quadrilhas aliadas e que houvesse reação maciça das forças policiais.

O ponto mais afetado foi a Favela da Muzema, que teve vários dias de tiroteios. Moradores registraram o som das armas de grosso calibre usadas por traficantes e milicianos.

O delegado Marcus Amim, titular da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), diz que o movimento expansionista da facção tem sido sistemático desde o fim de 2021, quando retomou áreas dominadas por milicianos na zona norte carioca.

"Não é uma coisa pontual. É uma ação orquestrada dessa facção criminosa que vem desde quando retomaram o Quitungo da milícia. A gente não está investigando essa ação pontual na região da Muzema. A gente está investigando a ação dessa facção em relação à tomada de territórios de outras facções e de grupos paramilitares.", disse Marcus Amim, delegado titular da DRE.

Disputa entre milícias

A expansão do CV ocorre em um momento em que diversos grupos paramilitares vivem rachas internos ou enfrentam milícias rivais.

A recente invasão da Gardênia Azul obedece essa lógica. A milícia local rachou e os dois grupos passaram a disputar o controle da comunidade.

Um comunicado divulgado pelo Disque-Denúncia afirma que dois líderes do grupo derrotado na guerra interna passaram a fazer parte do CV. São eles Philip Motta Pereira, o Lesk, e Leandro Siqueira de Assis, o Gargalhone.

A invasão é comandada por Lesk, que tem mandado de prisão em aberto por associação para o tráfico. Gargalhone está preso, mas mantém ingerência sobre o grupo criminoso de dentro da cadeia.

A facção retomou em agosto áreas em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, controladas pela milícia de Danilo Dias Lima, o Tandera. Ele havia se enfraquecido após travar uma disputa sangrenta por territórios na zona oeste contra a maior milícia do Rio, comandada atualmente por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

Também no ano passado, o CV conquistou comunidades que eram ocupadas pela milícia do Campinho, comandada por aliados de Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, preso em agosto de 2021.

Operações

Por conta das disputas, a PM reforçou o policiamento nas imediações das comunidades.

Unidades especiais como o Bope, o Batalhão de Choque e o BAC (Batalhão de Ações com Cães) também realizam operações nas favelas em disputa.

Segundo a PM, uma operação na Cidade de Deus realizada ontem (25) terminou com três pessoas presas, além de dois fuzis, uma pistola e uma granada apreendidos.

Nascedouro das milícias

A comunidade do Rio das Pedras é considerada o local onde uma organização criminosa com as características das milícias surgiu pela primeira vez, ainda nos anos 1970.

Localizada nas proximidades da Barra da Tijuca, principal polo de expansão do Rio nas últimas décadas, a favela foi povoada, em grande parte, por migrantes nordestinos.

Segundo dados da Prefeitura do Rio de 2019, tem mais de 54 mil moradores.


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