SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Como escapar da morte em meio a um conflito de escala mundial? A estimativa do Museu do Holocausto de Curitiba é que de 20 mil a 25 mil judeus sobreviventes da Shoá, como também é chamado o assassinato em massa, tenham conseguido ao vir para o Brasil.
Entre esses, cerca de 10 mil aportaram em terras brasileiras entre 1933, quando o partido nazista chegou ao poder na Alemanha, e 1939, início da Segunda Guerra Mundial. Após essa data, a maioria saiu do Leste Europeu, onde Hitler avançava.
De lá veio Ala Szerman, em 1957, quando tinha 17 anos. Nascida na Polônia, naquele momento ela era bailarina, se dedicava à faculdade de educação física e conhecia o Brasil apenas pelos livros de Jorge Amado. O escritor era popular nas então repúblicas soviéticas, status do seu país natal naquele momento.
Após 12 anos do fim da guerra, portanto, ela estava bem, mas seus pais queriam sair da Europa. A opção foi o Brasil, onde tinham familiares e onde seu pai havia conseguido um visto de trabalho com prazo de dois anos. Aqui, validou seu diploma na USP e, em 1967, abriu uma academia para mulheres.
"Aqui eu me sinto brasileira", afirma Szerman, hoje com 82 anos, dois filhos e dois netos.
A guerra coincidiu com os seus primeiros anos de vida, o que deixou lembranças difíceis da infância. "Minha mãe perdeu duas filhas. Com medo de me perder também, me colocou em um orfanato", conta ela, que morou por um período na Rússia, quando a família fugia do conflito. "Quando chegavam as bombas, as crianças entravam naqueles vagões e fugiam, se escondiam embaixo das árvores."
Sua mãe conseguia seguir a filha no orfanato em que estivesse à medida que os ataques avançavam. Em algum momento, porém, a perdeu. O reencontro da família, incluindo seu pai, que estava na guerra, aconteceu na Polônia, após o fim do conflito.
Neste 27 de janeiro é celebrado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Por muito tempo, Gabriel Waldman, 84, quis esquecer, então contava pouco sobre o que viveu. Marcos como o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann, na década de 1960, e o lançamento do filme de Steven Spielberg "A Lista de Schindler", em 1993, fizeram com que ele sentisse vontade de falar.
Waldman e sua família se esconderam após a Hungria, seu país natal, ser invadida em 1944. Ir morar em guetos, locais para onde os nazistas enviavam judeus, não era uma opção. "A essa altura nós já sabíamos que o gueto era meio caminho andado para campos de concentração", conta. Continuar escondido, porém, era pouco seguro. "Se os alemães descobrissem que alguém deu guarita para um judeu, a pessoa e toda sua família era fuzilada."
A saída, diz, foi ir para casas de embaixadas em Budapeste de países neutros --primeiro eles foram para as moradias da Suíça e depois para as da Espanha.
"Todos os dias a minha mãe tinha que jogar três ou quatro moedas para cima. Cara morria, coroa, sobrevivia. No caso dela, sempre pegava coroa", afirma. "Eu tenho mil histórias de que quase deu errado e que acabou dando certo. É sorte." Toda a família por parte do seu pai foi morta.
Após o fim da guerra, diz ele, a família ficou cheia de esperança. O sentimento era de reconstrução do país. "Nós pensávamos que os russos iam nos libertar. E libertaram mesmo, mas depois começou o regime comunista", conta. "Fatia por fatia, eles podaram as liberdades."
Quando tinha 11 anos, foi com a família para Áustria, onde começaram a tentar sair da Europa. Sem o pai, um "arrimo de família", nenhum os aceitava. "O Brasil foi o único país que nos aceitou."
Hoje, ele atua na ONG de Israel StandWithUS em ações de combate ao antissemitismo. "Fuja de todo lugar que tenha intolerância, seja qual for", conta. "Eu perdi metade da minha família pela intolerância."
Waldman se formou em administração de empresas depois que chegou ao Brasil, casou-se e teve dois filhos e três netos.
"Toda vez que eu vejo os meus netos, me lembro que a nossa grande vitória sobre Hitler são eles. Nós sobrevivemos."
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EVENTOS EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO
Rio de Janeiro
Organizado pela pela Conib (Confederação Israelita do Brasil), Fierj (Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro), pela Associação Cultural Memorial do Holocausto do Rio de Janeiro e pelo Unic Rio (Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil), o evento acontece no Memorial às Vítimas do Holocausto Deputado Gerson Bergher, no Mirante do Pasmado. Terá transmissão simultânea aqui. A partir das 10h, nesta sexta-feira (27), na Alameda Embaixador Sanchez Gavito, Botafogo, Rio de Janeiro (RJ)
São Paulo
O evento de São Paulo, organizado pela Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) e pela CIP (Congregação Israelita Paulista), será na Sinagoga Etz Chaim. Depois, será exibido no YouTube pelos canais Federação Israelita SP e TV CIP. A partir das 18h, neste domingo (29), na Rua Antônio Carlos, 653, Consolação, São Paulo (SP)
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