SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A loja da Livraria Cultura na avenida Paulista poderá ser ocupada por outra rede livreira, caso seja efetivado o despejo da inquilina que está no imóvel desde os anos 2000 e que foi responsável por fazer do local um ponto turístico de São Paulo. A notícia da decretação de falência da Cultura, suspensa por decisão judicial provisória, provoca preocupação entre frequentadores. Alguns lamentam a possibilidade de que o espaço possa se tornar um novo vazio urbano na cidade.
Caso a concorrente desocupe o salão no Conjunto Nacional, porém, há ao menos uma candidata a manter uma atividade do mesmo ramo no local. A Livraria Leitura tem interesse em instalar ali a sua primeira megaloja na capital paulista, segundo Marcus Teles, presidente da rede que possui 99 unidades no país e que vem apresentando crescimento nos últimos anos com um modelo de negócio baseado mais em vendas em lojas físicas do que na internet.
Teles, que também é presidente da Associação Nacional de Livrarias, afirmou, no entanto, não ter feito proposta de locação. "Não procuramos os donos ainda porque estamos esperando uma definição", disse nesta terça-feira (14) à reportagem. "A gente, como livreiro, gostaria muito que a Cultura se recuperasse, apesar da situação, que não é boa", comentou.
A eventual nova megalivraria do Conjunto Nacional dificilmente ocuparia todo o espaço utilizado pela Cultura. Teles avalia que, para ser viável, o imóvel de aproximadamente 4.000 metros quadrados precisaria ser dividido com restaurantes, cafés e outras empresas preferencialmente do segmento gastronômico. No caso da Leitura, não há interesse em explorar mais do que a metade da loja. "Ainda assim, seria a maior livraria da cidade de São Paulo. Seria uma livraria maravilhosa", comentou.
A manutenção de um estabelecimento livreira conta com a simpatia de Wilton Figueiredo, sócio da Bombonieres Ribeirão Preto, grupo empresarial proprietário da sala, segundo uma pessoa que acompanha a discussão. Ela também diz que uma empresa do setor manifestou interesse em se instalar no local. Propostas de companhias de outros segmentos, com superior ao contrato estabelecido com a Cultura, chegaram a ser recusadas em outras oportunidades, disse.
A Folha de S.Paulo noticiou nesta segunda-feira (13) que a Bombonieres Ribeirão Preto considera irreversível a sua decisão de despejar a Cultura. O locador afirmou, por meio do escritório de advocacia que o representa, que aguarda apenas a execução da sentença de despejo e que não há chance de renegociação da dívida que supera R$ 20 milhões referentes a aluguel, condomínio e IPTU que deixaram de ser pagos nos últimos anos.
Sérgio Herz, presidente da Cultura, negou que o diálogo com o proprietário tenha chegado ao fim. Ele disse à reportagem que o débito relatado pelo representante do locador foi acumulado no período em que a pandemia impôs restrições severas ao funcionamento da loja, mas, neste momento, a unidade é financeiramente sustentável e um acordo seria benéfico aos dois lados.
"Pretendemos chegar a um acordo com relação a esses valores, e a negociação, no âmbito judicial, é importante para os dois lados e faz parte do processo", disse Herz.
A livraria, cuja unidade no Conjunto Nacional enfrenta desde o final de 2018 por um processo de recuperação judicial e se mantém funcionando graças a uma liminar que suspendeu, no mês passado, um decreto de falência da empresa.
No Conjunto Nacional desde 1969, a Cultura instalou em meados dos anos 2000 a sua megaloja no salão ladeado por rampas que dão acesso ao mezanino de onde é possível ter uma vista quase completa das estantes e bancas de livros distribuídas pela loja.
Antes, a sala abrigava o Cine Astor, que era operado pela Bombonieres Ribeirão Preto. O piso central inclinado do atual saguão da livraria era o local onde ficavam as poltronas do cinema.
Além da livraria, a Cultura também administra no local o Teatro Eva Herz, que também faz parte do contrato de locação e, em caso de concretização do despejo, também deixaria de funcionar no local.
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