SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Governo de São Paulo anunciou, no início deste mês, projeto de parceria público-privada que prevê instalação de um centro de cultura LGBTQIAP+ no palacete Joaquim Franco de Mello, na avenida Paulista, região central da capital. A divulgação gerou indisposição entre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e parte de seu eleitorado, que passou a atacá-lo nas redes sociais.
A iniciativa retoma o projeto de 2014 apresentado pelo então governador tucano Geraldo Alckmin. Posteriormente, o governo de João Doria abandonou a obra sob alegação de falta de verba.
Agora, a ideia é ressuscitada com o intuito de "trazer para o estado um debate voltado à inclusão de todas as orientações, identidades e expressões de gênero, com mais inclusão e equidade", diz, em nota, a gestão estadual.
Segundo o Palácio dos Bandeirantes, a restauração, adequação, operação e manutenção novo equipamento cultural tem estimativa de investimento de R$ 60 milhões.
Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio foi eleito governador apostando no eleitorado conservador e como um dos herdeiros políticos do bolsonarismo, o que explica o estranhamento à proposta.
"Eu não votei no Tarcísio para ele defender a agenda LGBT!", disse uma usuária do Twitter.
"Esta é a realidade, Tarcísio já liberou projeto para diversidade. Seus filhos e netos serão educados por pervertidos. Cuide de sua família", publicou outro.
As publicações se espalham por diversas redes e classificam o governador de traidor, esquerdista e petista.
Também há os que dizem se surpreender positivamente com a postura de Tarcísio.
Durante sua campanha ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro foi questionado sobre a falta de propostas para a população LGBTQIAP+ em seu programa de governo. Seu concorrente no segundo turno, Fernando Haddad (PT), possuía dez.
À época, Tarcísio declarou ser defensor dos direitos civis dos homossexuais e disse que, se vencesse, faria um governo inclusivo.
Já no último mês de dezembro, antes iniciar sua gestão, o discurso foi contestado. O então governador eleito foi criticado após anúncio do deputado federal Roberto de Lucena (Republicanos-SP) como seu secretário do Turismo.
Lucena foi relator e defensor do Projeto de Decreto Legislativo 234/2011, conhecido como "cura gay", que tramitou no Congresso até 2013, quando foi retirado pelo autor, o deputado federal João Campos, à época no PSDB.
A proposta era suspender duas resoluções do Conselho Federal de Psicologia: a primeira que proíbe psicólogos de oferecerem tratamento para reversão de orientação sexual; a segunda que impede os profissionais de darem declarações que abordem a homossexualidade como desordem psíquica.
O secretário paulista também já discursou contra decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que reconheceu a união homoafetiva, em 2011.
Procurado pela reportagem, Lucena declarou ter defendido "a liberdade para que o psicólogo pudesse atender a qualquer pessoa em crise com a sua sexualidade, fosse homossexual, heterossexual, bissexual ou outros, bem como o direito da pessoa em procurar ajuda de profissional da psicologia, se desejasse. Sempre o direito do psicólogo ou do cliente".
"Sou contra a homofobia, a violência e toda forma de discriminação e preconceito contra qualquer pessoa, seja por cor, raça, orientação sexual, classe social, religião ou falta de religião, estética, origem, enfim", completou.
Outro nome do secretariado de Tarcísio que desagradou à comunidade LGBT+ foi o da vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos-SP), empossada na pasta de Políticas para Mulheres.
Fernandes é da cúpula bolsonarista do governo e fervorosa defensora das pautas de costume, como o combate à chamada ideologia de gênero.
Em 2021, durante a primeira sessão da Câmara Municipal de São Paulo, Sonaira afirmou haver "uma agenda globalista que pretende feminilizar o homem e masculinizar a mulher".
Já em março de 2022, Sonaira e o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) apresentaram um projeto de lei (PL 208/2022) para vetar a participação de pessoas transgênero em competições esportivas na capital.
A reportagem não conseguiu contato com Sonaira Fernandes. Em nota, a secretaria de Políticas para Mulheres diz que a titular da repartição respeita a igualdade de todos perante a lei.
PALACETE TEM HISTÓRICO DE DISPUTA JUDICIAL E PROJETO FRACASSADO
Com 35 cômodos, o Jorge Franco de Mello, remanescente da época dos barões do café, foi alvo de disputa judicial entre o governo estadual e a família Franco de Mello durante 27 anos. Os proprietários alegavam desvalorização do imóvel decorrente do tombamento realizado em 1992.
Devido à demora do processo, Rubens Franco de Mello, autor do processo, não pôde ver a resolução do caso. Ele morreu em 2006.
O mesmo aconteceu com seu filho, Renato Franco de Mello, que tomou a linha de frente na administração do palacete no início dos anos 1990 e morreu em fevereiro de 2019, aos 70 anos. Naquele mesmo ano, o imóvel passou para domínio público, possibilitando a chamada para reforma.
Então, o governador João Doria, que havia descartado o projeto de Geraldo Alckmin para a diversidade, anunciou a instalação de um museu dedicado à ciência e tecnologia no local, com investimento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que faria o aporte à construção por meio do Sesi (Serviço Social da Indústria).
Mas, segundo histórico apresentado no edital, as entidades enviaram ofício em junho de 2020 retirando a proposta.
Já em 2021, o governo paulista abriu chamada pública para transformar o palacete em um museu dedicado à gastronomia. O edital previa a realização de estudos para a concessão à iniciativa privada, mas o projeto foi abandonado.
O imóvel, erguido em 1905, tem 870 metros quadrados de área construída em um terreno de 2.000 metros quadrados.
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