SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fentanil, apreendido pela primeira vez no Brasil em uma ação da Polícia Civil do Espírito Santo, tem duas faces. Por um lado, é utilizado como analgésico de ação rápida e elevada potência. Por outro, é a droga que mais mata nos Estados Unidos.
A substância é de 50 a 100 vezes mais potente do que a morfina e, no âmbito da saúde, é empregada tanto em cirurgias quanto no alívio da dor severa, como em casos de câncer em estágio avançado.
"O fentanil é um opioide sintético, derivado da morfina, e age em receptores da dor, promovendo analgesia", diz o médico Jedson Nascimento, integrante da diretoria da SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia).
Em hospitais, esse opioide é aplicado em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas ou procedimentos neurológicos e ortopédicos. Ele também é usado em terapia intensiva, cuidados paliativos e em procedimentos diagnósticos que envolvam dor, como colonoscopias e biópsias.
"O fentanil foi criado em 1960, nos Estados Unidos. Ele foi liberado para uso em 1968 e popularizado na década de 70. Desde então, vem sendo utilizado como analgésico em anestesias diversas", conta Nascimento. "São mais de 50 anos de experiência como medicação terapêutica muito efetiva."
O problema é o uso desviado da substância. De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano, o opioide é vendido por traficantes de drogas por seu efeito semelhante à heroína e com frequência é misturado com heroína ou cocaína -com ou sem o conhecimento do usuário- para potencializar os efeitos eufóricos.
"Existe uma sensação de euforia e bem-estar que explica a adicção, mas pode haver diversos efeitos adversos, como prurido, náuseas, vômitos, tontura e o mais temido que é a parada respiratória", alerta o anestesiologia.
Segundo os Institutos Nacionais de Saúde, apenas em 2021, 106.699 pessoas morreram por overdose nos Estados Unidos, incluindo os casos por drogas ilícitas e por opioides prescritos. Desse total, 70.601 óbitos foram provocados por opioides sintéticos, majoritariamente por fentanil. Em seguida, aparecem drogas como metanfetamina e cocaína, metadona, benzodiazepínicos e heroína.
Em dezembro do ano passado, agentes federais afirmaram ter apreendido 379 milhões de doses de fentanil nos Estados Unidos, o suficiente para matar toda a população do país, considerando que apenas dois miligramas do opioide seriam suficientes para levar a óbito.
Na avaliação da administradora do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência norte-americana antidrogas), Anne Milgram, trata-se do entorpecente mais ameaçador que os Estados Unidos já enfrentaram.
"O fentanil está matando americanos a taxas recordes. Muitos deles não sabiam que estavam consumindo a droga mais mortal que nosso país já viu. Eles não sabiam que traficantes de drogas estão adicionando fentanil à cocaína, heroína e metanfetamina. Eles não sabiam que o comprimido que compraram de um traficante nas redes sociais continha fentanil e que um único comprimido é capaz de matar", afirma Milgram em um vídeo criado em 2022 para o Dia Nacional de Conscientização sobre o Fentanil.
"É uma substância que deve ser reservada ao uso por prescrição médica", reforça Nascimento. "O uso indiscriminado e sem orientação médica pode culminar em uma parada respiratória que pode ser fatal".
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