A Baía de Guanabara passa neste sábado (25) por um dia de limpeza, e o trabalho promete ser intenso, uma vez que a quantidade de lixo e a poluição na região é um problema antigo. Para realizar a tarefa, a Rede de Conservação Águas da Guanabara (Redagua), que promove a ação, juntou os Projetos Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e Uçá, patrocinados pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, na segunda edição do Clean Up Bay – Dia de Limpeza da Baía de Guanabara.
Esta é a segunda edição do Dia de Limpeza da Baía de Guanabara, inspirado no Clean Up Day, ação mundial promovida anualmente no terceiro sábado de setembro para um mundo sem lixo. Mais uma vez, a ação faz parte do calendário Rio 2030, que inclui ações de educação sustentável com a intenção de sensibilizar a população do estado para a necessidade de cuidados com o meio ambiente.
“O impacto do que queremos causar com este evento, na verdade, é no dia a dia das pessoas. Que elas se envolvam, participem e se sintam impactadas por verem tanto lixo na praia, por verem tantos sacos de lixo coletados e repensem as ações rotineiras de casa, como o próprio descarte do lixo, como o consumismo desenfreado. A ideia é que haja reflexão sobre o que se pode fazer a respeito,” disse a coordenadora geral do Projeto Coral Vivo, a oceanógrafa Flávia Guebert, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo o Coral Vivo, o objetivo de eventos como este é impactar e surpreender as pessoas com a quantidade de lixo escondida na praia, porque a paisagem acaba disfarçando um pouco, e com o que elas podem fazer dentro de casa mesmo”, completou Flávia. Ela informou que ações semelhantes também são realizadas anualmente no estado da Bahia, onde funciona a sede do projeto.
“Estamos na Década do Oceano, que vai de 2021 a 2030, então, a ideia é que olhar para o mar e ver o mar como nosso jardim, o jardim da nossa casa, porque todos dependemos do mar. O oceano regula o nosso clima, nos dá alimento, traz recursos financeiros para quem trabalha com diversas atividades, mas não é só exploração, é cuidado também”, afirmou.
O trabalho de coleta, triagem e destinação de resíduos vai começar às 9h em cinco pontos diferentes nos municípios de São Gonçalo (Praia das Pedrinhas), Niterói (praias de Itaipu e Boa Viagem), Magé (Praia de Piedade), Cachoeiras de Macacu (Rio Macacu) e Tanguá (Rio Caceribu), na região metropolitana do Rio. Depois da coleta e da triagem, o material recolhido será classificado, registrado e pesado.
A bióloga e educadora ambiental do Projeto Meros do Brasil Luana Seixas elogiou a extensão dos pontos incluídos na ação deste sábado e destacou também o aumento de demanda de voluntários para esta edição. “Comparativamente à edição do ano passado, que foi mais para o meio do ano, nesta, aumentamos nossos pontos de atuação, o que mostra que vieram demandas de pessoas dessas regiões. No ano passado, tínhamos quatro pontos. Para nós, é um indicador de transformações e mudanças e, comparativamente, também um aumento dos voluntários.”
O projeto é comprometido com a preservação e recuperação dos meros (Epinephelus itajara), uma espécie de peixe ameaçada por capturas ilegais e pela falta de qualidade da água de manguezais e de áreas de foz dos rios da Baía de Guanabara. De acordo com Luana, este é mais um motivo para a realização de ações como o Dia da Limpeza.
“O declínio da população [de meros] em território nacional está muito ligado à intervenção humana. A pesca é um problema, mas lógico também que estamos usando o ambiente em que o peixe vive, que são áreas costeiras, áreas de manguezal, ou mar aberto, em esportes, pescaria ou como lixo que, sendo levado, acaba prejudicando essa espécie de peixe para o local em que ele está sob ameaça”, acrescentou a bióloga.
Para o presidente da organização não governamental (ONG) Guardiões do Mar e coordenador do Projeto Uçá, de preservação de caranguejos, Pedro Belga, a velocidade das mudanças climáticas torna cada vez mas evidente a necessidade de realizar ações deste tipo para redução da quantidade de lixo e sensibilização das populações. Por isso, o biólogo diz que é importante fazer o evento na Baía de Guanabara, que costuma estar no inconsciente coletivo das pessoas como algo ruim.
“Quando se consegue criar uma data específica para tratar de limpeza e colocar as pessoas do bem, juntas, isso ajuda em uma emergência, na urgência que a gente tem. Quanto mais eventos sobre o tema, quanto mais voluntários se engajam, mais se consegue espalhar a corrente do bem e acelerar essa urgência em mobilizar as pessoas para as questões do resíduo sólido, da conservação ambiental e obviamente das emergências climáticas”, disse ele à Agência Brasil.
Pedro Belga revelou que, no começo do Projeto Caranguejo Uçá de preservação na espécie na Baía de Guanabara, os catadores entediam que seriam transformados em coletores de lixo. “Hoje eles entendem que, ao tirar um sofá do mangue, aquele espaço ocupado pelo sofá estará disponível para que novas tocas de caranguejo se espalhem. Eles ganham a longo prazo. Hoje existem catadores de caranguejo e pescadores artesanais na Baía de Guanabara muito envolvidos na questão do resíduo sólido, porque entenderam que o lixo diminui a economia, a atividade deles e as áreas de trabalho”, acrescentou.
Os voluntários inscritos no Clean Up Bay receberam capacitação online na quarta-feira (22), com o objetivo de formar lideranças para limpeza de praias e outros ambientes, com orientações sobre o uso adequado de equipamentos de proteção individual, extensão da área a ser trabalhada, dinâmica da atividade e tudo o que o voluntário precisa para participar do dia de limpeza, ou organizar a atividade semelhante em sua própria comunidade. Segundo o biólogo, mais de 100 voluntários participaram da capacitação. “Há um interesse maior das pessoas, que querem fazer. Só não sabem como. Às vezes, as pessoas não percebem como é simples cuidar com pequenos atos.”
A guia de turismo Natália Gonçalves, que tem especialização em atrativos naturais, de 26 anos, moradora de Cachoeiras de Macacu, está entre os voluntários que passaram pela capacitação. Natália fez um curso de condutores de trilha no Projeto Guapiaçu, que considera muito importante para a cidade, e disse que, no trabalho, sempre se depara com muito desrespeito à natureza.
“O ser humano precisa de uma educação ambiental absurda, porque é muito lixo. Uma vez, na saída de um passeio em um poço, vimos que uma família deixou uma sacola pendurada no galho da árvore. Para chegar ao poço, tem que fazer trilha. Será que essas pessoas não têm consciência de que lá não vai passar caminhão de lixo, de que não tem coleta?”, indagou.
Natália disse que, desde pequena, interessa-se por questões relacionadas ao meio ambiente e é assim que gosta de educar o filho Paulo César, de 6 anos. “Uma vez também eu estava tomando banho de rio com meu filho, e ele viu uma pessoa jogar uma tampinha de garrafa, na mesma hora ele falou: ‘mãe isso é errado’. Ele estava certo.”