RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O quadrinista Mauricio de Sousa, 87 anos, não largou como favorito na disputa à cadeira 8 da ABL mas virou o jogo depois de ter sua candidatura desdenhada por outro concorrente à vaga.

O criador da Turma da Mônica é muito bem visto na casa e conta com apoiadores de peso mas, segundo a coluna apurou, até dias atrás não tinha votos suficientes para derrotar o filólogo Ricardo Cavaliere, 69, um intelectual com ótimo relacionamento entre os imortais da Academia Brasileira de Letras.

Ele é apadrinhado por Evanildo Bechara, um dos principais filólogos do país e membro da instituição desde 2000. Aos 95 anos, Bechara desejaria fazer um sucessor.

Cavaliere também participa há décadas de palestras, debates e conferências promovidas pela ABL, o que traria ainda mais força ao seu nome como postulante à vaga que foi de Cleonice Berardinelli, morta no dia 31 de janeiro. É considerado "de casa" e elegê-lo no próximo dia 27 de abril parecia questão de tempo.

A Mauricio caberia entrar nesta disputa "para ganhar experiência", e tentar de novo na próxima eleição, desta vez provavelmente como um dos favoritos.

Mas tudo mudou quando o debate sobre até que ponto uma possível vitória de Mauricio de Sousa seria positiva para a ABL ganhou força nas redes, com repercussão nacional e internacional. Ao ter sua relevância para a literatura nacional posta em xeque, ganhou o afago de antigos fãs e o reconhecimento de nomes fortes da cultura brasileira.

Ocupante da cadeira 21, Paulo Coelho anunciou no Twitter seu voto no cartunista, assim como Fernanda Montenegro já havia feito, de maneira mais discreta. Segundo a coluna apurou, Gilberto Gil também está com Maurício. São três "puxadores de voto" relevantes, que explicariam, em parte, o bom desempenho do artista nos últimos dias.

Tamanho prestígio surpreendeu integrantes da cúpula da ABL, que demoraram a perceber a força midiática de Mauricio. Elegante, o cartunista não rebateu seu crítico e continuou movimentando-se nos bastidores, elogiando publicamente a Academia, prometendo engajar-se numa campanha nacional pela leitura e fazendo campanha -seja por telefone ou enviando vídeos aos intelectuais.

Boa parte dos imortais da Academia Brasileira de Letras que votaria no filólogo recalculou sua rota e agora já pensa em inverter a ordem dos fatores: Mauricio, aos 87 anos, passaria a envergar o fardão já a partir da próxima eleição, e Cavaliere, 69, esperaria mais um pouco até abrir uma próxima vaga. A conferir.


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