RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - Praias de Maceió recebem, desde novembro, obras para conter danos provocados pela erosão marítima em 12 pontos da orla. A iniciativa é promovida pela prefeitura da cidade e conta com o aval de especialistas na área ambiental, ainda que a efetividade seja constatada apenas a médio e longo prazo.

A intervenção consiste no encaixe de blocos de concreto ?que pesam aproximadamente 2,5 toneladas? em forma de escada para impedir o avanço do mar, além de assegurar o acesso de banhistas à praia.

De acordo com a gestão municipal, a tecnologia é oriunda da Holanda, país cuja parte do seu território fica abaixo do nível do mar. A prefeitura estima que a medida dure até 200 anos.

Os blocos de concreto são fabricados com um concreto especial sem a utilização de ferros. Ao todo, serão utilizadas 18 mil peças de concreto em 2,6 quilômetros.

O secretário de Infraestrutura do município, Lívio Lima, disse à reportagem que as obras devem ser concluídas até agosto.

"São encaixados um a um como se fossem tijolos gigantes, formando uma espécie de muro com uma inclinação em torno de 15 graus na parte superior em cima de uma fundação de em torno de um metro e meio", afirma.

Antes do início das obras, a Prefeitura de Maceió realizou estudos sobre a contenção das marés em outras praias, como em Cronulla, Austrália, e no Kuwait.

Maceió tem convivido nos últimos anos com danos a calçadões, restaurantes, bares e espaços de lazer localizados na extensão litorânea.

"Nosso calçadão há um bom tempo vem sendo invadido. As ondas vêm batendo no calçadão e começou um princípio de erosão e tivemos muita dificuldade no calçadão, nas ciclovias. O objetivo é conter o avanço da maré e restaurar o que já tinha sido danificado", afirma Lima.

As obras foram liberadas após tratativas com o Ministério Público e com órgãos ambientais de Alagoas.

Na avaliação do secretário, parte da estrutura das avenidas da beira-mar já teria sido danificada caso as obras não tivessem iniciado. "Teve uma ressaca uma vez que, se não fosse essa contenção, já tinha levado uma parte da via."

A ação inicial abrange seis pontos de cinco praias da orla de Maceió. A prefeitura também diz que quer fazer uma nova etapa, cuja licitação deve ser aberta em abril.

"Todas as obras que foram apontadas pela Defesa Civil com perigo foram contempladas", diz o secretário.

A primeira etapa custa em torno de R$ 30 milhões. A outra é estimada em R$ 32 milhões. Os recursos são próprios da Prefeitura de Maceió.

O professor de geografia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) Bruno Ferreira explica que a alteração no ambiente próximo ao mar foi impulsionada nos últimos 40 anos para ocupação da orla de Maceió.

"Em Maceió, a ocupação começou em cima das praias, no bairro do Jaraguá, e já possui esse vínculo. Cresceu em direção ao continente e, a partir dos anos 1980 e 1990, se expandiu para a orla da praia", diz o acadêmico, especialista em geologia e geomorfologia litorânea. Segundo Ferreira, a erosão foi intensificada nos anos 2000.

"Nos últimos anos, tivemos aumento do turismo, de circulação de pessoas, prática de esportes e uso de equipamentos como quadriciclos, hoje proibidos e antes liberados, que fizeram com que a areia ficasse mais fofa e mais suscetível ao transporte pelos ventos, avançando em direção à avenida, além disso [houve] a descompactação da areia", diz.

O geógrafo avalia ainda que as obras têm o cunho de requalificar as estruturas danificadas e preservar as áreas ainda não atingidas e que não devem gerar mudanças na base geomorfológica.

O especialista estima ser preciso ao menos cinco anos para avaliar a efetividade da obra.

Para o professor, obras de engorda de praia, com recuperação da faixa e da areia, seriam ideais para como ação definitiva no futuro. Por enquanto, ele afirma acredita que novos impactos ambientais não serão colocados no cenário atual após as obras.

O geógrafo Fábio Pedrosa, da UPE (Universidade de Pernambuco), alerta que obras de contenção aos danos provocados pelo avanço do mar devem se tornar frequentes, principalmente nas grandes cidades.

"Temos a mudança climática, com a lenta e persistente elevação do nível médio do mar, e o aumento da frequência das ressacas marinhas, também consequência do aquecimento global", diz.

O acadêmico ainda afirma que o ideal, no país, é que as gestões públicas dos municípios busquem fazer intervenções planejadas e robustas, que possam ter efeito a longo prazo e de maneira equilibrada do ponto de vista ambiental.

"Atualmente, são obras baseadas em colocação de pedras nas praias, baratas e paliativas, que atendem a apreensão legítima dos moradores, mas não resolvem o problema a longo prazo e podem até piorá-lo algumas vezes", diz.


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