Movimentos que lutam pelos direitos da população em situação de rua fizeram nesta sexta-feira (12) um protesto em frente à prefeitura de São Paulo, no centro da cidade. Com carroças e cartazes, algumas dezenas de pessoas se revezaram ao microfone na porta do prédio. Uma das principais reclamações é contra as ações de retirada de barracas e objetos pessoais das pessoas que dormem nas calçadas. Moradia foi outro ponto central da pauta do ato.
No final de março, a Justiça de São Paulo derrubou uma liminar que impedia a retirada de barracas e pertences da população em situação de rua. Desde então, a prefeitura tem realizado uma série de ações para coibir a presença dessas pessoas nos espaços públicos, especialmente na região central da capital paulista. Os canteiros da Praça da Sé chegaram a ser gradeados para evitar que as pessoas ficassem nos gramados.
“A prefeitura se alinhou muito com o higienismo do governo do estado. A retirada das carroças, das barracas. Estão querendo fazer um expurgo com a população em situação de rua”, reclama um dos coordenadores do Movimento Nacional de Luta pelos Diretos da População em Situação de Rua, Edivaldo Gonçalves.
As chamadas ações de zeladoria aumentam, segundo ele, a falta de proteção social das pessoas que não têm onde morar. “Tira a barraca e leva documento, remédio, leva tudo”, contou.
Passeata durante manifestação em prol da vida e dignidade da população em situação de rua - Rovena Rosa/Agência Brasil
Moradia
Para Gonçalves, até as políticas da prefeitura apresentadas como ação de moradia são uma forma de alojamento, que não atendem plenamente às necessidades dessa população. “A Vila Reencontro falaram que ia ser uma casa para a pessoa morar. Mas é um equipamento, não é uma casa, não é uma moradia”, criticou, ao falar sobre uma das políticas anunciadas pela prefeitura.
A Vila Reencontro é, segundo a prefeitura, uma política de moradia provisória para famílias em situação de rua. De acordo com a administração municipal, o objetivo é construir a independência financeira das pessoas atendidas por meio da oferta de emprego e capacitação profissional. A previsão é que as famílias permaneçam de 12 a 24 meses no projeto.
Edilson da Cunha foi ao protesto para lutar por moradia - Rovena Rosa/Agência Brasil
O catador de recicláveis Edilson da Cunha disse que foi à manifestação para lutar por moradia. “O que a gente está pedindo é o mínimo, uma moradia. Porque acho muito desaforo, muito humilhante, a pessoa ter que dormir dentro do carrinho ou dorme na rua. É sobreviver, isso não é viver”, ressaltou.
Ele também reclamou do tratamento dispensado pela Guarda Civil Metropolitana e pela Polícia Militar à população em situação de rua. “O que está por trás do policiamento é a ordem de um prefeito, de um governador. A ordem vem lá de cima. A gente passa a ser oprimido. Para quebrar esse sistema só esta manifestação”, acrescentou.
Após o ato na prefeitura, a manifestação seguiu em passeata até a Câmara Municipal, onde foi realizada uma audiência pública sobre a realidade das pessoas em situação de rua.
Prefeitura
A prefeitura divulgou também nesta sexta-feira uma nota em que informa que 1,6 mil pessoas em situação de rua foram acolhidas no programa Ampara SP. “Focado no acolhimento, o projeto tem feito com que pessoas deixem de viver em barracas para receber atendimento em vagas fixas de hotéis sociais”, detalha o comunicado da administração municipal.
Segundo a prefeitura, as equipes do programa atuam 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana, percorrendo pontos já identificados como de concentração de pessoas em situação de rua. A ação promoveu, de acordo com a administração municipal, a redução de 70% no número de barracas na Praça do Patriarca, em frente à sede da prefeitura, e de 62% na Praça da Armênia, entre a região central e a zona norte da cidade.