SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Embora tenha sido removido da Play Store, a loja do Google, o jogo Simulador de Escravidão continua em funcionamento para quem já tinha baixado o aplicativo no celular ou outro aparelho eletrônico. O Ministério Público do Estado de São Paulo e o Ministério Público Federal cobram explicações dos responsáveis.
No jogo, usuários podem comprar escravos, praticar castigos físicos, enriquecer com o trabalho deles e evitar rebeliões e fugas.
Após repercussão negativa, o Google removeu o jogo da loja e afirmou que tem um conjunto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores.
Nesta quinta (25), porém, questionado sobre o fato de o jogo continuar funcionando nos aparelhos em que já havia sido baixado, o Google não respondeu. A Magnus Games, desenvolvedora do aplicativo, também foi procurada e não respondeu.
A promotora Maria Fernanda Balsalobre Pinto, do Gecradi (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância), instaurou uma notícia de fato a respeito do jogo. No documento, ela aponta, além da grande quantidade de downloads em pouco tempo, que existem "comentários no espaço destinado às avaliações dos usuários que também encontram subsunção em discurso de ódio penalmente típico".
Foi dado prazo de três dias para que o Google informe data, horário e plataformas em que o jogo foi disponibilizado, enviando cópia integral de todos os documentos e do procedimento interno administrativo de solicitação de aprovação feito pelo desenvolvedor.
O Gecradi quer também informações sobre a política de autorização para publicação dos aplicativos disponíveis no Google Play, entre outros dados.
O Ministério Público Federal, por sua vez, instaurou inquérito para apurar a oferta do jogo na loja do Google. O procedimento foi aberto no âmbito da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio Grande do Sul.
A repercussão foi além. Representantes da OAB-RJ manifestaram repúdio ao jogo e disseram terem adotado medidas legais contra o desenvolvedor e a plataforma do Google para que sejam responsabilizados por "apologia da violência e desumanização de corpos negros".
Em nota, a diretoria de Igualdade Racial e a comissão OAB Mulher RJ afirmam que "tal atitude demonstra um profundo desrespeito à memória histórica, além de perpetuar estereótipos racistas e promover a banalização do sofrimento de um povo."
A imagem que ilustrava o jogo na loja é a de um homem negro sem camisa, ao lado de um homem branco bem vestido, de chapéu. O jogo foi lançado no último dia 20 de abril e contava com mais de mil downloads, além de diversas avaliações positivas.
Na descrição que estava disponível para Android constava ser "o melhor simulador de proprietários de escravos e comércio de escravos". Na loja virtual, o estúdio desenvolvedor dizia que aplicativo é apenas para entretenimento. "Condenamos a escravidão no mundo real."
"Neste simulador de escravidão existem três tipos de escravo: trabalhadores, gladiadores e escravos de prazer. Compre e venda-os. Cada escravo é adequado para um determinado negócio. Treine seus escravos para aumentar seu nível de maestria e renda", afirma a descrição do jogo.
No aplicativo é possível reduzir a alimentação dos escravos, entre outras opções.
Na avaliação dos usuários o jogo havia recebido, antes de ser removido, nota 4 (em uma escala que vai até 5). Também contava com vários comentários favoráveis à prática da tortura.
"Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam instalar a opção de açoitar o escravo também. Mas fora isso, o jogo é perfeito", escreveu um usuário.
"Muito bom mesmo, retrata bem o que eu gostaria de fazer na vida real", afirmou outro.
Em posicionamento enviado na quarta (24) após a remoção do jogo, o Google afirmou que não permite aplicativos "que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas".
"Qualquer pessoa que acredite ter encontrado um aplicativo que esteja em desacordo com as nossas regras pode fazer uma denúncia. Quando identificamos uma violação de política, tomamos as ações devidas", acrescentou o Google.
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