SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A 31ª Marcha para Jesus foi realizada nesta quinta-feira (8), feriado de Corpus Christi, saindo da estação Tiradentes do metrô, na região central de São Paulo, e percorrendo 3,5 km até a praça Heróis da Força Expedicionária, em Santana, na zona norte, onde foi montado um gigantesco palco.

A identificação dos evangélicos ocorreu por meio das letras das músicas gospel, que "refletem o momento de vida e a situação da nação", diz a bancária Mayara Lara, 24. "Não tem nada a ver com política, mas com a esperança que Jesus nos traz depois de tantas perdas que nossas famílias sofreram na pandemia", explica a jovem.

Apesar desse discurso, a menção ao nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gerou uma vaia coletiva na marcha. O petista não estava lá, mas foi representado por seu ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias.

Ele foi apresentado pelo apóstolo Estevam Hernandes, idealizador do que chama de "ato profético", como diácono da Igreja Batista. A também evangélica Benedita da Silva, deputada pelo PT fluminense, também estava no palco.

Mais cedo, à Folha de S.Paulo, o apóstolo disse acreditar que, se Lula viesse, seria recebido "com carinho". Afirmou ainda que até poderia haver algum protesto, mas nada grande. E se houvesse ele instruiria o público a orar por autoridades constituídas, como manda a Bíblia.

Lula enviou uma carta a Hernandes para avisar que não iria, mas exaltando a "extraordinária expressão de fé" da Marcha. O líder evangélico, que em 2018 e 2022 apoiou Jair Bolsonaro (PL), gostou da iniciativa.

Messias só foi vaiado ao dizer que levava um recado em nome do presidente. "Vim aqui dizer pra vocês, a pedido do presidente, dizer que em Brasília existem homens e mulheres que vivem pro Reino." E mais: "Estamos lá levantados por Deus pra cumprir um propósito".

Ao falar de novo sobre o presidente, a vaia engrossou. Hernandes, então, interveio. O apóstolo pediu para que todos orassem pelas autoridades constituídas na nação. E Messias encerrou o discurso.

Messias reconheceu, na saída do evento, que nas igrejas persiste uma resistência à esquerda e ao PT. "Há ainda uma parte dos evangélicos distante de nós, mas a gente só consegue superar tudo isso vindo, se colocando à disposição do povo, conversando", disse à reportagem. Agora, afirmou, "é insistir".

"Viemos com o coração aberto. Estamos dispostos a construir um novo tempo, porque o nosso povo precisa de paz."

Outro político que também marcou presença na marcha foi o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Diante da multidão de evangélicos, ele fez discurso e "profecia" na tarde desta quinta.

Ao contrário das vaias no momento em que o ministro da AGU citou o presidente Lula (PT), o governador foi bastante aplaudido pelos evangélicos. Ele chegou a se ajoelhar no palco com as mãos para o alto em sinal de oração.

Os aplausos ocorreram conforme pastores e apresentadores pediam à multidão que, em geral, se comportou de forma respeitosa enquanto o governador falava --ou orava.

Em cima do palco, o apóstolo Estevam Hernandes disse: "Tarcísio, eu te amo". No final, o governador "anunciou uma profecia" para o público. "Essa é a grande palavra profética de hoje, que Deus vai abençoar a casa de vocês, o projeto de vocês, e São Paulo", afirmou o governador.

A cerca de 50 metros do palco, parte do público aproveitou o intervalo nos shows musicais para ir ao banheiro ou se alimentar, enquanto o governador falava.

Único a vaiar, no trecho de onde a Folha acompanhou, o motorista Thiago Costa, 36, fez um L com os dedos quando Tarcísio foi anunciado.

"A marcha não é para Jesus? Acho que esses políticos não deveriam estar aqui. Eu sou Lula, não vim aqui para ver esses caras que não estão nem ligando para os pobres", disse Costa, que pela primeira vez estava no evento.

Com uma das mãos timidamente erguida durante a oração feita para o governador, a analista de programas de computador Michele Souza, 26, também relatou desconforto com a presença do político.

"Estou aqui pela adoração, que é a parte boa. Acho que não deveria abrir esses espaços para políticos, até porque Deus não divide a sua glória."

Já o analista de obras Maurício Marinho, 41, considerou positiva a presença de Tarcísio, acompanhado até mesmo a leitura de um trecho da Bíblia que o governador fez.

"Acho muito importante demonstrar que a fé está em todos os segmentos da sociedade", disse. "A política não é o principal, estamos aqui pela fé", disse.

Então presidente, Jair Bolsonaro (PL) esteve nas edições de 2019 e 2022, sendo o primeiro chefe do Palácio do Planalto a ir na Marcha. Não apareceu nesta. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), em viagem, não compareceu.

Alguns participantes do evento que usavam a camisa amarela, que se tornou uma espécie de símbolo dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmaram à Folha diversas razões para o traje, nenhuma relacionada com a política.

"Eu uso a camisa da seleção porque gosto, comprei na Copa", contou o assistente administrativo Gustavo Jaques, 31. "Eu sei que na época da campanha tinha muita gente usando para apoiar o candidato [à reeleição Jair Bolsonaro], mas não é minha intenção. Sou evangélico há 12 anos e acredito que esse é um momento especial, que representa a união dos vários ministérios evangélicos para agradecer a Deus por estarmos aqui, ainda vivos, após a pandemia."

Também vestida com a camiseta da seleção, a advogada Amanda de Souza, 31, demonstrou alívio ao poder usar as cores da bandeira sem que isso significasse apoiar algum político. "Graças a Deus isso passou", disse.

"Quase todos os brasileiros têm um time e a seleção representa todos, então a camisa é um símbolo de união do país por Deus, não por Bolsonaro ou qualquer outro político", prossegue Amanda.

"Há muitos políticos que possuem religião e nós achamos legal ele [Bolsonaro] ser cristão, mas é só mais uma pessoa no meio de tantas outras", afirmou.

Em estimativa por volta das 15h, a Polícia Militar estimou que naquele momento, considerado o pico até então, havia 300 mil pessoas no evento.


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