SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A família do garçom Filipe do Nascimento, 22, afirma que ele foi assassinado por policiais militares após ser retirado do barraco onde morava em Morrinhos 4, favela de Guarujá, no litoral paulista, onde desde a semana passada ocorre uma megaoperação em resposta à morte de um agente da Rota (tropa de elite da PM).

O corpo foi entregue ao IML (Instituto Médico Legal) sem identificação e reconhecido pela esposa na manhã desta quarta-feira (2). Procurada sobre o caso, a Secretaria da Segurança Pública não respondeu até a publicação deste texto.

A esposa do garçom relata ter ouvido das filhas, de 7 e 9 anos, que Nascimento estava dentro de casa por volta das 20h de segunda-feira (31) quando um PM abriu a porta, perguntou se ele tinha "coisas erradas" guardadas em casa e se usava drogas. As filhas disseram que não e contaram que ele foi levado por policiais para fora de casa.

Moradores contaram à mulher de Nascimento que viram um homem negro e alto usando um casaco preto da Lacoste ser levado para um barraco de madeira por policiais. Relataram ter ouvido três tiros.

A esposa de Nascimento estava fora de casa, e a rua foi bloqueada sem que ela pudesse voltar para o barraco. A mulher conta que viu a própria bicicleta ser jogada no mato por um PM. Ela disse que questionou o policial, afirmando escutando que a bicicleta era dela, e ouviu que não deveria estar na rua.

Nascimento, que nasceu em Palmares, em Pernambuco, estava casado havia um ano e dois meses. Ele trabalhava em uma barraca na praia das Astúrias. O dono da barraca, seu chefe, acompanhava a viúva.

Um boletim de ocorrência registrado na delegacia de Guarujá conta que três policiais andavam de um lado de uma rua de Morrinhos e dois de outro lado. Um PM contou em depoimento que, próximo a uma escada da favela, um homem teria saído de um barraco e disparado quatro tiros contra os policiais.

Ele disse ter dado tiros de fuzil em direção ao agressor, que caiu. O policial afirmou, segundo o documento, que em seguida viu um homem saindo pela janela de um barraco e que os agentes o perseguiram e trocaram tiros com ele em outro local.

A esposa de Nascimento diz que foi à delegacia e deu o nome do marido, mas ouviu que ele não havia sido morto pela polícia. Ela conta ter ouvido também que havia um morto sem identificação na operação em Morrinhos, e que ela deveria procurá-lo no IML de Praia Grande -o único que tem feito necropsias em toda a Baixada Santista. Após ela ter encontrado o corpo, ele foi liberado na manhã desta quarta.

GOVERNO VEM NEGANDO TORTURA E ABUSOS NA OPERAÇÃO

Diante de denúncias de possíveis abusos cometidos por agentes de segurança em comunidades de Guarujá e Santos durante a operação Escudo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nega excessos e defende a atuação da PM. "Não existe combate ao crime organizado sem efeito colateral", disse Tarcísio em entrevista coletiva nesta terça (1º).

O governador disse ainda que a gestão tem sido transparente na condução da operação, e que as imagens das câmeras corporais dos agentes serão utilizadas para investigar eventuais abusos. "A gente não vai se furtar a investigar nada. Se houver excesso, se houver falha, nos vamos punir os responsáveis."

Nesta quarta (2), em Brasília, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, voltou a rechaçar a hipótese de ter havido tortura ou que pessoas tenham sido executadas na operação.

"Não passa de narrativa. Eu não estou querendo politizar ou polemizar, estou respondendo. Essas narrativas de que houve tortura, de que foram executados. Todos os exames do Instituto Médico Legal, as necropsias não apontam nenhum sinal de violência, muito menos de tortura", afirmou Derrite.

"É um documento oficial. Então, senhores, o que existe é pela primeira vez no estado de São Paulo um governador que tem coragem de enfrentar o crime organizado", continuou o secretário em sessão da CPI do MST.


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