Segundo a vereadora do Rio, Monica Cunha, a manifestação é a forma como os familiares se protegem e cobram justiça. “Essa é a forma que a gente anda de fuzil, total diferente do governador, que entra nas nossas favelas, com funcionários que são pagos por eles com nossos impostos, empunhando fuzil e matando os nossos, sempre nossos homens e nossas crianças pretas”, diz.
Cunha é mãe de Rafael da Silva Cunha, assassinado no dia 5 de dezembro de 2006, aos 20 anos. Ela é fundadora do Movimento Moleque em 2003 para agir contra violações do sistema socioeducativo. “Aqui o que a gente tem é racismo contra o povo pobre e preto, porque se fosse pena de morte, seria qualquer um. Mas não é qualquer um, aqui tem uma linha, tem uma cor, tem um CEP, preto, pobre, favelado e jovem.”
Márcia Jacinto, mãe de Hanry Silva Gomes de Siqueira, de 16 anos, morto em 2002 com um tiro no peito, também pede justiça. “Eu vivia minha vida, casa, escola, igreja, eu sabia o filho que eu tinha em casa. Quando eu dormi e ele não estava em casa, meu coração já começou a palpitar. Eu já acordei assustada, porque eu tinha ido para o hospital com a minha neta, eu cheguei tão cansada. Eu escutei os tiros, mas eu não podia imaginar que um daqueles tiros ia ser certeiro a queima roupa no coração do meu filho.”
Jacinto estudou por conta própria e cuidou ela mesma da investigação da morte do filho, para a qual ainda aguarda justiça. “Se nós mães não fazemos o que nós fazemos, nossos filhos iam morrer como bala perdida ou como traficante, e a gente chorando, porque a gente é pobre, não tem dinheiro para pagar um bom advogado.”
Sônia Bonfim também aguarda justiça. O filho Samuel Vicente, de 17 anos e o marido, William Vasconcelos da Silva foram mortos em 2021, em Anchieta, zona Norte do Rio de Janeiro, durante uma ação da Polícia Militar. Eles levavam a namorada de Samuel à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Samuel era aluno da escola da Polícia Militar em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
“Mês que vem vai fazer dois anos que meu filho foi assassinado. Meu filho e meu marido, e até agora resposta nenhuma, não tem resposta nenhuma, não fizeram perícia no local, ainda não virou processo, ainda está como inquérito sigiloso. Meu filho é estudante da escola da PM em São Gonçalo”, diz e acrescenta: “O próprio órgão que era para nos proteger, nos mata, é muito difícil”.
O governo do estado foi procurado pela Agência Brasil, mas não se posicionou até o fechamento da matéria.
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