SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Motoristas e cobradores de ônibus que transitam diariamente pela avenida Rio Branco, nas proximidades da cracolândia, no centro de São Paulo, relatam uma rotina de medo, apreensão e tensão com a recente escalada da violência na região.

A situação fez o lugar ganhar o apelido de Faixa de Gaza, área no Oriente Médio marcada por conflitos entre palestinos e israelenses.

Segundo o SindMotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo), as ações de dependentes químicos contra os coletivos, como ataques com paus e pedras, além de ameaças, fez com que cerca de 20 funcionários procurassem delegados e inspetores da entidade nos últimos 30 dias para solicitar troca de linha.

Foi na avenida Rio Branco que um ônibus foi atingido por uma bala perdida no último dia 18 ?a ação de um policial civil de folga contra supostos assaltantes também deixou um suspeito e um pedestre baleados. Em outras ocasiões, coletivos já tiveram vidros e retrovisores quebrados por usuários de drogas.

Atualmente, no período da noite e início da manhã, os dependentes químicos têm se aglomerado na rua dos Gusmões, em local próximo à avenida Rio Branco. Quando há muita gente reunida, eles chegam a bloquear, no sentido bairro, uma das faixas da avenida junto ao meio-fio, além de trechos do canteiro central.

Motoristas e cobradores dizem que a tensão na região da cracolândia é contínua, e que a situação piora quando há ação da guarda-civil ou das polícias contra os usuários, que acabam se dispersando pelas ruas do centro.

A reportagem esteve na última quinta-feira (24) no largo do Paissandu e na praça do Correio, locais em que ônibus que partem da zona norte e transitam pela avenida Rio Branco fazem ponto final, para conversar com funcionários do sistema de transporte. Com medo de retaliação por parte das empresas, eles pediram anonimato, mas confirmaram tensão e medo diários.

Um motorista de 57 anos que trabalha há mais de três décadas em linhas que atendem o centro afirma que este é o pior momento da região. Ele diz que as cenas de violência o fazem pensar em parar de trabalhar.

Uma cobradora de 37 anos relata que tem medo de passar pela avenida Rio Branco, principalmente quando os dependentes químicos entram nos ônibus. Ela diz, contudo, que prefere continuar trabalhando na linha, uma vez que conhece o percurso.

O medo é trocar de linha e trafegar, por exemplo, por uma região que sofra com assaltos ou que seja próxima de bailes funk. Caso de um cobrador de 62 anos que há 30 anos trabalha em linhas com passagem pelo centro de São Paulo. Ele também usa a palavra medo para se referir à avenida Rio Branco.

Já um motorista de 44 anos diz que seu principal temor são as pedras atiradas pelos usuários, que podem acertar passageiros sob sua responsabilidade.

Fiscais ouvidos pela reportagem dizem que não é fácil ter um pedido de troca de linha atendido. Para isso é necessário que exista vaga em outro trajeto ou que se faça permuta entre funcionários. Outro caminho é fazer um pedido via sindicato para a empresa.

Um condutor de 48 anos que há 16 anos trabalha no entorno da praça Princesa Isabel afirma que transportar passageiros pela cracolândia é arriscado, principalmente quando os usuários invadem os veículos para roubar bolsas e celulares ou quando atiram pedras. Diante de tudo que já presenciou, ele diz que se sente em meio ao fogo cruzado.

Segundo a SPTrans, 22 ônibus foram depredados na região da cracolândia entre janeiro e agosto.

O órgão afirma que mantém contato com a Polícia Militar para que sejam registradas no setor de inteligência todas as ocorrências com violência no transporte coletivo.

O SPUrbanuss (sindicato patronal) diz não receber os registros de ocorrências das empresas operadoras associadas. De acordo com a entidade, os problemas na cracolândia são caso de segurança pública.


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