CURITIBA, PR E LAJEADO, RS (FOLHAPRESS) - O caso de Miguel Rutigliano, 36, comoveu os voluntários do Parque do Imigrante, um dos abrigos para os moradores de Lajeado, no Rio Grande do Sul, que precisaram deixar suas casas invadidas pela água da chuva.

Nesta quarta-feira (6), ele era atendido pelo psicólogo que tentava convencê-lo a não voltar por conta própria ao local onde a esposa, Ariel, 26, e seus dois filhos, Yasmin, de 1 ano e 9 meses, e Miguel, de 3 meses, foram levados pela enxurrada.

Ele se mudou para o Conserva, em Lajeado, há apenas três semanas. Nesta terça (5), viu a água invadir sua casa por volta das 4h50 e contatou a Guarda Municipal, que prometeu resgate em breve.

Por volta das 17h, a família aguardava no telhado quando a casa foi levada pela força da água. Miguel perdeu a consciência e a família de vista.

Enquanto aguardavam no telhado, dois barcos passaram pelo local e ignoraram os pedidos de socorro da família. Miguel foi resgatado preso em galhos e não tem esperança de encontrar a família com vida.

"Eu só me salvei porque fiquei preso. É impossível dois bebês terem se salvado. Perdi tudo, mas eu vou encontrá-los e dar um enterro digno. Se não me levarem eu vou sozinho", diz.

Assim como Miguel, cerca de 300 pessoas estão abrigadas no Parque do Imigrante.

O governo do Rio Grande do Sul confirmou nesta quarta mais dez vítimas da enchente que atingiu o estado. Assim, o total de mortes em decorrência das chuvas de segunda (4) subiu para 31 no total.

São mais duas mortes em Roca Sales, uma em Lajeado e uma em Estrela. A informação foi passada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) durante entrevista à imprensa na cidade de Lajeado. Mais cedo, ainda nesta quarta, a Defesa Civil já havia confirmado seis mortes em Roca Sales.

As três cidades pertencem ao Vale do Taquari, na região central do estado, e a mais afetada pelas fortes chuvas de segunda. Com o volume das chuvas, o rio Taquari transbordou e atingiu imóveis e estradas.

A maior preocupação da Defesa Civil do RS é com a situação dos municípios de Roca Sales e Muçum. Conforme as autoridades, o acesso ao primeiro só é possível por estradas vicinais. Relatos do local dizem que o cenário é de devastação, com 80% da cidade destruída e pessoas em estado de choque.

Muçum está totalmente inacessível por terra. Os dois municípios estão sem fornecimento de água e luz e há dificuldade em se comunicar por telefone ou internet.

Conforme a Defesa Civil de Lajeado, 22 corpos aguardam em um caminhão frigorífico no Parque do Imigrante para serem levados até Porto Alegre pelo Instituto-Geral de Perícias. A maior parte deles vindos de Muçum.

Mais três aeronaves devem reforçar o trabalho de resgate de moradores nas regiões mais afetadas. De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, estão sendo aguardadas aeronaves dos governos de Santa Catarina e do Paraná e também do Exército.

Na manhã desta quarta, seis aeronaves já operam nos resgates, incluindo uma da Aeronáutica e outra da Marinha. Também há aeronaves do Corpo de Bombeiros, da Brigada Militar, da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal.

No início da noite de terça-feira (5), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), havia pedido ao governo federal que mais aeronaves pudessem atuar no resgate dos moradores. "A noite chegou, a temperatura caiu e há pessoas aguardando por socorro ao ar livre", escreveu ele.

Com as casas invadidas pela água, o resgate tem sido feito pelo telhado. Os moradores resgatados estão sendo levados para abrigos organizados pelos municípios.

Na manhã desta quarta, Leite sobrevoou a região junto com representantes do governo federal, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, e o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. Eles passaram pelos municípios de Muçum, Roca Sales, Encantado e Santa Teresa.

Folhapress - Divulgação / Brigada Militar

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